62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
PARTIÇÃO GEOQUÍMICA DO HG NO GRADIENTE FLUVIOMARINHO DO RIO JAGUARIBE - CE
Talita Cristiane Maia Soares 1
Luiz Drude de Lacerda 1
1. Instituto de Ciências do Mar - Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO:
Os ambientes costeiros são sistemas complexos e muito dinâmicos devido ao forte gradiente de salinidade, pH, composição química da água, grande variação de concentração do material em suspensão e complexos processos hidrodinâmicos. Eles atuam na ligação entre o ambiente terrestre e oceânico e no controle da transferência de metais pesados presentes nas águas fluviais para as águas oceânicas podendo causar a deposição do metal associado ao material em suspensão ou liberação desse metal, o que modifica completamente a disponibilidade dele para o meio. O Hg é um elemento presente naturalmente, mas também pode entrar via contaminação, na água, na biota, na crosta terrestre e na atmosfera estando associado a diferentes compostos dissolvidos e em suspensão no ambiente aquático. Neste ambiente pode sofrer diversos processos, entre eles sorção/desorção, associados a características físico-químicas como pH, teor de carbono orgânico dissolvido, total de sólidos em suspensão, temperatura e atividade biológica, espécie esta que apresenta risco potencial aos seres vivos. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi analisar a partição química do Hg ao longo do Estuário do Rio Jaguaribe, na Pluma Estuarina e na Plataforma Continental adjacente.
METODOLOGIA:
A amostragem foi realizada em dois pontos do Estuário do Rio Jaguaribe (Aracati- CE região com maior influência fluvial e em Fortim- CE região com maior influência marinha, na Pluma Estuarina (PE) e na Plataforma Continental (PC). As amostras foram coletadas e armazenadas em garrafas PET e mantidas sob refrigeração até o momento da análise. No laboratório, as amostras foram filtradas em filtros de microfibra de vidro Whatman GF/F, previamente queimados a 450 ºC. O filtrado foi analisado para a fração de Hg total dissolvido (Hg-D), a partir da adição de 7 ml de HCl (4N), previamente destilado por difusão, além de 1,0 ml de uma solução de KBrO3/KBr em 40 ml da amostra e 25μL de hidroxilamina, a fim de reduzir o bromato formado e evitar a supressão do sinal de detecção do aparelho, e o filtro foi analisado para a fração Hg particulado (Hg-P), pela adição de 20ml de água régua 50% (H2O:HCl:HNO3; 4:1:3), aquecidas em Banho-Maria (70º C) por uma hora. A determinação de Hg foi feita por espectroscopia de fluorescência atômica, utilizando a técnica de geração de vapor a frio, no equipamento PSA Millennium Merlin 10.025. Os teores de TSS foram obtidos por gravimetria.
RESULTADOS:
A concentração média de Hg-D em Aracati foi 10,1 ± 2,5 ng/L, em Fortim foi < L.D (0,3 ng/L), na PE foi 5,0 ± 4,1 ng/L e na PC também foi < L.D (0,46 ng/L), mas percebe-se uma tendência decrescente dessa forma de Hg, do Estuário para a PC. Para o Hg-P a média em Aracati foi 20,2 ± 6,1 ng/L, em Fortim foi 53,3 ± 34,8 ng/L, na PE foi 126,6 ± 36,5 ng/L e na PC foi 5,3 ± 1,7 ng/L. Para o TSS a concentração média em Aracati foi 72,3 ± 3,5 mg/L, em Fortim foi 70,0 ± 11,1 mg/L, na PE foi 39,7 ± 14,5 mg/L e na PC foi 20,3 ± 3,1 mg/L, ao contrário do Hg-P, pode-se perceber uma redução do TSS ao longo do Estuário para a PC. Os valores de Kd (coeficiente de partição) calculados para Aracatí e para a PE foram de 5x10-4 e de 4x10-5 Kg.L-1 respectivamente, o que caracterizam processos de sorção/desorção. A principal fonte de Hg-D é a área com maior influência fluvial. Para o Hg-P as maiores concentrações foram encontradas na PE, mas essa maior concentração não está associada a nenhuma fonte, mas aos processos internos da PE. Está ocorrendo uma sorção do Hg-D para as partículas em suspensão, explicado pelos valores de Kd.
CONCLUSÃO:
Os resultados sugerem que está ocorrendo um aumento da concentração de Hg no TSS da Pluma Estuarina, pois o Hg-D, proveniente da região de maior influência fluvial, pode sofrer processos de sorção às partículas em suspensão da Pluma Estuarina, ou seja, a partição química do Hg está sendo alterada. Essas partículas provavelmente depositam antes de chegar à Plataforma Continental, já que a concentração de Hg-P da Plataforma Continental é bem menor que a concentração de Hg-P da Pluma Estuarina.
Instituição de Fomento: CNPq / INCT - TMCOcean
Palavras-chave: Partição geoquímica, Sólidos em suspensão , Mercúrio.