62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
DESCRIÇÃO E COMPARAÇÃO DO CANTO DE MACHOS E FÊMEAS DE Herpsilochmus pectoralis EM FRAGMENTOS DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Carlos Allan de Souza Oliveira 1
Marcelo da Silva 2
Tonny Marques de Oliveira Junior 1
Mauro Pichorim 1, 3
1. UFRN, Centro de Biociências, DBEZ
2. UnP, Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde
3. Profº. Dr. Orientador
INTRODUÇÃO:
Herpsilochmus pectoralis é uma ave endêmica do nordeste com distribuição geográfica pelos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia e Sergipe (Ridgely & Tudor 1994, Zimmer & Isler 2003, Pereira et al. 2005). É considerada ameaçada de extinção pelo MMA e ameaçada na categoria vulnerável pela IUCN (MMA 2003, MMA 2008, IUCN 2010). Embora Sick (1997) e Sigrist (2009) afirmem que a espécie é endêmica das matas secas de áreas de Caatinga, Silva (2007) registrou a espécie em diversas localidades no domínio da Mata Atlântica. Recentemente Silva et al. (2009) fizeram a primeira descrição da reprodução de H. pectoralis em hábitats florestais costeiros do Rio Grande do Norte. Segundo Sick (1997) o canto da espécie é composto por uma sequência de notas descendentes que lembra o canto dos Thamnophilus. Machos e fêmeas de H. pectoralis possuem uma marcada semelhança em seus repertórios vocais, dificultando em campo a identificação do sexo dos espécimes por meio do canto. Esse trabalho visa descrever e comparar o canto de machos e fêmeas da espécie, servindo de referência para realização de outros estudos bioacústicos, além de acrescentar mais dados sobre a biologia de uma espécie ameaçada de extinção.
METODOLOGIA:
As gravações foram realizadas em 06/2006 no Parque Estadual das Dunas, município de Natal e em 07/2007 Parque Industrial, município de Parnamirim. Ao todo obtivemos 118 gravações de 28 indivíduos (macho = 15, fêmeas = 13) de canto natural não estimulado por play-back. Só foram analisados cantos em que foi possível o contato visual, auxiliado por binóculo 8x25, para a identificação do sexo do espécime. Para a gravação dos cantos utilizou-se o Gravador Sony TCD-D8 com microfone direcional Sennheiser-ME66/K6. As análises bioacústicas foram feitas no Laboratório de Ornitologia da UFRN com o uso do programa Raven Bioacustical analyses 1. 2. 1. Para a descrição geral do canto foram analisadas em conjunto as três primeiras notas, a nota central e as três finais de cada canto com relação aos parâmetros de forma, duração e frequência de maior potência. Os parâmetros utilizados para comparar cantos de machos e fêmeas foram: número de notas do canto, duração total do canto e frequência de maior potência do canto. Para testar a hipótese da existência de somente um grupo de médias para as medidas tomadas dos cantos de machos e fêmeas foram aplicados testes t ao nível de significância de 0,05 seguindo as premissas de Zar (1984) e utilizando o programa JMP 4.0.4 (SAS Institute Inc. 2001).
RESULTADOS:
O canto de H. pectoralis caracteriza-se inicialmente por uma seqüência de notas curtas (média 0,061± 0,001 s) com leve modulação de frequência ascendente-descendente na forma de meia lua (Freq. > potência = 1822,8 ± 253,0 Hz). A nota central possui menor duração (média 0,045±0,006 s) e modulação ascendente-descendente mais pronunciada, algo parecido com o formato da letra "V" invertida (Freq. > potência = 1838,8±181,8 Hz). As notas finais são ainda mais curtas (média 0,038±0,005 s) com somente a parte descendente de modulação (Freq. > potência = 2032,6±812,0 Hz). O número médio de notas do canto dos espécimes foi de 25,5±3,0 (variação entre 17 e 34), a duração total foi de 1,93±0,24 s (variação entre 1,41 s e 2,44 s) e a média da frequência de maior potência foi de 1840,1±143,1 Hz (variação entre 1464,3 Hz e 2239,5 Hz). O canto dos machos foi composto por mais notas que o das fêmeas (média machos = 26,86 ± 2,18; média fêmeas = 23,45± 2,90; t = 7,28; g.l. = 116; p < 0,05). A duração total do canto também foi maior nos machos (média machos = 2,04±0,20 s; média fêmeas = 1,78±0,21 s; t = 6,46; g.l. = 116; p < 0,05). Por outro lado, a frequência de maior potência foi maior nas fêmeas (média fêmeas = 1901,9±127,5 Hz; média machos = 1798,1±138,6 Hz; t = 4,09 ; g.l. = 114;p < 0,05).
CONCLUSÃO:
Os dados analisados mostram que o canto de machos e fêmeas de H. pectoralis são distintos em pelo menos três aspectos: número de notas, duração total e frequência de maior potência. Os machos de Thamnophilidae geralmente cantam primeiro para depois a fêmea responder com canto mais curtos, com menos notas e mais agudo, embora isto não seja um padrão para toda a família (Zimmer & Isler 2003). É possível que estas variações tenham grande importância ecológica e comportamental auxiliando os espécimes a encontrarem parceiros sexuais e/ou demarcarem territórios. Obviamente as funções destas diferenças dependem da comprovação por meio de estudos experimentais em campo com condições controladas.
Instituição de Fomento: REUNI - Restauração e Expansão das Universidades Federais
Palavras-chave: Vocalização, Herpsilochmus pectoralis, Thamnophilidae.