62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
AGENTES COMUNITARIOS DE SAÚDE: SABERES E PRÁTICAS EM SAÚDE MENTAL
Natália da Silva Oliveira 1
Helena Karolyne Arruda Guedes 1
Tâmara Cristina Brito Rodrigues 1
Joana Celine Costa Silva 2
Francisca Bezerra de Oliveira 1
1. Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
2. Centro de Atenção Psicossocial - Pau dos Ferros - RN - CAPS
INTRODUÇÃO:

A assistência em Saúde Mental tem se configurado atualmente como um processo em constante mudança, incentivado pela Reforma Psiquiátrica. Este movimento propõe a desinstitucionalização, ou seja, a desconstrução não só dos espaços asilares, como também das práticas e saberes em saúde mental, com ênfase em novas tecnologias de cuidado, que contemplem o usuário de forma integral no contexto familiar. Articula-se a esse contexto, a Estratégia de Saúde da família (ESF), que trabalha com os mesmos princípios da Reforma Psiquiátrica. Dentre os profissionais envolvidos nesse processo o Agente Comunitário de Saúde (ACS) merece destaque na equipe multiprofissional da ESF, pois ele se apresenta como um mediador entre a comunidade e a equipe de saúde, uma vez que são moradores da própria comunidade e estão sempre informados dos problemas cotidianos, por meio do contato com as famílias. Os objetivos deste estudo são identificar as concepções acerca da loucura pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de uma Unidade de Saúde da Família, do município de Cajazeiras - PB e verificar as práticas de cuidado em saúde mental desenvolvidas pelos ACS.

METODOLOGIA:

Trata-se de estudo exploratório, com abordagem qualitativa. Esta pesquisa teve como cenário de estudo a Unidade de Saúde da Família do Bairro São José, localizada no município de Cajazeiras - PB. O Bairro São José está situado na zona norte do município, sendo um dos mais populosos e carentes. Atualmente, conta com uma Unidade de Saúde da Família que é composta por duas equipes (uma da prefeitura e uma da Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras do CFP/UFCG), atendendo a uma demanda de 1.235 famílias. Na Unidade existem 02 Enfermeiras, 02 Médicos, 04 Técnicos de Enfermagem, 02 Dentistas, 01 Agente Administrativo, 02 Auxiliares de Serviços Gerais, 01 Técnico em Saúde Bucal, 09 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e 03 Vigilantes. Os sujeitos desta pesquisa foram sete ACS que fazem parte da equipe multiprofissional da referida Unidade de Saúde. Para a coleta dos dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estuturado que abordava as concepções acerca da loucura, serviços e práticas em saúde mental. O método utilizado para a análise dos dados foi à análise temática proposta por Bardin.

RESULTADOS:

Foram entrevistados 07 das 09 ACS, pois duas se recusaram a responder a entrevista. Todas as participantes são do sexo feminino, com faixa etária entre 28 à 55 anos. A maioria (85%) apresentou boa escolaridade. 70% das participantes trabalham há mais de 10 anos na ESF. Sobre a concepção da loucura algumas tentaram explicar que a loucura é a ruptura de papéis socialmente esperados: "Perde a noção do certo ou errado"; "Não está na realidade". Todas as ACS relataram a presença de usuários com transtornos mentais em suas microáreas, porém ressaltaram que não há um registro sistematizado dos casos. O ACS circula cotidianamente pelos dois cenários (comunidade e ESF), tornando-se um elo entre o serviço e a comunidade, sendo o profissional da equipe que se faz mais presente na comunidade e é com ele, que se inicia na maioria das vezes, a relação entre usuário e equipe de saúde. As ACS relataram também um modo diferenciado de se comunicar com os pacientes: "Uma conversa e uma escuta". No entanto, destacaram algumas dificuldades como: "Falta de preparação, medo de determinados pacientes". Com relação às instituições de tratamento 57% das entrevistadas afirmaram que o CAPS é o modelo a ser seguido. Mais uma vez, percebe-se que falta uma articulação entre saúde mental e ESF.

CONCLUSÃO:

Apesar de todos os esforços e avanços que a Reforma Psiquiátrica tem possibilitado acerca da compreensão e forma de lidar com o sofrimento mental e sua importância dentro do contexto familiar, preconizando uma articulação entre esse campo do saber e a ESF, muitas são as dificuldades e os obstáculos a serem vencidos. Ainda permanece o estigma em relação à doença mental, sendo necessário desmistificar a idéia que o doente mental é um ser perigoso, incapaz de viver em sociedade.  Além disso, é perceptível a falta de preparação dos profissionais para atuarem nesta área. A atual política de saúde mental preconiza uma articulação entre os serviços (CAPS e ESF), no entanto, para que isso se concretize é fundamental o fortalecimento dos pressupostos do SUS na formação dos profissionais, bem como investimento na capacitação dos profissionais que atuem na ponta do sistema, como é o caso dos ACS. Uma das medidas para esse procedimento é a implementação da estratégia de apoio matricial por parte dos profissionais do CAPS II do município, o que na prática não está ocorrendo.

Palavras-chave: Agente Comunitário, Saúde Mental, ESF.