O peixe-prego, Ruvettus pretiosus (Cocco, 1829), pertencente à família Gempylidae, alcança um tamanho máximo de 3 m de comprimento total e peso máximo de 63,5 kg. É uma espécie mesopelágica encontrada nos oceanos tropicais e temperados em profundidades de 100 a 1.500 m, realizando migrações durante a noite para a superfície (NAKAMURA et al., 1993). Apresenta um elevado valor comercial, especialmente no mercado interno, sendo largamente consumido em restaurantes de culinária japonesa (WEIDNER et al., 1999). Os espécimes estudados no presente trabalho foram capturados por barcos de pesca pertencentes à frota comercial de Natal- RN que atuam nas proximidades do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, um grupo de pequenas ilhas rochosas localizadas a cerca de 1.100 km do litoral do Estado do Rio Grande do Norte. Embora estudos relacionados ao comportamento e à composição lipídica da carne do peixe-prego estejam largamente disponíveis, pouco tem sido publicado sobre a ecologia da espécie. O presente trabalho pretende contribuir para o preenchimento dessa lacuna, na expectativa de que as informações geradas possam conduzir a uma melhor compreensão do seu ciclo reprodutivo.

Todos os exemplares foram capturados com linha de mão, no período noturno, por barcos de pesca da frota comercial sediada em Natal-RN, que atuaram na circunvizinhança do ASPSP, entre janeiro de 2007 e setembro de 2009. Após o embarque, os indivíduos foram identificados e mensurados, obtendo-se o comprimento total (CT) e zoológico (CZ). Os mesmos foram então eviscerados, coletando-se as gônadas, as quais foram congeladas para análise posterior. Em laboratório, as mesmas foram pesadas, medidas (comprimento e largura), fixadas em formol a 10% e, após 48 horas, transferidas para uma solução de álcool a 70%. Os estágios de maturação gonadal foram determinados através de uma escala macroscópica de maturidade, como segue: imatura, início de maturação, final de maturação, madura, desovada e em repouso (OVCHINNIKOV, 1971). Para o cálculo do Índice Gonadossomático (IGS), foi utilizada a equação modificada proposta por Schaeffer & Orange (1956), representada abaixo: IGS = PG/ CT³ x 10⁵. Onde: PG = Peso da Gônada (g); CT = Comprimento Total (cm).

Foram analisados 376 exemplares, com CT variando de 79 a 175 cm, com uma moda na classe de comprimento entre 120 e 130 cm. Desse total, foram classificados macroscopicamente 313 ovários: 45 encontravam-se imaturos; 69 em maturação inicial; 27 em maturação final; 34 maduros; 98 desovados; e 40 em repouso. A distribuição mensal dos estágios de maturação indica uma maior ocorrência de fêmeas maduras em março e desovadas em setembro. As fêmeas em repouso só não ocorreram em dezembro e janeiro, enquanto as imaturas ocorreram em todos os meses, exceto março e outubro.

A fecundidade variou de 1.928.458, em uma fêmea com CZ de 136 cm, a 2.494.512 ovócitos, em um exemplar com CZ de 123 cm. A distribuição da freqüência dos diâmetros dos ovócitos foi, em geral, unimodal, caracterizando uma desova total. A distribuição do IGS médio por estágio de maturação exibiu o padrão esperado, aumentando gradualmente até o estágio maduro, a partir do qual a gônada regrediu.

Os resultados preliminares obtidos no presente trabalho permitem inferir que o R. pretiosus intensifica a sua atividade reprodutiva no primeiro trimestre do ano, de forma semelhante, portanto, aos resultados obtidos para outras espécies no mesmo local de estudo. Para uma melhor compreensão do ciclo anual da reprodução do peixe-prego no ASPSP, porém, é necessário se obter amostras referentes ao mês de fevereiro, havendo, por essa razão, a previsão de realização de mais duas expedições científicas ao Arquipélago.

NAKAMURA et al., 1993 . FAO species catalogue. Snake mackerels and cutlassfishes of the world (families Gempylidae and Trichiuridae). An annotated and illustrated catalogue of the snake mackerels, snoeks, escolars, gemfishes, sackfishes, domine, oilfish, cutlassfishes, scabbardfishes, hairtails, and frostfishes known to date. Syn., v. 15.

WEIDNER et al., 1999. South America: Atlantic, part A, section 2 (segment B) in Latin America World swordfish fisheries: An analysis of swordfish fisheries, market trends, and trade patterns, Vol. IV. National Marine Fisheries Service, 628 p., Silver Spring.

OVCHINNIKOV, V. V.. 1971. Swordfishes and billfishes in the Atlantic Ocean. Ecology and Functional Morphology. Atlantic Scientific Research Institute of fisheries and Oceanography.