62ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 6. Engenharia de Produção
AÇÃO CONVERSACIONAL COMO FERRAMENTA PARA A ANÁLISE DA ATIVIDADE E ALIMENTAÇÃO DOS PESCADORES: UM ESTUDO DE CASO COM OS JANGADEIROS DA PRAIA DE PONTA NEGRA, NATAL/RN
Larissa Praça de Oliveira 1, 5
Ana Paula de Souza Cruz Mendonça 2
Tatiane Andreza Lima da Silva 2
Ana Vládia Bandeira Moreira 3
Maria Christine Werba Saldanha 1, 4
1. GREPE / PEP / UFRN
2. Curso de Nutrição / UFRN
3. Departamento de Nutrição e Saúde / UFV
4. Departamento de Engenharia de Produção / UFRN
5. Bolsista Mestrado - CAPES
INTRODUÇÃO:
A pesca artesanal em jangadas é intrínseca ao Nordeste Brasileiro. No Rio Grande do Norte esta atividade é bastante representativa e contribui com 2175 t de pescado,o que corresponde a 12,10% do volume anual da produção pesqueira (IBAMA-RN, 2007). A jangada utilizada em Ponta Negra é um tipo de embarcação artesanal construída em compensado naval e madeira, com propulsão a vela e/ou a motor e os pescadores que utilizam este tipo de embarcação são chamados de jangadeiros. Estes desenvolvem suas atividades em precárias condições de trabalho, o que somados à imprevisibilidade em alto mar e condições metereológicas adversas, aumentam os riscos de acidentes de trabalho e agravos a saúde. Além disso, a ausência de uma alimentação equilibrada, que atenda todas as suas necessidades, bem como de uma correta manipulação destes alimentos, são problemáticas comuns evidenciadas entre os pescadores. Neste contexto, esta pesquisa objetivou analisar a atividade de trabalho e a alimentação dos jangadeiros de Ponta Negra a partir dos princípios metodológicos da ação conversacional inseridos no processo de Análise Ergonômica do Trabalho. Pretende-se também com este estudo demonstrar a aplicabilidade desta ferramenta para o levantamento de dados em comunidades de baixa escolaridade.
METODOLOGIA:
Este estudo faz parte de uma pesquisa de mestrado que foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN e caracteriza-se como estudo de caso, do tipo descritivo exploratório, com tamanho amostral de 21 pescadores. Para a análise da atividade e da alimentação dos jangadeiros utilizou-se metodologia baseada na Análise Ergonômica do Trabalho (VIDAL, 2008, SALDANHA, 2004 e CARVALHO, 2005), que emprega técnicas interacionais e observacionais como ação conversacional, escuta das verbalizações, protocolos de observação, registros fotográficos e vídeos. O roteiro dinâmico da ação conversacional foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas sobre a pesca artesanal, cultura e hábitos alimentares desta população e, análises globais na situação de foco e em duas situações de referência. Estes roteiros foram aplicados entre os meses de julho a novembro de 2009 pelos pesquisadores, no local de trabalho dos jangadeiros e/ou nas suas residências. As entrevistas foram gravadas com o auxílio de um MP4 da marca Mobile Player, bem como foram anotadas as falas e os significados das entonações da voz ou expressões faciais. Em seguida foram transcritas e os resultados foram tabulados e analisados com auxílio uma Matriz de Inclusão de Comentários.
RESULTADOS:
A atividade jangadeira é desenvolvida quase todos os dias da semana e a estratégia da organização do trabalho (equipamentos, utensílios e alimentação) depende do tipo de pescaria desenvolvida (verão ou inverno). A prática de empurrar e puxar a embarcação, associada ao manuseio das redes de pesca e ao transporte do pescado para a comercialização demandam um intenso esforço físico, promovendo a fadiga muscular em 95% dos jangadeiros. Constatou-se o baixo consumo de frutas e hortaliças. 67% dos jangadeiros consomem tomate, cebola e coentro apenas para temperar as preparações. Os alimentos que apareceram em destaque foram: o peixe (100%), feijão com carne (57%), arroz (52%) e a farinha de mandioca (52%). Há diferenças entre o tipo e o volume de alimento consumido durante as pescarias de inverno e verão, principalmente devido à ausência de um local adequado na embarcação para o acondicionamento destes. 95% dos jangadeiros acham que os alimentos se estragam devido à temperatura de armazenamento inadequado e 100% reconhecem a necessidade do gelo para o armazenamento, mas não o utilizam devido ao alto custo. A renda proveniente da pescaria é outra problemática que interfere no acesso aos alimentos. 62% dos jangadeiros afirmaram que a mesma não conseguir suprir suas necessidades diárias.
CONCLUSÃO:
Esta pesquisa evidenciou a aplicabilidade da ferramenta da ação conversacional para o levantamento de dados em comunidades com baixo nível de escolaridade. A dinâmica da "entrevista orientada", desenvolvida a partir de conversas, proporcionou aos pesquisadores um maior entendimento das situações de trabalho analisadas, bem como a relação da alimentação durante a sua jornada de trabalho e do significado desta na vida dos pescadores. As vivências percebidas e sentidas através das expressões faciais dos jangadeiros, durante as conversas, são pontos importantes que geralmente são despercebidos ao se utilizar questionários elaborados a partir de perguntas fechadas. A análise quantitativa a partir dos dados qualitativos enriquece a pesquisa, pois possibilita a introdução de comentários que facilitam o entendimento e a gravidade do problema. Os resultados encontrados apontam para a necessidade de melhorias nas condições de trabalho e alimentação dos jangadeiros de Ponta Negra. As práticas alimentares destes pescadores comprometem o desenvolvimento do trabalho, tornando-o ainda mais desgastante, além de contribuir para o desenvolvimento de doenças e consequentemente, redução na qualidade de vida dos pescadores da região.
Instituição de Fomento: CAPES, CNPQ, PROEXT-MEC-SESU, PROEXT-UFRN, PROPESQ-UFRN
Palavras-chave: Jangadeiros, Ergonomia, Nutrição.