62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 1. Serviço Social Aplicado
FAMÍLIA COMO ESPAÇO DE CONFLITOS: PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER A PARTIR DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO CREAS DE MARACANAÚ/CE.
Valdênia Lourenço de Sousa 1
Rafaela Silveira de Aguiar 1
Alessandra Liz Magalhães Alves 2
1. Universidade Estadual do Ceará - UECE
2. Orientadora Assistente Social do CREAS de Maracanaú- CE
INTRODUÇÃO:

Historicamente a sociedade brasileira considera a família como um espaço sagrado e harmonioso, no entanto, a partir de estudos contemporâneos sobre essa categoria nota-se a refutação do que outrora fora propagado, passando a considerar a família, também, como um ambiente permeado de conflitos. Esta premissa passa a ser notada, uma vez que as relações familiares são legitimadas no espaço privado, intra-familiar, não evidenciadas no âmbito público, refere-se a isso a violência doméstica, tão envolta nas relações intra-familiares. Todavia, com a promoção da Lei Maria da Penha a violência doméstica se intensifica como uma questão pública, avançando nos números de denúncias de mulheres agredidas, principalmente por seus companheiros. De acordo com inúmeros estudos referentes a essa temática, o uso de drogas lícitas ou ilícitas é apontado como um dos principais motivos elencados pelas mulheres vítimas da violência praticada por seu companheiro/esposo. Dessa forma, esse estudo se constitui em uma abordagem deste fenômeno tendo como local pesquisado o município de Maracanaú, especificamente as mulheres que são atendidas pelo CREAS, buscando compreender a interação entre as relações de gênero, o uso de drogas e a violência doméstica contra as mulheres no ambiente familiar.

METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos foram: levantamento bibliográfico, documental e estatístico sobre os casos acompanhados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS de Maracanaú/CE; pesquisa exploratória; e diário de campo, onde se registrou aspectos relevantes retirados dos depoimentos das mulheres atendidas. Analisou-se cinco casos referente a violência física e psicológica contra mulheres na faixa etária de vinte e cinco a quarenta anos.  Vale ressaltar que nos casos supracitados nesse estudo foram realizadas visitas domiciliares a fim de coletar informações complementares acerca do histórico da violência doméstica e sua interligação com as drogas e as relações de gênero. 
RESULTADOS:

No município de Maracanaú o CREAS foi implantado em 2006 e disponibiliza atendimento a indivíduos e famílias em situação de violação de direitos, em decorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil e violência doméstica. Nos cinco casos pesquisados atinentes a violência doméstica contra a mulher observou-se que, em sua maioria, a denúncia é formulada como negligência e/ou maus tratos a crianças e/ou adolescentes, sendo que a violência doméstica contra a mulher, por vezes, evidencia-se no decorrer das visitas. Todas as mulheres entrevistadas atribuíram a violência sofrida ao fato dos companheiros estarem sob efeitos de bebida alcoólica e/ou drogas ilícitas, desconsiderando as relações hierárquicas que vivenciam cotidianamente. Questionadas sobre o relacionamento conjugal todas afirmaram que o mesmo é conflituoso, contudo a violência só acontece quando seu companheiro está sob o efeito de drogas. Percebe-se que a ideologia do patriarcado está presente no cotidiano social. As entrevistadas apontaram o álcool e/ou a droga ilícita como o grande causador de tal violência, não percebendo as relações de gênero que perpassam tal relação.

CONCLUSÃO:

Historicamente a sociedade brasileira é demarcada pela cultura machista que legitima a subordinação feminina, tanto no âmbito privado quanto público. O estudo de gênero nos dá subsídios para compreender as interfaces ideológicas que privilegia o sexo masculino em detrimento do sexo feminino. Percebe-se que embora a família não mais se encontre nos moldes originários do patriarcado no Brasil, como na família colonial, tal cultura vem se remodelando, expressando relações desiguais de gênero, embora sob dinâmicas diferenciadas, situação que de longe demonstra evidências de sua abolição. É visível a cultura patriarcal permeando as relações de violência doméstica, porém como historicamente a família foi/é cultuada como um espaço harmonioso é percebido nos atendimentos a essas mulheres, no CREAS de Maracanaú-CE, a busca pela mudança de foco do real agressor. Atribuindo foco a influência das drogas para a realização dos atos violentos.

Palavras-chave: Gênero, Violência doméstica , Drogas.