62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
VOZES FEMININAS NO ROMANCE D. NARCISA DE VILLAR - O LUGAR DA MULHER NAS HISTÓRIAS LITERÁRIAS BRASILEIRAS
Paulo José Valente Barata 1
Germana Maria Araújo Sales 1
1. Universidade Federal do Pará
INTRODUÇÃO:
Este trabalho revisita o romance D. Narcisa de Villar (1859), de autoria de Ana Luísa de Azevedo Castro, e tem como objetivo observar a construção da narrativa, a partir da voz feminina que relata uma lenda do tempo colonial. Mãe Micaela conta ao leitor a história de uma jovem que subverte o lugar que lhe fora destinado e, por meio de peripécias e estratagemas, busca sua felicidade, fugindo com seu grande amor, Leonardo, para escapar, desse modo, ao destino imposto pelos irmãos. Diante dessa narrativa observamos ainda de que forma uma mulher, em pleno cenário patriarcal da sociedade burguesa no século XIX impõe sua personalidade, ainda que tal atitude lhe custe a vida.
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada a leitura atenta do romance, na busca pelas marcas da voz feminina nele presentes e os modos engendrados por Narcisa para se desvencilhar de seus algozes - os irmãos - que tentam forçá-la a um destino por ela renegado. Para uma mais clara compreensão da posição da mulher no contexto de produção do romance, recorreu-se às histórias literárias, a saber; História Concisa da Literatura Brasileira, de A. Bosi; Formação da Literatura Brasileira, de A. Candido; A Literatura Brasileira, de A. Coutinho; A Literatura Brasileira, de A. Castello; na busca de qual parcela/porcentagem dessas histórias afere algum espaço às mulheres escritoras no XIX, e qual delas, ao menos cita Ana Luísa de Azevedo Castro e o romance D. Narcisa de Villar.
RESULTADOS:
A partir da análise da obra percebemos uma narradora que participa da história, tomando partido dos mocinhos em detrimento de seus algozes, emite juízos de valores e até torce por um final feliz, apesar de já saber o fim trágico dos protagonistas. De um modo geral, há um perfeito enquadramento aos moldes de produção romântica, seja nas descrições das personagens, seja nos atos e nas peripécias pelas quais passa a narrativa. No entanto, apesar de se enquadrar à estética romântica e poder, perfeitamente, representar sua mais digna reprodução, nem o livro, nem a autora são ao menos citados pelas histórias literárias pesquisadas. Há, também, a total ausência de qualquer escritora nesses manuais literários. Os dados da pesquisa mostram que para A. Bosi e A. Castello há 24 grandes nomes para o Romantismo brasileiro, enquanto que para A. Coutinho há 14 e para A. Candido há 11 e, dentre esses, nenhuma mulher, passando a falsa impressão de que não havia produção feminina no Romantismo brasileiro.
CONCLUSÃO:
Conforme fica patente na apresentação dos resultados e discussões, a figura da mulher até se faz presente nas histórias literárias, e é muitas vezes citadas, porém, sempre ocupando o lugar de leitora, pertencente a um público leitor em formação, sem jamais ser feita menção alguma ao fato de que mulheres também produziam - e muito - no período do Romantismo brasileiro. Fato do qual fica a [falsa] impressão de que foi pouca ou inexistente a presença feminina nas letras do XIX. No entanto, em um estudo mais detido, verificamos que parco é o espaço a elas destinado pelas histórias literárias, enquanto que sua presença na escrita oitocentista se dá de forma significativa. Só para se ter uma ideia, no livro Escritoras Brasileiras no século XIX, editado pela organizado por Zahidé Lupinacci Muzzart, é-nos apresentado um panorama com 51 escritoras preteridas pelo cânone, dentre elas Ana Luísa Castro. Em outra obra grandiosa, História das mulheres no Brasil, no capítulo Escritoras, escritas, escrituras, assinado por Norma Telles, a autora cita mais 14 escritoras do mesmo período. Se nos detivéssemos a buscar em outras fontes, novos nomes, sem dúvida, surgiriam, levando por terra a teoria de que poucas eram as "mocinhas românticas" que se aventuram no ofício da pena.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Romantismo brasileiro , Escrita feminina , D. Narcisa de Villar .