62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
PERFIL DE CRIANÇAS ABRIGADAS EM CASA DE PASSAGEM: UM ENFOQUE NA INTEGRALIDADE DO CUIDADO
Renata Cristina Barros Leite 1
Pâmela Katherine Nelson 1
Daniele da Silva Macêdo 1
Cecília Olívia Paraguai Oliveira 1
Stella Beatriz Rodrigues Pinto 1
Nadja de Sá Dantas Rocha 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
INTRODUÇÃO:
A violência contra a criança ou adolescente pode ser definida como qualquer ação ou omissão que provoque danos, lesões ou transtornos ao desenvolvimento, pressupondo uma relação de poder desigual e assimétrica entre estes e o adulto. Atualmente esta é uma realidade inegável em nosso país, sendo responsável por altas taxas de morbidade e mortalidade podendo ser considerada um grave problema de saúde pública. Diante de uma vida atrelada à violência, seja ela física ou psicológica, muitas crianças e adolescentes são abrigadas em instituições como as Casas de Passagem, as quais passam a representar o seio familiar destes indivíduos. Desse modo, o princípio que deve nortear a ação dos que trabalham em abrigos deverá ser sempre o de garantir às crianças e adolescentes as condições necessárias para o seu pleno desenvolvimento, referendadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Buscamos, portanto contribuir para um novo enfoque ético-humanista da formação dos estudantes de graduação da área da saúde, pautados na multiprofissionalidade e integralidade do cuidado, avaliando a situação psicossocial das crianças abrigadas e o perfil institucional de uma Casa de Passagem.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado na Casa de Passagem II através de aplicação de questionário estruturado abordando os seguintes critérios: perfil institucional, nos aspectos históricos, estruturais, profissionais e do trabalho realizado; caracterização do perfil da criança dirigindo-a perguntas sobre o seu nome, idade, família, se freqüenta a escola, dia da semana, motivo de estar na instituição, se tem vontade de voltar a morar com a família, se já fugiu da casa e o porquê, o que acha da casa de passagem, o que espera do futuro e como era a relação com os pais; análise de desenho com tema livre (realizado pela criança). A aplicação de questionário dirigido realizado em junho de 2009, por uma equipe composta por alunas de graduação, na sala das atividades pedagógicas da casa. Posteriormente, foi realizada a etapa da complementação dos dados da identificação e do perfil psicossocial junto às assistentes sociais da casa e, por conseguinte o comportamento de cada criança foi relatado pela psicóloga. Por último foi aplicado um questionário relativo à descrição da Casa de Passagem II, respondido pela coordenadora.
RESULTADOS:
A idade das crianças abrigadas era em média 9,35 anos, 70,5% eram do sexo masculino e estavam em média há três meses na unidade. Dentre os motivos para admissão na instituição, destacaram-se situações de risco e vulnerabilidade, relacionadas à falta ou à fragilização dos vínculos familiares e comunitários, é o caso de 59,2% dos entrevistados, 17,6% eram vítimas de negligência, 17,6% sofreram maus tratos e violência doméstica, 5,8% não gostavam de casa e 5,8% não sabiam o motivo. Quanto ao abrigo, 70,2% afirmam gostar do ambiente, apenas 23,4% apresentaram posicionamento contrário e 5,8% não se agradam e por este motivo 35,2% já tentaram fugir pelo menos uma vez da casa. Destaca-se que 82,4% das crianças demonstraram vontade de retornar ao convívio familiar. Apenas 17,6% dos entrevistados não freqüentam a escola. Além disso, todos os desenhos realizados pelas crianças representavam casas, árvores e famílias, demonstrando que apesar das carências e traumas sofridos, almejam constituir um ambiente familiar sólido. Baseado nisto, os profissionais de saúde e a equipe podem nortear o seu trabalho, e ficarem atentos para pistas que auxiliem no rastreamento da violência doméstica. Os estudantes podem contribuir na formação de futuros profissionais engajados no apoio às crianças abrigadas.
CONCLUSÃO:
O fenômeno da violência em suas várias formas (doméstica, institucional e outras) não pode ser explicado por um modelo teórico que considere uma abordagem determinista ou única sobre o problema. As políticas de prevenção ou intervenção nesta área provavelmente terão maior êxito se conseguirmos analisar e compreender esta problemática confrontando diferentes modelos integrados e de natureza complexa e considerando os múltiplos fatores da sua determinação (estruturais, sociais, econômicos, ambientais, etc.). Conhecer o intrincado universo da criança abrigada foi um dos propósitos deste estudo. O conjunto dos resultados revela que, na maioria dos casos analisados, há indícios de que as crianças encaminhadas à instituição não recebiam os cuidados adequados no meio familiar. Em razão disso, diversas costumam ser as dificuldades sentidas pelas crianças no período de adaptação à vida institucional. A freqüência de choro intenso e/ou contínuo, irritabilidade, baixa socialização observada na interação e comunicação do grupo, retraimento social, comportamentos de agressividade e agitação descreve o quão podem ser diversos e graves os prejuízos para o desenvolvimento biopsicossocial da criança, especialmente quando a institucionalização ocorre por um tempo demasiadamente longo.
Instituição de Fomento: Pró-reitoria de Pesquisa e Extensão UFRN
Palavras-chave: Crianças, Abrigo, Cuidado.