62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
REVISITANDO MEMÓRIAS: HISTÓRIAS DA DITADURA MILITAR NO RIO GRANDE DO NORTE POR MEIO DE NARRATIVAS ORAIS
Gabriela Fernandes de Siqueira 1
Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira 2
1. Departamento de História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Professor Dr./Orientador - Departamento de História- UFRN
INTRODUÇÃO:
O golpe de Estado de 1964 iniciou uma fase da história contemporânea brasileira: a ditadura militar. O objetivo do trabalho "Revisitando Memórias:histórias da Ditadura Militar no Rio Grande do Norte por meio de narrativas orais" foi estudar as diferentes memórias que se constituíram sobre a ditadura no estado do RN, procurando compreender como esse período foi pensado por diferentes personagens que elaboraram concepções diversificadas sobre um mesmo acontecimento histórico. Para tal, foram realizadas, com auxílio da metodologia de história oral, algumas entrevistas com indivíduos que viveram nesse período. Foram selecionadas as entrevistas realizadas com Fernando Vanderlei Vargas da Silva e com Mery Medeiros da Silva. Atualmente ainda existe uma carência de bibliografia sobre esse período no RN. Assim, a utilização da história oral contribuiu para aumentar os estudos sobre esse período no estado, uma vez que permitiu a produção da própria fonte histórica. As entrevistas foram percebidas como expressões de práticas sociais por meio das quais os sujeitos se constituem historicamente. Este trabalho foi fruto de uma pesquisa realizada no período de 2008-2009, para o projeto "Memórias da Ditadura Militar no Rio Grande do Norte", financiado pela Propesq/UFRN.
METODOLOGIA:
Para desenvolvimento da pesquisa foram realizadas entrevistas com indivíduos que vivenciaram a ditadura militar. Usou-se a história oral como método, seguindo o modelo de história oral temática e respeitando as etapas fundamentais: pré-entrevista, entrevista e pós-entrevista. Inicialmente houve a leitura de bibliografia especializada, em seguida foram selecionados alguns indivíduos a serem entrevistados. Para esse trabalho foram selecionadas as entrevistas realizadas com Fernando Vanderlei Vargas (deputado estadual Fernando Mineiro) e com Mery Medeiros da Silva (membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos do RN). Essa escolha teve como critério traçar um paralelo entre como a memória sobre a ditadura foi construída por um indivíduo que viveu os anos ditatoriais mais repressivos, e como foi construída por um indivíduo que teve maior participação já no processo de Anistia. Os depoimentos foram transcritos e analisados. Para a realização das entrevistas utilizou-se um roteiro base, mas que sempre era alterado segundo a particularidade de atuação de cada entrevistado. Finalmente, foi utilizado o método comparativo, tendo como base o conceito de memória defendido por Le Goff, tentando estudar como diferentes memórias são construídas de acordo com as vivências de cada indivíduo.
RESULTADOS:
Os entrevistados discorreram sobre temas em comum (biografia, percepção sobre o Golpe de 1964, movimentos estudantis, entre outros), bem como sobre assuntos que eram levantados com base na atuação de cada. Durante a entrevista com Fernando Vanderlei, focou-se a participação em movimentos estudantis na década de 1970, a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT) no RN, durante a década de 1980, momentos em que o entrevistado possuiu maior participação, podendo discorrer com maior propriedade. Já durante a entrevista com Mery Medeiros, receberam maior destaque os temas: fundação das Ligas Camponesas no RN, percepção e atuação após o Golpe, prisões e repressões sofridas. Com a realização da pesquisa não se buscou uma verdade acabada, e sim diferentes versões de um mesmo acontecimento. Foi produzido um acervo com entrevistas em áudio e na versão impressa, que, posteriormente, será disponibilizado para pesquisa. Na pesquisa a memória foi tida como uma construção psíquica e intelectual que acarreta uma representação seletiva do passado. As representações reveladas com as entrevistas não foram somente as de um único indivíduo, e sim desse indivíduo influenciado pelo ambiente que está inserido, seu contexto familiar, social e nacional.
CONCLUSÃO:
A pesquisa apresentou um conjunto de memórias, revelando que um mesmo acontecimento histórico (no caso a Ditadura Militar no RN) pode gerar memórias diferenciadas. Essas memórias foram influenciadas por diversos fatores, demonstrando que memória é uma construção psíquica e intelectual influenciada pela experiência de vida de cada indivíduo. O tema ditadura militar é vasto, haja vista que se trata de uma parte de nossa história contemporânea que tem sido muito abafada, muitos arquivos foram apagados, e muitos ainda não são liberados para pesquisas. Assim, as fontes orais revelam-se fundamentais. Muitas testemunhas da história, ou seja, depoentes, estão vivos, e existe uma grande quantidade disposta a falar, a narrar, a expressar sua versão sobre aquele acontecimento. A produção de acervos sobre esse tema revela-se fundamental diante da carência bibliográfica dessa temática no nosso estado. Nesse sentido, o acervo que foi construído será essencial para possibilitar pesquisas futuras.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: Memória, História oral, Ditadura no RN.