62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EXTERNALISTA, REVISIONISTA E PROBLEMATIZADORA: DISCUTINDO SOCIOLOGIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E PLURALIDADE EPISTEMOLÓGICA COM PROFESSORES E ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
Francisco Adaécio Dias Lopes 1
1. Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática - PPGECNM
INTRODUÇÃO:
Este trabalho e as discussões que apresenta são parte de um trabalho maior, uma Dissertação de Mestrado já defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática da UFRN em Março deste ano. Será apresentado agora, basicamente, a parte relacionada a algumas atividades práticas de intervenção com estudantes e professores de ciências relacionados ao que discutimos na dissertação no plano teórico. O trabalho foi motivado pelo fato de observar-se que, embora temas relacionados à sociologia e filosofia da ciência e outras propostas de cunho externalista-hermenêutico em relação ao conhecimento e à ciência vindas de diversas áreas do pensar humano há muito tempo sejam discutidos e tratados em trabalhos acadêmicos, no plano teórico, estes conhecimentos praticamente não são introduzidos nos currículos e conteúdos tratados no Ensino Médio (e Superior). Nesse sentido, acreditamos que o principal objetivo e relevância deste trabalho seja, de um lado, apresentar aos professores essas questões trazidas por autores como Latour, Foucault, Feyerabend, Maturana, Heidegger, Nietzsche, Collins e Pinch, e muitos outros, como parte de uma mesma conversa, e de outro, propor uma possibilidade de intervenção em sala de aula em que estejam presentes tais questões.
METODOLOGIA:
A parte teórica que compõe o trabalho foi construída através da leitura e do encadeamento de idéias de diversos autores, em que foi preciso definir concepções relacionadas à ciência, ao ensino de ciências, sociologia e filosofia da ciência e etc.. Já as intervenções práticas foram efetuadas de duas formas: através de (3) três mini-cursos de duração de 4 horas realizados basicamente para professores do ensino médio, e de intervenções em sala de aula nas turmas do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual 20 de Setembro - Olho D'água do Borges/RN onde o autor então lecionava. Tais intervenções foram feitas através da leitura e discussão de textos do livro didático e outros, questionamentos e atividades realizadas com os alunos, chamando a atenção para o caráter social do conhecimento científico e demais manifestações epistemológicas humanas. Os mini-cursos foi se aperfeiçoando a medida que foi sendo realizado, sendo o último, realizado na cidade e escola citadas acima, o mais completo. Inicia-se com uma problematização através de um vídeo, em seguida passa-se a uma explanação sobre os temas que compõe a parte teórica do trabalho, e finaliza-se com a descrição das atividades efetuadas com os alunos e realização de algumas destas práticas também com os professores participantes.
RESULTADOS:
Os mini-cursos cumpriram o seu objetivo de informar e suscitar mudanças nas concepções de conhecimento dos professores e na sua prática docente. Por estas questões remeterem a algo, digamos, novo, não esperávamos que fosse fácil o diálogo com os professores. No entanto, como esperávamos, foi plenamente possível. Como não se tratou apenas de algo teórico, isso ficou mais fácil. As impressões que estes tiveram, seus entendimentos e colocações sobre os temas e trabalhados introduzidos pelos mini-cursos foram colhidas e compõem parte da dissertação já citada, intitulada "Educação científica no contexto pós-ontológico: por uma concepção plural de conhecimento e educação" e integrarão o trabalho ao qual remete este resumo. E as intervenções feitas em sala de aula junto aos alunos, por se tratar de algo mais vivencial e prolongado, pois eram alunos deste professor, demonstraram-se muito significantes. Alguns alunos passaram inclusive a manifestar uma postura externalista em relação ao conhecimento científico e demais formas de conhecimento, ao trazer fatos que eram veiculados pela televisão e demais mídias para a discussão de sala de aula, demonstrando que as questões trabalhadas realmente se tornaram significativas para a vida, subsidiando as concepções de mundo daqueles estudantes.
CONCLUSÃO:
Portanto, o trabalho demonstra que não é impossível e nem tão difícil assim, tratar de temas relacionados à sociologia e filosofia da ciência no ensino médio, desde que se tenha certa abertura em relação às concepções do que é o conhecimento e seus limites e o que realmente é o seu alcance. Com temas que muitas vezes são colocados inclusive em passagens do livro texto do aluno, podemos trazer à tona questões de cunho externalista, contextualizantes em relação ao conhecimento, enriquecendo e dinamizando a aula e possibilitando que o aluno pense sobre questões que geralmente a forma compartimentada de ensinar não possibilita que o faça. Acredito que uma das principais dificuldades enfrentadas pelos professores para empreender este tipo de postura e prática pedagógica está relacionada à sua formação, ainda muito centrada na apenas na disciplina que leciona, primando muito por conteúdos em vez de vivências e práticas educativas - embora este tipo de postura venha sendo sinalizada e encorajada por estudos e diretrizes como os PCN's, inclusive.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Conhecimento científico, Educação científica externalista e revisionista, Pluralidade epistemológica.