62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
GEOGRAFIA VISUAL: O COTIDIANO PARELHENSE NA FOTOGRAFIA MONOCROMÁTICA
Jeyson Ferreira Silva de LIMA 1
Eugênia Maria DANTAS 2
1. Departamento de História e Geografia, UFRN
2. Profa. Dra./ Orientadora - Secretaria de Educação a Distância, UFRN
INTRODUÇÃO:
O Espaço, entendido enquanto um receptáculo e condição para as ações humanas, torna-se a base para reprodução da vida em sociedade. Essa reprodução que envolve aspectos físicos, econômicos, sociais e culturais imprime marcas que se evidenciam, sobretudo no contexto urbano. Na cidade as relações humanas se estabelecem, permitindo a construção de lugares que se alimentam das trocas simbólicas cotidianas, criando uma geografia que é ao mesmo tempo visual e espacial. A paisagem urbana vista a partir da fotografia apresenta, à primeira vista, um cenário estático que revela uma fração do cotidiano, capturado em uma fração de tempo. A observação atenta desse cenário pode se tornar um campo de interpretação, em que a imagem assume um papel importante na compreensão do cotidiano urbano. Tomar a imagem fotográfica como documento, ou como meio que possibilita entender a realidade urbana, é um desafio ainda posto na pesquisa visual em geografia. Nesse sentido, o objetivo é entender como se configurava cotidiano da cidade de Parelhas/RN, utilizando a fotografia monocromática de meados do século XX.
METODOLOGIA:
O nosso estudo está vinculado ao Projeto "Espaço e Memória: o Seridó potiguar nas fotografias do século XIX e XX" cujo objetivo geral é compreender espacialmente e temporalmente a região do Seridó Potiguar a partir do uso de imagens fotográficas, fazendo uma geografia pautada na visualidade do espaço. Realizamos investigações sobre o cotidiano da cidade de Parelhas/RN, utilizando as fotografias acervo do banco de dados da pesquisa "Fotografia e Complexidade: itinerários norte-rio-grandenses". Referente a Parelhas, nosso lócus de investigação, o acervo disponibiliza cerca de 1000 fotografias, dentre estas, utilizamos 80 imagens (ainda monocromáticas), que revelaram, de maneira particular, o cotidiano da referida cidade (suas inquietações políticas, sociais e culturais). Com estas fontes, fizemos uma atividade de catalogação, utilizando o modelo sugerido por (MAUAD, 1996), em que os elementos revelados no conteúdo imagético são cuidadosamente descritos e quantificados. Recorremos também, a abordagens teóricas da Geografia Cultural (CLAVAL, 2007) e da Imagem Fotográfica como fonte histórica (KOSSOY, 1989), a partir desses referenciais problematizamos o espaço urbano (CORRÊA, 1989) e utilizamos textos, artigos de revistas e periódicos sobre a historia regional.
RESULTADOS:
Na busca de uma Geografia Visual da cidade de Parelhas/RN, encontramos na bibliografia e nas imagens fotográficas, um lugar arraigado em um cotidiano "pacato", característico das pequenas cidades da região Seridó em meados do século XX. Seu cotidiano era regido pelas celebrações religiosas e pelos dias de feira, atos que caracterizam uma urbe em seus primeiros passos. No entanto, houve também inquietações políticas, econômicas e culturais, que marcaram a história da vida social da cidade. Neste sentido, a fotografia teve o papel importante de apreender aquele espaço em uma determinada conjuntura sócio-espacial, pois, como nos aponta Corrêa (1989) "O espaço urbano é o reflexo da sociedade, é reflexo das ações que se realizaram no presente e as que se realizaram no passado", enquanto documento histórico a fotografia serve para atestar a existência desses lugares e propiciar o estudo dos acontecimentos passados. A imagem fotográfica possui um papel importante na apreensão dos sujeitos e dos lugares que povoaram o espaço, atuando como testemunho visual, revelando de maneira parcial, um mundo particular. E neste ínterim, Kossoy (1989) aponta, "toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará sempre a criação de um testemunho".
CONCLUSÃO:
Os apontamentos teóricos e metodológicos leva-nos a compreensão de um cotidiano da cidade de Parelhas/RN, que observado a partir das fotografias, revela um cenário engendrado na tranqüilidade, no qual o homem impregnou suas marcas no espaço produzindo o seu lugar de (com)vivência, um lugar munido de um poder simbólico, e que este homem na tentativa de preservá-lo na história e na memória, acabou por aprisioná-lo sob forma de imagem fotográfica. Tomando por referência a idéia de Claval (2007) quando aborda a questão das cargas simbólicas, apontando a importância da inexorável relação do sujeito com sua base territorial (o espaço), na construção das identidades coletivas entre os membros que integram o lugar, pode-se identificar na imagem fotográfica a expressão dessa relação. A fotografia, ao congelar o cotidiano da cidade através de imagens, cria uma geografia visual que revela a força das ações geográficas dos sujeitos, imprimindo no espaço as suas singularidades. Fazer o uso de fontes como os "documentos fotográficos", permite a construção de um contexto histórico e geográfico a partir de sua observação e análise, possibilitando o elo da relação imagem - espaço, criando o que denominamos aqui de uma "Geografia Visual".
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Cotidiano da cidade de Parelhas/RN, Geografia Visual, Imagem Fotográfica.