62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica
O SOFRIMENTO PSÍQUICO NA INFÂNCIA E SUA MANIFESTAÇÃO NA CLÍNICA-ESCOLA
Laura Cristina Santos Damásio de Oliveira 1
Larissa Medeiros de Souza 1
Marília Noronha Costa do Nascimento 1
1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
INTRODUÇÃO:

O sofrimento psíquico infantil na atualidade deve ser compreendido em sua relação com a sociedade contemporânea, marcada pela globalização, violência e pela presença de uma indústria de informação, de bens culturais e de consumo, cuja ênfase está no presente, no efêmero e na busca do prazer individual. Em tal cenário, o processo de subjetivação da criança sofre alteração. Verifica-se uma demanda crescente por atendimento psicológico para crianças, no intuito de minimizar a dor do viver. As clínicas-escola recebem parte desta demanda, tendo dupla função: possibilitar ao psicólogo em formação uma prática clínica e oferecer atendimento a uma população de baixa renda. A sistematização dos dados em fichas de triagem resulta num rico acervo, a partir do qual é possível compreender melhor as manifestações de sofrimento que levam à procura do psicólogo. Este estudo visa caracterizar a clientela infantil que, em 2008, foi atendida no Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) da UFRN, verificando a faixa etária das crianças, os motivos que as levaram ao SEPA, quem as encaminhou, a incidência de gênero e a distribuição dos atendimentos ao longo do ano. O estudo de tais dados poderá subsidiar um processo de mudança na assistência prestada, de modo a melhor adequar-se às novas demandas.

METODOLOGIA:
O presente estudo foi realizado no Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) - clínica-escola do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trata-se de pesquisa documental, realizada com base nas fichas de triagem referentes aos atendimentos realizados na unidade, a partir das quais é possível caracterizar a clientela infantil atendida no serviço durante o ano de 2008. Extraiu-se das fichas informações sobre a população infantil atendida no SEPA, abrangendo sexo, idade, procedência, motivo do encaminhamento e mês em que o atendimento teve início. Na análise dos dados, após a selação das fichas relativas aos atendimentos infantis e leitura das mesmas, as informações foram categorizadas e, então, tratadas por meio do software estatístico SPSS, versão 15, com recurso ao teste Qui-Quadrado.
RESULTADOS:
Do universo de 701 fichas de triagem referentes ao ano de 2008, foram selecionadas as 179 relativas à população infantil (0 a 11 anos incompletos). Os dados revelaram maior incidência de meninos no serviço (69,1%); da faixa-etária entre 7 e 11 anos (64,6%) e da busca do psicólogo por iniciativa familiar (33,7%). A maior demanda  ocorreu no segundo trimestre do ano (33,7%). As queixas foram organizadas em categorias, sendo as mais frequentes: agressividade (30,3%), seguida de dificuldades escolares (26,4%) e problemas comportamentais (25,3%). No que diz respeito ao gênero, a maior incidência do sexo masculino corrobora dados da literatura, assim como o faz a maior frequência de crianças em  idade escolar. Cruzando-se as variáveis gênero e idade constata-se que os meninos se sobressaem nas três faixas etárias (0 a 3, 4 a 6 e 7 a 11); a partir da relação entre gênero e queixa, observa-se uma prevalência nos meninos de agressividade e nas meninas de dificuldades de aprendizagem. A análise da correlação entre idade e queixa, demonstra maior percentual da queixa de agressividade na primeira faixa etária (0 a 3 anos), problemas comportamentais em crianças pré-escolares (4 a 6 anos) e novamente agressividade entre 7 e 11 anos.
CONCLUSÃO:
A coleta e análise dos dados possibilitaram a caracrterização das crianças atendidas na clínica-escola em questão, evidenciando, dessa forma, questões importantes acerca do sofrimento psíquico infantil na contemporaneidade. Os pais têm procurado o SEPA, em sua maior parte, por iniciativa própria, trazendo como queixa especialmente comportamentos externalizantes por parte das crianças, que parecem decorrentes de fatores contextuais (maior violência familiar e social) e da impossibilidade de corresponder a expectativas de desempenho. Os meninos destacam-se quanto à variável gênero, talvez por serem os que mais apresentam comportametnos que afetam o ambiente circundante (agressividade). É importante salientar a necessidade de uma comunicação eficaz entre os estagiários e psicólogos do serviço,  os pais que buscam atendimento e a escola, para que haja uma melhor compreensão da queixa, a adesão ao tratamento e melhores resultados no processo. O cenário apresentado aponta, ainda, a necessidade do desenvolvimento de  propostas de intervenção com os pais.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: clínica-escola, criança, sofrimento psíquico.