62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
RELATO DE CASO: HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR EM PACIENTE COM ESQUISTOSSOMOSE HEPATOINTESTINAL
Veridiana Sales Barbosa de Souza 1
Rita de Cassia dos Santos Ferreira 2
Iana Rafaela Fernandes Sales 1
Adriane Borges Cabral 1
Ângela Pontes Bandeira 3
Ana Lúcia Coutinho Domingues 4
1. Lab. de Imunopatologia Keizo Asami - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
2. Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Recife (PE), Brasil.
3. Centro de Hipertensão Pulmonar do PROCAPE - Universidade de Pernambuco (UPE).
4. Ambulatório de Esquistossomose do Hospital das Clínicas - UFPE.
INTRODUÇÃO:

A esquistossomose é causada por trematódeos do gênero Schistosoma. No Brasil ocorre apenas a espécie S. mansoni e estima-se que há aproximadamente sete milhões de infectados, representando um grave problema de saúde pública. Cerca de 10% desses podem desenvolver doença grave, como a forma hepatoesplênica. Esta resulta da fibrose periportal (FPP) secundária à formação de granulomas em volta de ovos retidos nas vênulas portais intrahepáticas, levando à hipertensão portal. A doença pode afetar outros órgãos e o envolvimento pulmonar vai desde formas assintomáticas até manifestações graves como a hipertensão arterial pulmonar (HAP) que tem sido mais relatada em pacientes com a forma hepatoesplênica. A HAP é a doença mais grave da circulação pulmonar, causada pela proliferação e remodelamento de pequenas artérias pulmonares, resultando em aumento progressivo de resistência vascular pulmonar, insuficiência cardíaca direita e óbito. No Brasil, a esquistossomose mansônica é responsável por cerca de um terço dos casos de hipertensão pulmonar (HP). É relatado um caso de HAP em paciente com esquistossomose hepatointestinal.

METODOLOGIA:
RELATO DE CASO: Mulher, 51 anos, procedente de Recife-PE. Apresentava dispnéia em repouso e síncope ao esforço físico. Referia precordialgia, palpitações, dispnéia paroxística noturna, tontura e edema nas pernas. Negava etilismo, hemotranfusão, uso de anorexígenos e doenças prévias. Antecedente de tabagismo e banho de rio. Teve diagnóstico de HAP esquistossomótica há 21 anos. Ovos de Schistosoma mansoni nas fezes, com melhora após tratamento. Nos últimos 7 anos, piorou com dispnéia até repouso. Usou diltiazem, furosemida e digoxina. Exame físico: estado geral regular, turgência jugular a 45°, varizes e edema nas pernas, TA de 120/80mmHg, ritmo cardíaco regular, frequência cardíaca de 90bpm, P2 hiperfonética, sopro sistólico em foco tricúspide; ausência de hepatoesplenomegalia; IMC de 26,24. Ultrassonografia de abdome: fígado aumentado, superfície lobulada, FPP grau I, padrão D; veias esplênica e porta normais; sem circulação colateral, baço no limite superior da normalidade, caracterizando esquistossomose hepatointestinal. Dados radiológicos e ecodopplercardiograma revelaram HP importante; espirometria, tomografia multidetectores de tórax (TCMD) e cateterismo cardíaco excluíram doença venoclusiva pulmonar, corroboraram o diagnóstico de HAP grave secundária à esquistossomose.
RESULTADOS:

A negatividade de marcadores das hepatites virais B e C, ausência de alcoolismo e de alterações ultrassonográficas de outras doenças hepáticas como cirrose, além da função hepática preservada da paciente excluíram outras causas de hipertensão portopulmonar. Não havia obesidade, doenças da tireóide, infecção por HIV, colagenoses ou outras doenças cardíacas. A forma hepatointestinal da parasitose sugere que hipertensão portal e colaterais portossistêmicas, que levariam ao carreamento de ovos para os pulmões, nem sempre são pré-requisitos para instalação de HAP na esquistossomose. Esta pode ocorrer mesmo em formas mais leves da doença, presumindo-se que a presença de antígenos liberados pelos ovos ou parasitos desencadeiem mecanismos tóxico-alérgicos que podem culminar em inflamação vascular pulmonar difusa, nos pacientes previamente sensibilizados desde a forma aguda da doença. Associado a um desequilíbrio de substâncias vasoativas, isso pode resultar em arterite obliterativa com remodelamento vascular. Além disso, a doença parece progredir independente do tratamento específico e ausência de re-infecções. O diagnóstico desses casos geralmente é realizado em fases avançadas da doença, com prognóstico ruim. No caso, a paciente foi encaminhada para tratamento em centro especializado.

CONCLUSÃO:

A HAP é considerada uma doença rara nos países desenvolvidos. No entanto, considerando que existem no mundo mais de 200 milhões de pessoas infectadas pelas espécies de Schistosoma, sugere-se que a esquistossomose seja a maior causa de HAP no mundo e que sua ocorrência encontra-se subestimada. Deste modo, são necessários estudos epidemiológicos, para conhecer a real prevalência desta doença no mundo e nos países onde a esquistossomose é endêmica. Ressalta-se ainda a necessidade de pesquisas que avaliem o tratamento da HAP esquistossomótica.

Palavras-chave: Esquistossomose, Forma hepatointesstinal, Hipertensão pulmonar.