62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
Efeito da injeção local de PEDF no epicentro da lesão isquêmica fototrombótica em ratos. Estudo do comportamento, da degeneração tecidual e da neuroplasticidade nos neurônios lombares
Chary Ely Martin Marquez Batista 1
Leonardo Luis Torres Bianqui 1
Bruno Bonganha Zanon 1
Mauricio Menezes Aben Athar Ivo 1
Jessica Ruivo Maximino 2
Gerson Chadi 3
1. Depto. de Neurologia, Fac. de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP
2. Profa. Dra. Departamento de Neurologia - FMUSP
3. Prof. Dr. / Orientador - Departamento de Neurologia - FMUSP
INTRODUÇÃO:

O fator derivado do epitélio pigmentado (PEDF) é um fator neurotrófico que possui funções neuroprotetoras em algumas áreas do sistema nervoso central, porém com grande potencial trófico aos neurônios motores da medula espinal. O componente isquêmico das lesões medulares traumáticas e as isquêmicas propriamente ditas não são adequadamente avaliados experimentalmente, tão pouco são estudados os efeitos de moléculas neurotróficas nestes processos. As ações tróficas do PEDF podem somar-se aos seus efeitos indiretos sobre o processo angiogênico e de reparo/cicatrização da medula espinal lesada, desta forma, abrindo a perspectiva para este trabalho avaliar o efeito do PEDF na evolução dos parâmetros motores, nos processos neurodenerativos pós-isquemia e na neuroplasticidade dos neurônios motores da medula espinal quando injetado no epicentro da lesão isquêmica fototrombótica em ratos.

METODOLOGIA:

Ratos machos Wistar (350-400g) foram submetidos à lesão medular isquêmica fototrombótica, segundo o método de "Rose Bengal", na altura do 11º segmento torácico e tratados com inoculação de 10µl de PEDF (100ng/ml, n=16; grupo PEDF) ou solvente (n=16; grupo salina). Ratos submetidos à cirurgia simulada receberam injeção de solvente (n=16, grupo sham). Os animais foram submetidos a testes neurofuncionais por 8 semanas. Após este período, os animais de cada grupo foram divididos e submetidos à perfusão para imunohistoquímica ou a decapitação para Western blot. A neuroproteção tecidual foi estudada por método estereológico quantitativo em secções da região da lesão imunomarcadas para o neurofilamento-200 (NF-200). A neuroplasticidade foi quantificada por microdensitometria de imagem em secções imunomarcadas para a proteína associada ao microtúbulo-2 (MAP-2) e proteína associada ao crescimento-43 (GAP-43) e pelo método de Western blot, para verificar os níveis destas proteínas na região ventral da medula lombar caudal à lesão. Os efeitos angiogênico do PEDF foram analisados em secções imunomarcadas pela laminina e os gliogênico pela proteína ácida fibrilar glial (GFAP) e fator de crescimento fibroblástico-2 (FGF-2) em região caudal à lesão. Para análise estatística foi utilizado o teste Anova.

RESULTADOS:

Os testes comportamentais (BBB e CBS) mostraram que o PEDF promove melhora na recuperação motora e na função vesical. O comportamento motor espontâneo em campo aberto registrado pelo infravermelho não sofreu alterações significativas pela lesão ou tratamento ao longo do período analisado. A análise estereológica de secções marcadas com NF-200 não mostrou efeito neuroprotetor do PEDF no que diz respeito ao tamanho da lesão e neurônios remanescentes na região de referência. A análise da região ventral da medula espinal caudal à lesão através do western blot mostrou aumento nos níveis protéicos da MAP-2 no grupo PEDF (88%) em relação ao sham, porém não houve diferença nos níveis da GAP-43 nesta região. A microdensitometria revelou aumento da área dos prolongamentos dendríticos MAP-2 positivos dos neurônios do corno anterior da medula espinal no grupo PEDF quando comparados com os grupos salina (34%) e Sham (36%). O PEDF diminuiu a imunorreatividade da laminina (40%) e aumentou a do GFAP (75%) e FGF-2 (45%) caudal à lesão quando comparado com o sham, reafirmando os efeitos gliogênico e antiangiogênico do fator, bem como a sua ação a distância.

CONCLUSÃO:

Os resultados mostram o efeito do PEDF na melhora da recuperação dos parâmetros motores sem promover neuroproteção tecidual, sendo que a resposta clínica parece ser devida a modificações neuroplásticas na porção lombar da medula espinal, logo abaixo da lesão. Estes achados abrem a perspectiva para novos mecanismos de neurorreabilitação da medula espinal, o que pode beneficiar pacientes com lesão raquimedular, mesmo crônica.

Instituição de Fomento: FAPESP e CNPq
Palavras-chave: PEDF, Lesão Isquêmica, Neuroplasticidade.