62ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural

PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL: CARACTERÍSTICAS, NECESSIDADES E POSSIBILIDADES FRENTE À LUTA DE CLASSES (1987-2007)

Joelma de Oliveira Albuquerque 1 Silvio Ancizár Sánchez Gamboa 2 Celi Nelza Zülke Taffarel 3

1. Estudante do Doutorado do PPGE/FE/Unicamp; Grupo PAIDEIA e Grupo LEPEL 2. Prof. Dr. do Dep. de Filosofia e História da FE/Unicamp e Coord. Grupo PAIDEIA 3. Profa. Titular do Dep. III da FACED/UFBA e do PPGE/FACED/UFBA

INTRODUÇÃO:

O presente estudo aborda a problemática da produção científica em Educação do Campo no Brasil. Parte da necessidade vital da reflexão crítica da produção do conhecimento e da concepção de Epistemologia enquanto lógica e teoria do conhecimento, que relaciona seus aspectos lógicos e históricos. O objetivo foi avaliar teses e dissertações sobre a Educação do Campo, identificando suas características, apontando as principais contradições entre a produção teórica e a realidade educacional dos trabalhadores do campo. A Educação do Campo é entendida aqui enquanto o processo de formação dos trabalhadores, através de uma política cultural, em um contexto de antagonismos de classe, onde estão em confronto projetos históricos e de escolarização. O confronto das proposições teóricas com a necessidade dos trabalhadores do campo é justificado na medida em que a expropriação dos que vivem na e da terra tem como resultantes a negação dos bens culturais, entre os quais a educação escolarizada.

METODOLOGIA:

Nos valemos de um instrumental sintonizado com perspectiva epistemológica do conhecimento apresentada na introdução - o método lógico-histórico. A matriz lógico-histórica supõe a necessidade da organização de uma grande quantidade de dados a serem sistematizados (o lógico) e a necessidade de compreensão dessas informações à luz do acontecer das experiências e das condições da sua produção (o histórico). Considerando este método, tomamos as decisões metodológicas coerentes com as fontes e com o objetivo da pesquisa. Elaboramos um protocolo de pesquisa para realização das buscas no portal da CAPES, onde os Programas de Pós-Graduação registram as teses e dissertações. As pesquisas (teses e dissertações) foram localizadas através da expressão exata educação do campo, entre os anos de 1987 a 2007. Foram identificadas e sistematizadas as seguintes características: ano da produção, universidade, região (como categorias que demonstram o movimento histórico da produção); e a problemática (que se refere a uma das características lógicas analisadas com base no instrumento denominado esquema paradigmático). A categoria da contradição guiou nossa análise durante o confronto dos elementos lógicos/históricos da produção analisada com as problemáticas reais da educação do campo no Brasil.

RESULTADOS:

Identificamos a existência de 55 produções - 9 teses e 46 dissertações. No que diz respeito às teses, a primeira foi produzida em 2003 e somente em 2005, na UFRGS, foi defendida a primeira tese em um PPG em Educação. Das 9 teses, foram desenvolvidas: 2 na USP; 3 na UFRGS; 2 na UFBA; 1 na UnB; e 1 na UFC, sendo o Sul e o Nordeste as principais regiões que se posicionam sobre o debate da educação do campo. Das problemáticas abordadas destacam-se: formação de educadores; implementação de políticas públicas; e proposições pedagógicas. A maior parte abordou a problemática a partir de uma concepção materialista, com foco na necessidade de alteração radical do modo de produção para uma coerente alteração na educação. Dentre as 46 dissertações, a primeira foi defendida em 2003, no PPG em Educação da UFBA. O Nordeste se destaca com 15 produções, seguido do Sudeste (11); Sul (10); Norte (7) e Centro-oeste (3). As principais problemáticas abordadas são: formação de professores; análise de proposições pedagógicas para as escolas do campo; práticas pedagógicas inovadoras; análise de políticas públicas. Destacamos a grande influência de teorias idealistas na análise das mesmas, com foco na alteração das subjetividades individuais dos atores da educação do campo.

CONCLUSÃO:

A necessidade principal identificada no conjunto da produção é a superação do atrelamento da concepção de "educação do campo" nascida no seio das lutas dos trabalhadores pela transformação social, às análises idealistas da realidade educacional do campo. Esta abordagem impossibilita o confronto das necessidades vitais dos trabalhadores do campo com suas possibilidades enquanto sujeitos históricos na alteração radical do modo de vida no campo. Outra necessidade é o aumento das produções nas regiões Sudeste e Centro-oeste, grandes centros agrícolas e influenciadores das políticas nacionais para o campo. Das possibilidades, há o aprofundamento nos estudos acerca das políticas públicas e para a formação de professores, bem como de proposições educacionais posicionadas criticamente frente ao modo de produção da existência capitalista e sua expressão no campo - o agronegócio. As contradições identificadas na produção científica expressam a contradição mais geral da luta de classes: o aprofundamento da destruição do trabalho e dos trabalhadores do campo, e a forte organização política dos mesmos no campo (movimentos sociais); o recuo da teoria (influência das idéias da classe dominante), e a radicalização das proposições pedagógicas e de formação para os trabalhadores do campo.

Palavras-chave: educação do campo, produção científica, luta de classes.