62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
ESTUDO SÓCIO-ECOLÓGICO DO TRABALHO DAS CATADORAS DE MARISCO DO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA-PB
Glaucineth Cavalcante de Albuquerque Lima 1
Cizía de Assis Romeu 1
Marinalva de Sousa Conserva 1
Emanuel Luiz Pereira da Silva 1
1. DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL, CCHLA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA/UFPB
INTRODUÇÃO:

A pesquisa focaliza as imbricações contemporâneas no que infere o trabalho, processamento e manuseio ecológico da coleta de mariscos pelas mariqueiras da grande João Pessoa que envolve os municípios de Bayeux, João Pessoa e Cabedelo, que incidem na área de influencia direta no estuário e que dependem do ambiente onde os moluscos bivalves se desenvolvem. Esta temática inclui a organização social e de trabalho das marisqueiras, que agilizam a produção e sua relação com o meio ambiente de onde o marisco é extraído. Como vivemos na era do extermínio (SCHMIED - KOWARZIK, 1999, p.6) e estamos passando do modo de produção para o "modo de destruição" dos ecossistemas naturais, e a nossa contribuição visa dar visibilidade à atividade das marisqueiras que estão imbricadas nesse processo de trabalho e meio ambiente. Desse modo, através desta pesquisa investigativa, houve a contribuição para os modos de desvelamento dos meandros das relações entre as marisqueiras entre si na labuta da cata de mariscos, e assim proporcionou à reafirmação do equilíbrio ecológico do ambiente dos mariscos, que, por sua vez possibilitará compreender a sustentabilidade social e ecológica dessas comunidades. A pesquisa em pauta se propõe em Analisar o processo de organização do trabalho a partir das condições de sócio-ecológicas em que ocorrem na cata e comercialização dos moluscos coletados pelas marisqueiras das comunidades ribeirinhas do estuário do Rio Paraíba.

METODOLOGIA:

Pesquisa de abordagem qualitativa, esta preocupa-se com uma realidade do cotidiano dos indivíduos sociais que não pode ser quantificada, respondendo a questões muito particulares, trabalhando em um universo de significados, crenças, valores, hábitos e que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos fenômenos que não podem ser reduzidos á operacionalização de varáveis, sendo assim empregada para a compreensão de complexidades internas (TRIVINOS, 1995).O método instrumento metodológico apropriado para esta pesquisa concerne na história de vida que é uma das abordagens da pesquisa qualitativa. Este instrumento ressalta o momento histórico vivido pelo sujeito. Assim, esse instrumento é necessariamente histórico (a temporalidade contida no relato individual remete ao tempo histórico), dinâmico (apreende as estruturas de relações sociais e os processos de mudanças) e dialético (teoria e prática são constantemente colocados em confronto durante a investigação). Já Camargo (1984) complementa que o uso da história de vida possibilita apreender a cultura "do lado de dentro", constituindo-se em instrumento valioso, uma vez que se coloca justamente no ponto de inserção das relações entre o que é exterior ao individuo e aquilo que ele traz de dentro de si. O mesmo pensa CIPRIANI (1998) quando considera o "livre fluir do discurso", condições indispensáveis para que as vivencias pessoais despontem profundamente no social.

 

RESULTADOS:

As mulheres têm uma longa tradição na história da pesca artesanal, o seu modo de vida assenta na exploração da pesca familiar e elas são trabalhadoras experientes e conhecedoras essências para a sobrevivência das comunidades ribeirinhas distribuídas ao longo do estuário do Rio Paraíba. A vida cotidiana das marisqueiras é organizada entre o trabalho reprodutivo/domestico e o trabalho produtivo. Para algumas se acrescenta as atividades comunitárias e sociais, que repercutem na divisão sexual do trabalho. Na esfera privada, assumem as tarefas domesticas e reprodutivas no cuidado com a educação das crianças que é um caso crítico, pois observa-se um número enorme delas realizando a catação de mariscos junto as suas mães que de forma significativa contribui para evasão escolar na comunidade, pois, muitas crianças chegam exaustas da atividade de coleta mariscos, acabando assim não indo á escola.Conforme Silva & Conserva (2009), o nível de escolaridade dessas mulheres revela baixo grau de instrução, verifica-se que 30% são analfabetas e apenas 10% terminaram o ensino fundamental I. Com relação ao número de filhos e filhas, constatou-se que 40% das marisqueiras possuem cinco ou mais filhos (as). A coleta de moluscos constitui a principal fonte de renda, obtida por estas mulheres, das quais 53,33% ganham entre 2 a 2,5 salários mínimos, enquanto o homem obtém um maior salário na captura de caranguejos de 2,5 a 3,5 salários mínimos, apresentando elevada desigualdade em que a mulher apresenta muitas vezes uma maior jornada de trabalho.

 

CONCLUSÃO:

È necessário implementar ações que venham a contribuir para que as mulheres possam ser protagonistas em processos de mudança que garantam o exercício da sua plena cidadania e para a melhoria de suas condições de vida, que garantam políticas públicas com equidade de gênero, incorporando e reconhecendo seu trabalho produtivo e reprodutivo. Desta forma, as mulheres marisqueiras além de enfrentarem desigualdades nas relações de gênero, o trabalho que exercem não é reconhecido formalmente, não tem estatuto legal, e não possuem direitos previdenciários, direitos a seguridade social e direitos a formação profissional. A relação entre o homem e a natureza, a construção de uma sociedade sustentável, justa e eqüitativa se torna imprescindível para o desenvolvimento do ser social. Igualmente, torna-se necessário uma articulação com o poder público onde as pessoas, a sociedade civil organizada, em parceria com o estado nos seus três níveis de governo, precisam contribuir com uma parcela significativa na criação das cidades e campos saudáveis, e que sejam sustentáveis, isto é, com qualidade de vida.

 

Palavras-chave: marisqueiras, trabalho, meio ambiente.