62ª Reunião Anual da SBPC

D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva

O CONTATO COM A REALIDADE E A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA DA ÁREA DE SAÚDE

José Jailson de Almeida Júnior 1 Raimunda Medeiros Germano 2

1. Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi/UFRN 2. Departamento de Enfermagem/ Programa de Pós-graduação em Enfermagem/UFRN

INTRODUÇÃO:

O ensino universitário na área biomédica historicamente encontra-se embasado em uma prática centrada no aprendizado acumulativo de conceitos e técnicas, na fragmentação de saberes, desenvolvidos em sua maior parte em ambientes fechados e isolados como salas de aulas e laboratórios. A interação com o mundo externo é restrita aos momentos de práticas supervisionadas e estágio profissional. Capra (1982) afirma que o modelo biomédico está fortemente assentado no modelo cartesiano, separando mente e corpo, impondo uma visão de corpo como máquina que deve ser entendida conforme a organização de suas peças. A visão cartesiana ainda presente nesse modelo de formação se opõe à proposta de educação na qual as pessoas estariam comprometidas não apenas com a sua prática, mas também com o mundo que o cerca. Maranhão (2003) nos chama a atenção que o processo de formação deve acontecer a partir da compreensão de que cada indivíduo apresenta uma característica própria. Desse modo, o ensino deve contemplar várias formas de ensinar e aprender. Assim, entendemos que a formação do indivíduo é fruto de experiências que se sucedem no percurso de sua caminhada pela vida. A inserção do estudante em um cenário de aprendizagem extramuros propicia o desenvolvimento de competências importantes que o leva para a prática da integralidade.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa tendo como referência empírica portfólios de aprendizagem desenvolvidos por estudantes da disciplina Saúde e Cidadania entre o primeiro semestre de 2005 e o segundo semestre de 2007. Utilizou-se a análise de conteúdo de acordo o referencial teórico de Bardin (2004) e Minayo (2007) com o auxílio do software Logos (CAMARGO JÚNIOR, 2000). O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN conforme o parecer final nº. 200/2008.

RESULTADOS:

Apreendemos, nos relatos dos estudantes, que a motivação do contato com uma realidade a qual ele não está familiarizado é demonstrada através da disposição em descobrir o novo. A saída de seu ambiente para descobrir o que existe no espaço do outro representa a mudança de conceitos, o universitário em contato com a realidade tem a oportunidade de viver conceitos in loco, pois estarão em um retrato dinâmico da vida das pessoas em próprio ambiente social. Isso traz efeitos benéficos à construção do conhecimento pelos estudantes, assim como o desenvolvimento de atitudes, habilidades e pensamentos, compreendendo os papéis dos atores e da equipe de saúde. Compreender o outro pode significar ir a busca dele. É isso que a universidade deve oportunizar ao estudante, sair do espaço limitado dos departamentos para poder conhecer a realidade externa. Sarti (1999, p. 06) nos mostra que "sair de seu lugar e colocar-se no lugar alheio é uma viagem sem volta. Não se retorna mais à inocência do ponto de partida, porque esse necessariamente se perde no caminho." Representa-se, assim, que uma mudança de postura pode acontecer a partir do contato com a realidade, despertando no individuo novos sentimentos que antes não poderiam pertencer ao universo dele.

CONCLUSÃO:

Ao analisarmos os relatos, percebemos a construção e ampliação de um olhar sobre a realidade social. Isso possibilita ao estudante descobrir a interação com diversos atores na dinâmica do espaço social na perspectiva de uma formação integral na vivência na comunidade. Esta formação leva o estudante a perceber que é necessário ter uma percepção diferente sobre a realidade na busca de compreendê-la para a construção de uma postura crítica na resolução de seus problemas. Através da metodologia problematizadora o estudante também aprende que seus limites não são os muros da universidade, mas que há um papel social que necessita ser preenchido. É importante um aprendizado em que a compreensão do outro é construída sob uma relação de despojamento de preconceitos, em que há valorização do ser humano através de diversas formas de contato social, como o contato físico e o olhar no olho.

Palavras-chave: Saúde Coletiva, Formação Profissional em Saúde, Interdisciplinaridade.