62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica
LEVANTAMENTO DO USO DE ÁLCOOL, DROGAS E PSICOTRÓPICOS EM FAMÍLIAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM ATENDIMENTO DE SAÚDE MENTAL
Carolina Pereira Nunes 1
1. Secretaria Municipal de Saúde de São Luís - SEMUS
INTRODUÇÃO:

O atendimento psicológico a crianças e adolescentes tem sido objeto de inúmeros estudos no Brasil na atualidade. Essa modalidade de atendimento é de suma importância não somente para a área da saúde, mas também para o campo social e da educação. Na perspectiva da Análise do Comportamento (Psicologia Comportamental), sabemos que nenhum comportamento aparentemente disfuncional pode ser analisado isoladamente, na verdade todos os comportamentos adultos e infanto-juvenis devem ser analisados dentro do contexto no qual ocorrem. Essa afirmativa torna-se relevante pois sabemos não ser incomum que as famílias de crianças e adolescentes que se dirigem a ambulatórios de saúde mental para pedir ajuda para os filhos, também tenham problemas de ordem pessoal e familiar, e que essas questões, na maioria das vezes, relacionam-se com as queixas dos filhos.Chama-nos bastante atenção o recorrente relato de uso abusivo de álcool, drogas e uso de medicação psicotrópica por parte de familiares dessa clientela, por isso percebemos a grande relevância de um levantamento quantitativo relativo ao número de pais/responsáveis com as características acima descritas, para melhor conhecimento das características desta população e conseqüente melhoria dos serviços a ela oferecidos.

METODOLOGIA:

Os dados foram colhidos na entrevista clínica inicial realizada pela psicóloga responsável pelo atendimento aos casos. Esse instrumento de pesquisa consistia em um roteiro estruturado com perguntas abertas e fechadas, onde investigou-se as seguintes áreas: queixa, estrutura familiar, desenvolvimento psicomotor, escolarização, saúde, comportamentos (adequados e inadequados) e a rotina da criança/adolescente.No tópico "estrutura familiar" investigou-se aspectos relacionados aos progenitores ou responsáveis atuais (nos casos em que os clientes não estavam sobre os cuidados dos pais biológicos), relacionamento familiar e características dos responsáveis, dentre as quais destacamos o uso abusivo de álcool, substâncias psicoativas e medicação psicotrópica.Foram feitas um total de 310 entrevistas, no período compreendido entre 22/12/2010 e 26/03/2010. Não houve nenhum tipo de seleção da amostra pesquisada: todos os casos atendidos pela referida psicóloga foram analisados, portanto, houve grande diversidade dos motivos que levaram as famílias a solicitar atendimento, que variaram de autismo a violência, passando por abuso de substâncias psicoativas pelos próprios clientes.

RESULTADOS:

Em um total de 310 entrevistas, foram levantados os seguintes dados: famílias sem ocorrência de uso de álcool, drogas ou medicamentos: 76 famílias (25%); com ocorrência de uso: 203 famílias (65%); sem informações: 31 famílias (10%). O tópico "sem informações" refere-se às entrevistas feitas que não dispunham da variável pesquisada; refere-se a entrevistas que foram iniciadas mas não chegaram a ser concluídas, ou porque os sujeitos faltaram aos atendimentos subsequentes, onde seria dada continuidade à investigação, ou porque no momento do inquérito o entrevistado não dispunha da informação solicitada.É importante destacar que 76 famílias entrevistadas relataram não ter nenhum membro que faça ou já tenha feito uso de álcool, drogas ou medicação. Porém, um percentual bastante significativo, correspondente a mais da metade da amostra (65%) respondeu afirmativamente, o que confirma as informações obtidas na revisão da literatura e está consoante com os dados de pesquisas internacionais sobre a relação entre comportamentos adictos dos responsáveis ou transtorno mental dos mesmos e presença de disfunções comportamentais nos filhos.

CONCLUSÃO:

A partir dos dados obtidos constatamos que tudo que ocorre no seio familiar influencia os comportamentos infanto-juvenis, já que os pais, mães e responsáveis quando apresentam eles próprios padrões comportamentais disfuncionais, acabam atuando como estressores no ambiente familiar ou, até mesmo como modelo imediato a ser imitado. Desta forma, percebemos que os adultos exercem grande influência no ambiente e, consequentemente, nos comportamentos adequados e inadequados dos filhos, netos, sobrinhos etc. Então, é grande a relevância da intervenção junto aos pais de crianças e adolescentes em atendimento psicoterápico, especialmente aqueles com transtornos mentais, por reconhecermos a influência dos mesmos no desenvolvimento e manutenção de padrões de comportamento dos filhos.

Palavras-chave: Psicologia Clínica, Análise do Comportamento, Crianças, adolescentes e famílias.