62ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística |
ANÁLISE COGNITIVISTA DAS RELAÇÕES METAFÓRICAS NA CRÔNICA MAL-ESTAR DE UM ANJO DE CLARICE LISPECTOR |
Caetana Araujo Cardoso 1 |
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ UFRN |
INTRODUÇÃO: |
Para os cognitivistas, o sujeito constrói seu pensamento, sua linguagem a partir da sua relação com o meio social e cultural. Eles, mais vinculados à teoria relativista, determinam que a formação dos conceitos humanos esteja relacionada à influência do meio no qual o sujeito produtor da língua vive. Baseado nessa visão cognitivista de enxergar o funcionamento da linguagem atrelada pensamento, objetiva-se analisar a inserção do pensamento na construção das relações metafóricas na linguagem do narrador personagem da crônica Mal-estar de um anjo de Clarice Lispector; partindo da compreensão de que as metáforas criadas na narrativa, na voz do narrador personagem, refletem as relações cognitivistas existentes entre a mente da autora e sua percepção do meio social. Estudar o processo de construção das metáforas, aqui, é ter consciência para além da personagem da narrativa. |
METODOLOGIA: |
A partir da leitura da teoria cognitivista, da ideia de metáfora relacionada à cognição, bem como da biografia de Clarice Lispector, é que se pôde, com propriedade, analisar o processo de construção metafórica ao interpretar e representar o meio social na crônica Mal-estar de um anjo. A abordagem da metáfora, aqui, deve ser entendida em seu sentido mais amplo envolventos conceitos de Metáfora Lingüística - aquela materializada verbalmente pelo falante de uma língua - e de Metáfora Conceitual - estruturada no pensamento humano. Está última torna-se relevante para a análise, pois é no processo de metaforizar o meio que ocorrem as relações mentais cognitivistas. |
RESULTADOS: |
Na narrativa de Clarice, as metáforas surgem nos momentos de introspecção da personagem, narradora da crônica. Como se pôde observar, parte da narrativa é construída por meio de comparações e linguagens figuradas e isso só é possível porque há uma relação estabelecida na mente do autora, entre o pensamento e a referência, o objeto a ser metaforizado. A metáfora, dentro do processo de construção, externa a relação mental daquele que a criou; sendo assim, é possível entender as relações dos processos cognitivistas organizadas na mente do autora, ou seja, os esquemas articulados por ela na construção dos sentidos metafóricos. Bem como entender que é por meio dessas relações lógicas, nas construções das metáforas, que se compreende, também, o universo da cronista. |
CONCLUSÃO: |
As crenças, a cultura que está empregada na alma do autora reflete em sua obra. É na percepção, através da leitura da vida de Clarice Lispector e do seu universo textual literário ( no caso a crônica), que os sentidos metafóricos foram estabelecidos, captando e identificando o universo da autora. Dessa forma, deve-se pensar em metáforas como figura de pensamento, modelos cognitivistas que são construídos a partir do entendimento do meio social-cultural realizado pelo sujeito. O ser humano quando nasce não tem noção de conceitos como chuva, vida, anjo, dilúvio, arca, asas ( palavras metaforizadas na crônica) dentre outras. Este conhecimento é construído no meio, através da experiência, transformado em linguagem e tem o seu sentido ampliado a partir de seu uso metaforizado. Ler a crônica é reconhecer fragmentos linguísticos do universo do autora, e quando falamos em metáfora, essa relação é bem mais evidenciada. |
Palavras-chave: Linguagem, Metáfora, Cognição. |