62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 6. Recursos Florestais e Engenharia Florestal
FRUTÍFERAS COMESTÍVEIS NATIVAS EM ÁREAS DE FLORESTAS PRIMÁRIAS NO MUNICÍPIO DE MANUEL URBANO, ACRE
João Bosco Nogueira de Queiroz 1
Peter Weigel 3
José Antonio Scarcello 2
José Vicente da Silva 1
José de Ribamar Bandeira 1
Evandro José Linhares Ferreira 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
INTRODUÇÃO:
A fruticultura corresponde a 25% do valor da produção agrícola nacional, ocupa cerca de 2,3 milhões de hectares e gera aproximadamente 5,6 milhões de empregos. Está em franca expansão na Amazônia, onde é a quarta atividade econômica mais importante depois da mineração, da exploração madeireira e da pecuária. A região é o mais importante repositório de frutíferas nativas do Brasil e abriga 220 das 500 espécies reconhecidas. A maioria das fruteiras amazônicas é pouco conhecida e são encontradas somente em estado selvagem. Algumas, entretanto, ganharam reconhecimento mercadológico, sendo exploradas ou cultivadas: cacau (Theobroma cacau), açaí (Euterpe oleracea), castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), taperebá (Spondias mombin) e tucumã (Astrocaryum aculeatum). Apesar do seu potencial econômico e genético, muitas estão ameaçadas em razão da destruição das florestas nativas. No Acre a fruticultura ainda é pouco desenvolvida. Nos mercados locais predominam frutas importadas, vendidas a preços baixos, em contraste com o alto preço cobrado pelas poucas espécies nativas à venda. Este trabalho consiste em um estudo sobre a ocorrência de frutíferas nativas em áreas de florestas primárias nas cercanias da cidade de Manuel Urbano, no Estado do Acre.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em quatro propriedades rurais das margens do rio Purus, duas delas localizadas a 7,8 e 10 km, em linha reta, a sudoeste da cidade de Manoel Urbano (8°50'29"S; 69°15'25"W. Alt. 142 m) e outras duas localizadas a 7,8 e 20 km, também em linha reta, a nordeste da mesma cidade. Antes da ida ao campo, foram visitados mercados e feiras da cidade para conhecer a diversidade de frutas nativas à venda e obter informações sobre as espécies mais comuns e prováveis locais de ocorrência. Estas informações eram a base para a seleção dos locais de realização do estudo. Em cada um deles foi realizada uma entrevista semi-estruturada com um extrativista (seringueiro) reputado como profundo conhecedor da flora local. Durante a entrevista foi elaborada uma lista com nomes vulgares e características gerais das frutíferas nativas da floresta local. Por último, era realizada uma incursão pela floresta na companhia do informante para identificar todas as frutíferas existentes ao longo de uma trilha pré-existente. Todas as espécies localizadas até 10 m de distância de ambos os lados do eixo dessa trilha foram identificadas e eventualmente coletadas. Em cada trilha foram percorridos aproximadamente 6 km, resultando em uma área avaliada de aproximadamente 12 hectares/ponto de estudo.
RESULTADOS:
Embora os comerciantes de Manuel Urbano tivessem algum conhecimento sobre frutíferas comestíveis nativas das florestas do entorno da cidade, nenhuma delas era oferecida à venda no mercado da cidade. Nas áreas florestais levantadas, foram identificadas 52 espécies frutíferas comestíveis nativas pertencentes a 21 famílias botânicas. Arecaceae (12), Annonaceae (4), Sterculiaceae (4), Anacardiaceae (3) e Moraceae (3) foram as famílias mais diversificadas. No que se refere ao hábito, 44% das espécies eram árvores de grande porte, 31% árvores de pequeno a médio porte, 23% palmeiras e 2% lianas. Segundo informação dos extrativistas, a maioria das espécies (31) frutifica entre outubro e março, durante o período chuvoso na região. Duas espécies, maracujá (Passiflora sp.) e a ingá (Inga sp.) frutificam o ano todo. As demais espécies frutificam no período mais seco do ano, entre maio e setembro. Dentre as espécies indicadas como raras pelos extrativistas, se destacam a envira-caju (Onychopetalum krukoffii. Annonaceae), o marfim (Agonandra silvatica. Opiliaceae), o xixá (Cordia sp. Boraginaceae) e a xixica (Aiphanes aculeata. Arecaceae).
CONCLUSÃO:
As áreas florestais estudadas nas cercanias da cidade de Manuel Urbano, sede do município de mesmo nome, apresentam uma grande variedade de frutíferas nativas comestíveis. A maioria, entretanto, é consumida apenas pela fauna silvestre e eventualmente pelos extrativistas na época da frutificação. Nenhuma era oferecida à venda no mercado de Manuel Urbano. Esta situação, muito comum em todo o Acre, é uma contradição tendo em vista que a maioria da população das áreas urbanas do Estado é oriunda das zonas rurais. Portanto, a criação de mecanismos para garantir a oferta de frutas nativas nos mercados locais do Estado é importante não apenas para enriquecer a dieta alimentar da população e impulsionar o agronegócio local, mas também para promover a preservação das áreas florestais ricas nestas espécies comestíveis.
Palavras-chave: Acre, frutíferas nativas, diversidade.