62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
O CICLO DE EXTRAÇÃO DE PAU-ROSA EM SANTARÉM (1940-1950)
André das Chagas Santos 1
Criz Roecker Franco 1
1. Centro Universitário Luterano de Santarém/ CEULS
INTRODUÇÃO:
Os estudos históricos ao longo dos anos vêm se tornando cada vez mais complexos. Muitas mudanças foram observadas dentro da própria ciência. Os objetos de estudo se alargaram, novos métodos de abordagem histórica foram empregados. A política, antes o principal objeto de estudo, acabou ganhando a companhia de outros temas. Hoje a História é uma ciência fragmentada, com um vasto campo de atuação, como a História Econômica; a História Social, História das Mentalidades e outras. Dentro do estudo da História pode ser incluída a análise dos ciclos econômicos, sendo estes muitos importantes para a compreensão da realidade e o cotidiano de determinadas localidades, pois, os ciclos econômicos podem ser entendidos, segundo Brum apud Rodrigues ET AL (2005), "como o período em que determinado produto, beneficiando-se da conjuntura favorável do momento, se constitui no centro dinâmico da economia, atraindo forças econômicas - capitais e mão-de-obra - provocando mudanças em todos os setores da sociedade.'' Um dos objetivos deste trabalho é analisar atividade de extração do óleo essencial de pau-rosa na cidade de Santarém (1940-1950), nos aspectos econômicos, sociais e ambientais, procurando compreender os impactos desta atividade na sociedade amazônica.
METODOLOGIA:
O desenvolvimento desta pesquisa foi dividido em cinco etapas. (a) revisão bibliográfica sobre os métodos de pesquisa em História, o que nos possibilitou entrar em contato com os métodos de pesquisa e com o trabalho do historiador; (b) revisão bibliográfica sobre o extrativismo na Amazônia, em destaque a extração do óleo essencial de pau-rosa e a sua utilização na indústria, buscando identificar a participação da Amazônia dentro do cenário econômico internacional (c) pesquisa em jornais antigos da cidade, buscando notícias sobre a extração de óleo de pau-rosa; (d) entrevistas como moradores da região que são conhecedores das atividades e da realidade que fora vislumbradas no período estudado, os relatos desses moradores são importantes para a compreensão desse momento, já que não existem muitos documentos tratando da atividade extrativista do pau-rosa neste período. (e) por fim análise dos dados coletados e produção de trabalho científico.
RESULTADOS:
O pau-rosa (Aniba rosaeodora) é uma árvore nativa da Amazônia. Sua composição química possui a mais cobiçada substância da indústria de cosméticos e perfumaria, o linalol. É utilizado na indústria de perfumaria, sendo um dos componentes da produção do Chanel nº 5. No período das décadas de 1940-1950, foram instaladas em Santarém três usinas de beneficiamento de pau-rosa (Paxiúba, Rio Moju e Rio Tapajós). Na década de 1940, os trabalhadores tinham que abrir picos até os locais de extração, pois não existiam vias de acesso. Para se chegar até a usina de Paxiúba, os empregados do empresário Elias Hage, tinham que caminhar cerca de 50 km com seus equipamentos e objetos pessoais. Após o esgotamento das áreas de extração do pau-rosa em Paxiúba, a usina transferiu-se, em 1949 para a região do Rio Moju. Na usina de Paxiúba era extraído cerca de 10 tambores com 200 litros de óleo essencial por mês . As condições de trabalho eram adversas, o equipamento para a extração da árvore era manual e as máquinas de extração do óleo essencial eram movidas a vapor. Nas áreas onde se instalaram as usinas se formaram algumas povoações rurais. A extração predatória colocou o pau-rosa na lista das espécies ameaçadas de extinção. Universidades estão estudando o cultivo de pau-rosa em escala comercial.
CONCLUSÃO:
A Amazônia no período estudado se manteve na distribuição social do trabalho (DIT), como centro fornecedor de matéria-prima para os países desenvolvidos. O extrativismo de pau-rosa em Santarém foi monopólio do empresário Elias J. Hage, proprietário das três usinas de beneficiamento localizadas na cidade. O ciclo do pau-rosa foi uma atividade predatória, sem preocupação com os impactos ambientais e chegou ao fim com a extinção do produto nas áreas exploradas. A extração do óleo essencial de pau-rosa em Santarém não foi capaz de resolver os problemas de distribuição de renda na cidade, mas ao contrário, concentrou mais ainda o capital nas mãos de uma minoria e pode ser caracterizado como uma atividade onde houve a exploração de mão-de-obra. Nas proximidades das áreas de incidência do pau-rosa foi desenvolvida a atividade agrícola logo após o fim do período de exploração, pois se formaram algumas comunidades no entorno. A quase extinção do pau-rosa foi o preço que teve que ser pago para perfumar algumas pessoas com alto poder de consumo nos países desenvolvidos, principalmente na Europa.
Palavras-chave: Extrativismo vegetal na Amazônia, Extração de óleo essencial de pau-rosa, História de Santarém.