Há muito tempo às ervas medicinais são utilizadas para fins curativos, principalmente em zonas rurais, pois essas áreas apresentam uma maior carência no atendimento médico. Mesmo com o avanço tecnológico a fitoterapia não deixou de se expandir e atualmente várias ervas vêem sendo estudadas cientificamente, com o intuito de provar o seu poder na cura de doenças. O uso indiscriminado da fitoterapia de uma maneira leiga quanto às dosagens corretas, efeitos colaterais e muitas vezes até com finalidades errôneas, acaba por oferecer resultados diferentes dos desejados. Diante de tais achados surge à necessidade de orientação sobre a forma correta do emprego das plantas medicinais, podendo ser realizada pelos profissionais da comunidade, por conhecerem melhor a realidade local e ter uma maior ligação com a população.

Foi utilizado a TIPESC- Teoria de Intervenção Práxica de Enfermagem na Saúde Coletiva, que propõe uma forma sistematizada para captar, interpretar e intervir no processo saúde-doença, tendo em vista a avaliação das dimensões singular, particular e estrutural da comunidade. Possibilitando assim, que as questões relativas a esse processo possam se relacionar com o contexto social e histórico que as determinou. Essa teoria é composta dos seguintes passos: captação da realidade, interpretação, intervenção e re-interpretação da realidade. Para essa pesquisa utilizaram-se apenas os dois primeiros passos uma vez que não era objetivo intervir na realidade da Micro-área 12, do Bairro Santo Antônio localizado no município de Mossoró/RN. A captação deu-se através de visitas e aplicação direta de questionários com perguntas sobre as dimensões a serem avaliadas (classe social, renda familiar, idade, escolaridade, adoecimentos mais freqüentes, bens e serviços mais utilizados), bem como, aferição do uso e conhecimento da população a cerca das principais plantas utilizadas.

O cruzamento de dados entre a renda mensal, variante de menos de um salário mínimo até cinco salários mínimos, com a utilização de remédios caseiros, e com o objetivo de analisar a utilização das ervas com o poder aquisitivo das famílias, mostrou que o uso de plantas medicinais não é tão intenso na micro-área. Mesmo acreditando no poder das plantas, a comunidade está condicionada a utilizar remédios alopáticos, pois não tem nenhuma instrução sobre os efeitos colaterais, as contra-indicações e os benefícios da utilização do modelo fitoterápico. Foi procurado enfatizar a questão do aborto provocado por várias vertentes, entre elas, constatamos o aborto causado pelo uso empírico das ervas medicinais. Na análise sócio-antropológica detectamos a banalidade de várias pessoas em relação a pratica do aborto e ao uso excessivo de ervas coagulantes como a "babosa". Além de mostrar que a crença em relação às ervas medicinais necessariamente não precisa ter uma ligação direta com a renda de cada família, demonstrando através de números reais, que o uso de fitoterápico tem uma maior relação cultural, já que estes ensinamentos são passados de forma oral.

A fitoterapia é um método que nos permite a utilização das propriedades curativas das plantas. Sendo importante o conhecimento dessas ervas e seus princípios ativos, sabendo assim para qual fim deve ser utilizado. Assim visa resgatar o saber popular com a preocupação de atrelar ao saber científico para uma maior eficácia da medicina fitoterápica. A pesquisa apresentada mostra a importância da educação popular em saúde nas diversidades étnicas e culturais de uma comunidade. As estratégias de atenção a saúde baseiam-se no reconhecimento do território, na análise singular, estrutural e particular de reprodução dos indivíduos. A interação com a comunidade comprova que a experiência prática ensina de maneira eficaz como o reconhecimento do território e a capacitação do profissional de saúde para "educar" e tomar consciência de que a população precisa de uma melhor conscientização ao uso adequado de fitoterápicos pode ser realizada através de estratégias fundamentadas nos conhecimentos culturais e sociais de uma determinada comunidade.