62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
A HETEROGENEIDADE DA LÍNGUA: O PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DAS GÍRIAS NA FALA ITABAIANENSE
Viviane Tavares de Gois 1
Raquel Meister Ko. Freitag 2
1. Núcleo de Letras, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Profa. Dra./Orientadora - Núcleo de Letras - UFS
INTRODUÇÃO:
Por ser a Sociolinguística uma ciência que procura associar os aspectos linguísticos às Ciências sociais, tem-se nessa área o foco voltado para a heterogeneidade da língua e, consequentemente, para o mutualismo existente entre esta e a sociedade. Com base nesses pressupostos, realizamos uma investigação sobre o uso das gírias na fala de Itabaiana/SE. A gíria representa uma variedade linguística que caracteriza a necessidade que determinado grupo tem de particularizar e reforçar seu sentimento de identidade. Assim, os objetivos desta pesquisa são estabelecer semelhanças e analogias no emprego dessa variedade no âmbito da fala itabaianense, como também analisar sincronicamente e diacronicamente sua existência, por meio do recurso do tempo aparente, enquadrando-a nos níveis de ascensão, declínio e estabilidade quanto ao seu uso. Para isso, leva-se em consideração a influência de fatores como o gênero, a faixa etária, a condição social e a regionalidade de cada indivíduo como sendo decisivos para a efetiva variação no emprego dessa modalidade da língua.
METODOLOGIA:
De acordo com os métodos de uma pesquisa sociolinguística, primeiramente efetivou-se a coleta dos dados em um estudo piloto, para isso foram elaboradas perguntas com a subsequente aplicação oral por meio de gravadores e questionário. O fruto dessa primeira etapa, obtenção de gírias, serviu de base primária para a elaboração de um questionário escrito, aplicado em conjuntos populacionais distintos (instituições de ensino público fundamental e superior e comunidades da terceira idade), abrangendo as faixas etárias: I- 10-15 anos, II- 20-28 anos e III- 60-75 anos e os gêneros masculino e feminino. Esse questionário foi aplicado a dez homens e dez mulheres de cada uma das três faixas etárias. O instrumento de coleta continha uma lista com 30 gírias acompanhadas com os itens sugestivos para as respostas (1 -"uso"; 2 -"não uso, mas conheço"; 3 - "não conheço"), dois quesitos requerendo respostas pessoais ("situação de uso" e "para que serve"), tudo sustentado por uma pergunta inicial ("responda os itens abaixo de acordo com o emprego ou não da gíria citada"). Os dados obtidos foram tabulados estatisticamente.
RESULTADOS:
Dentre as expressões coletadas, foram selecionadas aquelas que apresentaram um contraste mais evidente no que se refere ao quesito "aplicação/percentual"; a exemplo disso, temos: "Pirão perdido", "Dorico da marinete", "Candangue", "Flerte" e "Cotovia". Evidenciou-se, através da análise dos gráficos e tabelas, que essas variantes linguísticas fizeram parte da variedade vocabular da III faixa etária (correspondendo, em tempo aparente, a jovens da década de 1960), mas seu uso foi apagado devido às incorporações de outros vocábulos que possuem a mesma carga semântica, tais como: "Maloqueiro", "Biba", "Perobo", "Piriguete", "Urubua", "Pegas". Esse resultado pode ser justificado, no que se refere ao tempo e à identidade cultural, pelas transformações semânticas que provêm do dinamismo pelo qual passa a sociedade, da velocidade das mudanças e do abandono de algumas tradições. Com isso, pode-se afirmar que uma determinada expressão pode adquirir diferentes significados com o passar do tempo ou, até mesmo, desaparecer e ganhar substitutos atuais por deixar de ser uma expressão facilitadora da comunicação e da compreensão entre as pessoas.
CONCLUSÃO:
Com base nos resultados da pesquisa, corrobora-se a tese de que a época, a região, o nível social e a identidade cultural, caracterizados pelos diferentes conjuntos populacionais observados neste estudo, são fatores constituintes do vocabulário de cada falante. Além disso, é importante ressaltar a diferença no uso das gírias entre homens e mulheres das três faixas etárias, como também a classificação dentro dos níveis de ascensão, declínio e estabilidade, quanto ao emprego. O uso de determinada gíria pode variar entre idades e gêneros, como foi validada nessa pesquisa a hipótese inicial de que vocábulos originários na década de 1960 poderiam ter sido substituídos devido à inserção de novas expressões linguísticas, como foi o caso da substituição da expressão "Dorico da Marinete" pelo termo "Perobo" usado atualmente, efetivando a heterogeneidade e a instabilidade evolutiva da língua portuguesa.
Palavras-chave: Modalidade oral da língua, Necessidade enunciativa, Instabilidade.