62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
O NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA
Liduína Maria Vieira Fernandes 1
1. Curso de Letras, Universidade Estadual do Ceará / UECE
INTRODUÇÃO:

Não se pode negar a constante presença do negro na ficção brasileira. Mas o que se constata é que os negros foram relegados aos papéis secundários ou quando muito tinham trânsito livre nas casas dos senhores, finalizavam causando alguns transtornos a essas famílias. Então, o objetivo desta pesquisa foi fazer um recorte de algumas obras de escritores brasileiros mais presentes nos compêndios de literatura e, consequentemente, mais trabalhados pela crítica para mostrar como o negro foi visto pela tradição literária brasileira. Com esse material em mãos iniciamos uma investigação criteriosa nos textos ficcionais(romances, poesias), nos autores e na crítica tendo como  prioridade as questões referentes à problemática do negro no campo da literatura brasileira de modo que acreditamos estar contribuindo para ampliar o leque dos estudos críticos / literários nesse assunto.

METODOLOGIA:

Para tal pesquisa, selecionamos autores e obras que tiveram mais evidência no cenário literário do período Árcade ao Modernismo. Ao focarmos a problemática do negro em cada obra literária passamos a observar como se dava, dentro dos casarões, dos sobrados, a relação entre negros e brancos; a relação dos negros entre si; a violência aos negros imposta, desde a física exercida, sobretudo pelos feitores à cultura que incidia sobre seus costumes, sua língua, suas crenças, suas formas de manifestações culturais. Assim, para abordarmos todos esses aspectos nos textos selecionados fizemos uma investigação teórico-interpretativa, avançando pelo texto de forma atenta, buscando fazer uma leitura dos aspectos mais importantes, utilizando a análise do discurso poético e de seus recursos formais e significativos. Para justificar nossa pesquisa, recorremos às leituras teóricas e críticas referentes a cada estética como também para abordarmos as questões referentes ao universo do negro, buscamos subsídios nos estudos de Zilá Bernd, Roger Bastide, Clóvis Moura, David Brookshaw, Jean  Marcel Carvalho França, dentre outros. Por fim, fizemos um levantamento de teses, dissertações, artigos de jornais, revistas e livros já publicados sobre essa temática.

RESULTADOS:

A análise das situações vivenciadas por personagens negras levou-nos a perceber o grau do malefício causado pelo processo de assimilação cultural, de embranquecimento, aos quais os negros foram submetidos, os danos irreversíveis da violência a eles imposta, a zoomorfização e a reificação a que foram sujeitados, as quais emergem  das imagens trazidas nos textos. O que ficou evidente é que muitos dos escritores brasileiros foram seduzidos por o ideal de beleza branca, aceitando a premissa básica do racismo, de supremacia da raça branca e por outro lado subestimando a realidade negra e mestiça, ocultando em seus textos a contribuição dos elementos indígenas e africanos. Por muitos anos o negro não foi admitido como assunto literário (poético). Os escritores insistiam em um ideal de beleza, simbolizado no elemento branco. Desse modo, com exceção de uns poucos, como Luís Gama (1830-1882), a maioria dos escritores brasileiros procuraram omitir referência ao negro. Não podemos negar a importância do movimento Modernista no Brasil, que ao pregar a valorização dos elementos étnicos primitivos brasileiro ampliou o espaço para que as abordagens das temáticas, dentre outras, indígena e negra, a primeira - já bastante explorada no romantismo - voltem a assomar no espaço literário brasileiro. Mas mesmo assim evidenciaram em seus manifestos a figura do índio, como símbolo nacional, em detrimento do negro.

CONCLUSÃO:

Com base no que afirmamos anteriormente, vale lembrar o pensamento do crítico Antonio Candido sobre essa temática ao colocar que ao mesmo tempo em que ressalta a ousadia de escritores, de se voltarem tão contundentemente sobre essa questão, critica a maneira como os fazem, vendo-a como consequência das barreiras preconceituosas que limitavam os poetas e romancistas no tocante à representação do negro na literatura brasileira. Ao centrarmos nossa pesquisa nas questões sobre o negro trabalhadas pela tradição literária brasileira, percebemos que a presença de personagens negras e mulatas, tanto nos textos poéticos, como nos romanescos, se dá através de um olhar distanciado e distorcido, marcado, na maioria das vezes, por uma visão preconceituosa. Além disso, essas personagens quase sempre não têm voz e, quando falam, seus discursos são sempre mediados pela voz do narrador. Mas, apesar de toda essa negatividade acerca do negro na ficção, a nossa pesquisa revelou aspectos positivos em textos publicados em meados do século XX, como por exemplo, a questão da resistência, da luta, e, ainda, do sonho de liberdade que os movia na direção da reconstrução da identidade perdida.

Palavras-chave: Literatura, Personagens, Negros.