62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
BEM-ESTAR OU MAL-ESTAR DOS MÚSICOS: O QUE PREVALECE NO "REPERTÓRIO" DOS TRABALHADORES DE UMA ORQUESTRA?
Ligia Rocha Cavalcante Feitosa 1
Mario Cesar Ferreira 1
Polyanna Peres Andrade 1
1. Instituto de Psicologia/IP-UnB
INTRODUÇÃO:

No contexto de trabalho orquestral os músicos podem se deparar com contradições quanto ao que é prescrito e ao que real no seu cotidiano de trabalho. Dessa forma, os eventos críticos são comuns e exigem que estes trabalhadores elaborem estratégias operatórias, que podem ou não, ser bem-sucedidas resultando em um custo humano do trabalho. Sob estas circunstâncias, os músicos podem vivenciar o bem-estar ou mal-estar no trabalho. O bem-estar corresponde às representações mentais positivas que os trabalhadores formulam sobre o seu estado físico, psicológico e social num determinado contexto de trabalho. O mal-estar, por sua vez, corresponde às representações mentais negativas que os trabalhadores formulam sob estes mesmos estados e contexto de trabalho. Considerando o bem-estar e o mal-estar como elementos presentes no contexto de trabalho orquestral, o objetivo deste trabalho foi analisar as representações de bem-estar e mal-estar dos músicos de uma orquestra e identificar o predomínio destas representações no contexto de trabalho.

METODOLOGIA:

Participaram do estudo qualitativo 57 músicos profissionais, representando os naipes de cordas, de madeiras, de metais e de percussão do referido grupo musical. O perfil demográfico dos participantes aponta o predomínio do sexo masculino (86%); da faixa etária entre 26 e 35 anos (55%) e da escolaridade Ensino Médio (56%). E no perfil profissiográfico, o tempo de trabalho dos músicos na área e na Orquestra corresponde ao período de até 10 (47%) e 5 (49%) anos, respectivamente.Os dados foram coletados em agosto e setembro de 2009, no próprio local de trabalho, considerando duas questões abertas: a) "Quando penso no meu trabalho na Orquestra, o que me causa mais bem-estar é..."; b) "Quando penso no meu trabalho na Orquestra, o que me causa mais mal-estar é..."; estas questões integram a parte qualitativa do Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho (IA_QVT). Os dados foram tratados com o auxílio da análise de conteúdo conjugada com a utilização do software de análise estatística de dados textuais, o Alceste.

RESULTADOS:

Os resultados do Alceste evidenciam três núcleos de sentido. O Núcleo Temático Estruturador (NTE) do "Bem-estar no trabalho", correspondente a 16,92% do total de UCEs, revelam que os músicos têm como representações positivas do trabalho o gostar do que fazem acompanhados do aperfeiçoamento da técnica musical, o bom relacionamento entre os colegas (exemplo: companheirismo, respeito, ajuda) e o reconhecimento do público, demonstrado a cada apresentação. No NTE do "Mal-estar no Trabalho", correspondente a 46,15% do total de UCEs, os resultados apontam que os músicos têm como representações negativas do trabalho as condições de trabalho que prejudicam o desempenho da técnica de execução musical. E no NTE denominado "Exigências e dificuldades no trabalho", representando 36,92% do total de UCEs, revela que a baixa remuneração contribui para a falta de compromisso de alguns músicos nos ensaios e que, por sua vez, interfere no desempenho e provoca os desentendimentos entre eles.

CONCLUSÃO:

Estes resultados demonstram em que os músicos estão apoiados para lidar com as contradições existentes no contexto de trabalho orquestral e o que precisa ser revisto para implantação de melhorias no trabalho, uma vez que há registro da insuficiência das estratégias operatórias dos músicos ao descreverem as respectivas representações de mal-estar. Os resultados (a) forneceram valiosos subsídios para se aprimorar a gestão do trabalho e (b) abriram a perspectiva de realização de novas pesquisas desse contexto de trabalho pouco estudado.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Bem-estar, Mal-estar, Contexto de Trabalho Orquestral.