62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica
DIFICULDADES CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO DE CONDUTA DISSOCIAL E PROBLEMAS AFETIVOS EM UMA AMOSTRA DO ENSINO FUNDAMENTAL I DE NATAL.
Clarice da Paz Bezerra 1
Ariela Moreira dos Santos 2
Alécia Nadja de Mesquita Brito 2
Lúcia Maria de Oliveira Santos 2
Eulália Maria Chaves Maia 3
Neuza Cristina dos Santos Perez 4
1. Depto. Psicologia, Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do RN - FARN
2. Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
3. Profa. Dra. - Departamento de Psicologia - UFRN
4. Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Psicologia - UFRN
INTRODUÇÃO:
Existem evidências de que grande parte dos transtornos psicopatológicos detectados na adolescência e vida adulta apresenta seus primeiros sinais de alerta na infância. O Transtorno de Conduta Dissocial (TD) é um dos transtornos que representa um alto custo para a saúde pública e justiça juvenil a nível mundial. O TD é caracterizado por falta de remorso ou arrependimento pelos erros cometidos e por apresentar um caráter intencional nas infrações, podendo se apresentar de maneira leve, moderada ou severa. Especula-se que as crianças que apresentam dificuldades características do TD apresentam também problemas afetivos caracterizados por sentir pouco prazer naquilo que faz, chorar muito, se auto lesionar, sentir-se inferior, ter problemas para dormir, entre outros. Considera-se que os jovens que recebem respostas inconsistentes nos primeiros anos de vida aprendem a desenvolver estratégias "adaptativas" que tendem a amplificar a reação emocional diante dos estressores psicossociais. Assim sendo, o objetivo deste trabalho é descrever o percentual de escolares que apresentaram dificuldades características do transtorno de conduta dissocial e de problemas afetivos, assim como a co-ocorrência de ambas as dificuldades.
METODOLOGIA:
O presente trabalho encontra-se aprovado pelo Comitê de Ética da UFRN e faz parte de um estudo mais amplo que tem por meta detectar e prevenir de maneira precoce as dificuldades características dos transtornos psicopatológicos infanto-juvenis. O estudo em pauta é de tipo transversal, com amostragem por conveniência e refere-se à primeira etapa da mencionada pesquisa, destinada à adaptação cultural das escalas a serem utilizadas nas etapas seguintes da investigação. A amostra é composta por 49 crianças matriculadas no Ensino Fundamental I de uma escola privada da região de Natal. Os instrumentos utilizados foram as escalas Child Behaviour Checklist 6-18 (CBCL 6-18) e Teacher's Report Form for ages 6-18 (TRF 6-18), respondidas por pais e professores, e um questionário sócio-demográfico. Vale ressaltar que os resultados a serem apresentados devem ser tomados com reserva, uma vez que se encontram superestimados. A superestimação se deve a dois fatores. Ao tipo de amostragem na qual se observou tendência dos professores a darem maior ênfase à participação dos pais daquelas crianças que eles percebiam que apresentavam alguma dificuldade. E ao fato da aproximação diagnóstica ter sido realizada através do informe de pais e professores, aumentando a probabilidade de falsos positivos.
RESULTADOS:
A amostra em estudo é composta por quarenta e nove escolares, vinte e sete (55.1%) meninos e vinte duas (44.9%) meninas. Dessas quarenta e nove crianças, seis (12.2%) apresentaram dificuldades características do transtorno de conduta e dezesseis (32.7%) apresentaram condutas características de problemas afetivos. Observou-se uma maior prevalência de dificuldades características do TD (n=6) no sexo masculino (n=4; 66.7%) em relação ao feminino (n=2; 33.3%). Ao passo que mais meninas (n=9; 56.3%) apresentaram problemas afetivos (n=16) que os meninos (n=7; 43.7%). Vale ressaltar que 100% das meninas (n=2) e 50% dos meninos (n=2) que apresentaram dificuldades características do TD (♂=4 e ♀=2) a apresentaram de forma concomitante com condutas características de problemas afetivos. Alguns dos comportamentos característicos de problemas afetivos informados pelos pais com muita freqüência foram: poucas coisas lhe dão prazer (n=3), chora muito (n=6), sente-se sem valor ou inferior (n=3), mexe demais nas partes íntimas (n=3), e duas crianças falaram em se matar algumas vezes. Entre os comportamentos característicos do TD estão: não sente culpa quando se comporta mal (n=3), desrespeita as regras em casa e na escola (n=4), mete-se em muitas brigas (n=2) e xinga ou fala palavrões (n=3).
CONCLUSÃO:
Os dados apresentados sugerem uma associação entre as dificuldades características do transtorno de conduta dissocial e as afetivas destacando a necessidade de estudos que busquem compreender os mecanismos implicados no aparecimento de tais dificuldades. Além do mais, os resultados apresentados deflagram a importância da detecção e prevenção de problemas comportamentais e emocionais de forma precoce. Ações de cunho preventivo ajudariam a evitar que dificuldades de ordem emocional e / ou comportamental evoluam de forma gradual e acumulativa ao longo do desenvolvimento e venham a desembocar em problemas mais sérios na adolescência e vida adulta, promovendo assim a qualidade de vida, bem-estar da criança e de seu entorno familiar e escolar.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD).
Palavras-chave: Dificuldades emocionais e comportamentais , Sintomas do transtorno de conduta , Idade escolar.