A espécie Rachycentron canadum, conhecido popularmente como beijupirá, ocorre em todas as regiões do Brasil, sendo mais comum no Nordeste, tendo sido amplamente explorada na piscicultura marinha. Por se tratar de uma espécie economicamente viável, é fundamental o conhecimento de sua biologia, no intuito de subsidiar possíveis melhorias no seu cultivo. Assim, a observação da anatomia macrocroscópica e microscópica do peixe permite obter informações relevantes de seus hábitos alimentares. O estudo do aparelho digestório oferece uma boa estimativa da preferência alimentar do animal, estando os vários tecidos e órgãos relacionados a este sistema envolvidos com a apreensão, mastigação e deglutição, seguidas da digestão e absorção dos nutrientes, como também com a excreção. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo ampliar os conhecimentos sobre a organização histológica das regiões do trato digestório de Rachycentron canadum.

Foram coletados vinte exemplares de R. canadum  provenientes da fazenda de Piscicultura Marinha Aqualider, no município de Porto de Galinhas, Pernambuco. Após coletados, os animais foram transportados para o laboratório e sacrificados com solução anestésica de Eugenol, em concentrações letais. Os tubos digestórios dos peixes, destinados à análise histológica, foram  fixados em formol a 10%. Posteriormente, o material foi submetido a técnicas histológicas de rotina e analisado. As lâminas foram seccionadas com 5μm de espessura, coradas com hematoxilina e eosina, e observados e fotografadas em fotomicroscópio óptico Olympus BX-42.

O trato gastrointestinal apresenta um formato de um tubo e está envolvido por quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa. A descrição histológica do estômago evidencia a existência de pregas arredondadas na região cárdica da mucosa e fossetas gástricas ao longo destas pregas. Esta organização histológica é semelhante ao descrito, na literatura, para a espécie Prochichilodus lineatus.  O epitélio é do tipo cilíndrico simples, seguido de lâmina própria com uma grande quantidade de glândulas. A submucosa é bem desenvolvida e vascularizada, formada por tecido conjuntivo frouxo. A camada muscular é composta por fibras musculares lisas, orientadas em duas direções, uma circular espessa, seguida pela longitudinal mais delgada, com a presença de plexos mioentéricos entre as duas. A serosa contém conjuntivo frouxo. O intestino delgado apresenta vilosidades contendo um epitélio cilíndrico simples com células caliciformes. A submucosa é aglandular e a muscular é bem espessa. Os cecos pilóricos são envoltos por tecido conjuntivo frouxo e se ramificam para formar o intestino único. Em Hoplosternum littorale, a literatura descreve que o intestino possui um número maior de pregas e a mucosa é revestida por epitélio colunar simples com células caliciformes e bordas estriadas.

A partir da análise histológica do trato digestório de R. canadum  verificamos que a região cárdica do estômago é formada por quatro camadas: a mucosa, a submucosa, a muscular e a serosa. Verifica-se a presença de pregas, o epitélio do tipo cilíndrico simples e na lâmina própria encontra-se glândulas gástricas, produtoras de muco, enzimas digestivas e HCL. Os cecos pilóricos são estruturas microscópicas que ao se ramificarem formam um intestino único, revestido de epitélio colunar simples, camada muscular circular e células caliciformes.