Dificuldades de ordem emocional e comportamental são freqüentes na infância. As de ordem emocional em geral passam despercebidas por pais e professores por não perturbarem a dinâmica familiar ou da sala de aula, ao passo que as de caráter comportamental são percebidas com mais facilidade por perturbarem a harmonia desses contextos. Condutas de desobediência em casa e na escola, se meter em brigas, agredir e provocar pessoas e não se sentir culpado são alguns dos comportamentos que caracterizam as dificuldades comportamentais. As dificuldades de ordem emocional referem-se a comportamentos de retraimento social, medo, tristeza, ansiedade, entre outros. A freqüência, intensidade e estabilidade com que essas dificuldades se apresentam apontarão a um prognóstico pobre e inadaptação psicossocial na adolescência e vida adulta. A detecção e prevenção precoce dessas dificuldades contribuirão a que não apresentem uma evolução gradual e acumulativa e venham a desembocar em transtornos psicopatológicos em etapas posteriores do desenvolvimento. Assim sendo, o objetivo desse estudo é o de descrever o percentual de crianças matriculadas no Ensino Fundamental I de uma escola particular da região de Natal-RN que apresentam dificuldades comportamentais e emocionais de maneira pura e comórbida.

Segundo o informe dos pais, dos 49 participantes, 27 (55.1%) são do sexo masculino e 22 (44.9%) do feminino. Desses 49 escolares, 23 (46.9%) apresentam condutas características das dificuldades emocionais e 13 (26.5%) das dificuldades comportamentais, observando-se uma maior prevalência nos meninos (n=12; 52.2% e n=9; 69.2%) que nas meninas (n=11; 47.8% e n=4; 30.8%) respectivamente. Observou-se ainda um alto índice de comorbidade entre as mencionadas condutas interiorizadas e exteriorizadas. Dez (76.9%) das 13 crianças que apresentaram condutas características das dificuldades comportamentais apresentaram de forma concomitante condutas características das dificuldades emocionais, sendo 8 (80%) do sexo masculino e 2 (20%) do feminino. Vale alertar que esses dados encontram-se superestimados e devem ser interpretados com cautela. A superestimação justifica-se pelo tipo de amostragem, que permitiu maior empenho por parte dos professores para que os pais daquelas crianças que eles percebiam algum tipo de dificuldade participassem do estudo. Deve-se também ao fato de que a aproximação diagnóstica se deu a partir do informe dos pais, aumentando a probabilidade de falsos positivos. É importante esclarecer que está prevista a realização de entrevista clínica na próxima etapa do estudo.

Apesar das limitações apresentadas, é importante ressaltar que ainda são poucas as pesquisas com população infantil não clínica, destacando a relevância desse trabalho. Vale ressaltar ainda que a literatura aponta que grande parte dos transtornos psicopatológicos detectados na adolescência e início da vida adulta, como a delinqüência juvenil, uso e abuso de substância, depressão, ansiedade generalizada, entre outros, apresentam seus primeiros sinais de alerta desde a primeira infância. Assim sendo, fazem-se necessários estudos que se proponham a descrever os comportamentos apresentados por estes jovens em etapas precoces do desenvolvimento. A detecção e intervenção precoce desses sinais de alerta ajudaria a prevenir que estes se tornem crônicos e evoluam a um estilo de vida antissocial em etapas posteriores, promovendo assim o bem-estar e saúde mental na infância e adolescência.