62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
ESTUDO DA POSSÍVEL CORRELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE ANSIEDADE‑TRAÇO E ANSIEDADE-ESTADO EM VOLUNTÁRIOS SAUDÁVEIS
Tiago Costa Goes 1
Flavia Teixeira Silva 1
1. Departamento de Fisiologia - UFS
INTRODUÇÃO:

No estudo da ansiedade, encontram-se dois conceitos distintos: a ansiedade-estado e a ansiedade-traço. A primeira é uma emoção que o indivíduo experimenta quando confrontado com um estímulo ameaçador, já a segunda é uma disposição pessoal a ver o mundo como mais perigoso. Acredita-se que indivíduos com os mais altos níveis de ansiedade-traço apresentem os mais altos níveis de ansiedade-estado, numa situação de perigo. Contudo, evidências apontam para a ausência deste fenômeno em animais de laboratório, levando a duas hipóteses: 1) os modelos animais utilizados não medem o que se propõem; 2) há diferentes suscetibilidades a diferentes situações de ameaça entre indivíduos com o mesmo grau de ansiedade-traço, ou seja, a associação entre ansiedade-traço e -estado não é uma correlação linear. À luz dos diversos transtornos ansiosos descritos no DSM, a segunda hipótese parece provável. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a correlação entre os níveis de ansiedade-traço e -estado em humanos saudáveis, submetidos a um modelo experimental de indução de ansiedade.

METODOLOGIA:

Trinta voluntários saudáveis, com diferentes níveis de ansiedade-traço (Inventário de Ansiedade Traço-Estado - IDATE-T/E e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão - HAD-A/D) e de suscetibilidade à ansiedade social (Inventário de Fobia Social - SPIN), foram expostos à situação ansiogênica do Teste de Stroop Filmado (TSF). Antes, durante e depois dessa exposição, foram avaliados níveis de ansiedade‑estado (IDATE-E), níveis subjetivos de tensão (Escala Analógica de Tensão - EAT), freqüência cardíaca e eletromiograma de gastrocnêmio, cujos valores foram confrontados com os do IDATE-T, da HAD-A/D e do SPIN, através de estudo correlacional.

RESULTADOS:

O Teste de Correlação de Pearson revelou correlações moderadas (0,50 < r < 0,75; p < 0,05) antes do teste, entre: 1) IDATE-T e IDATE‑E; 2) HAD-A e IDATE-E; e 3) HAD-D e EAT.  Já durante o teste foram encontradas correlações moderadas entre: 1) IDATE-T e IDATE-E; 2) IDATE-T e EAT; 3) HAD-A e IDATE-E; 4) HAD-A e EAT; 5) SPIN e IDATE-E; 6) SPIN e EAT; 7) HAD-D e IDATE-E; e 8) HAD-D e EAT.  Depois do teste, as correlações foram moderadas entre: 1) IDATE-T e IDATE-E; 2) HAD-A e IDATE-E; e 3) SPIN e IDATE‑E. Não foram observadas correlações entre IDATE‑T, HAD-A/D ou SPIN e os parâmetros fisiológicos, em momento algum da tarefa. A ansiedade apresentada antes do teste está relacionada à preocupação antecipatória em relação ao desconhecido.  Enquanto que a ansiedade apresentada durante a tarefa deve-se ao caráter ansiogênico do teste, onde o indivíduo encontra-se sob apreciação alheia.  E, finalmente, o que é observado depois do teste representa a involução da resposta ansiosa.  Assim sendo, os resultados demonstram que, de maneira geral, quanto maior a ansiedade‑traço, maiores são os níveis de ansiedade-estado antecipatória e reativa, e mais lenta é a recuperação do sujeito.

CONCLUSÃO:

O presente trabalho revelou que há uma tendência moderada de os indivíduos com mais alto traço ansioso apresentarem maiores níveis de ansiedade-estado, em reposta a uma ameaça.  No entanto, o grau da resposta ansiosa parece ser multifatorial, dependendo também do tipo de estímulo ameaçador, e da predisposição do indivíduo à ansiedade frente a esse estímulo. 

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: ansiedade-traço, ansiedade-estado, Teste de Stroop Filmado.