O objetivo principal deste trabalho é descrever a proposta de intervenção realizada na educação de jovens e adultos de uma escola pública da zona metropolitana da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, na perspectiva de enfrentamento do fenômeno da evasão escolar, tendo como linha norteadora a produção cultural na escola. No decorrer da implantação das estratégias houve uma preocupação em democratizar e socializar todas as ações que foram implantadas. A intenção era privilegiar todas as discussões, com alunos e professores, para, juntos, encaminhar de maneira mais democrática todo o trabalho. Dentro dessa proposta, professores e alunos puderam se expressar, colocar as suas idéias, encaminhar sugestões e defender posições de como a escola deveria se organizar para que viesse a atender as necessidades dos seus usuários no turno noturno. Nesta linha de pensamento foi criado um projeto denominado Cultura na Escola, abrigando dessa maneira a concepção de idéias sobre a produção cultural construída pela comunidade escolar.

A implantação desse projeto esteve pautada no método pesquisa-ação, que consiste em mediar a teoria e a prática no processo de construção do conhecimento. Para a implementação da pesquisa foi realizada uma reunião com os professores da escola para situar o problema do turno noturno. Essas discussões viabilizaram as ações que integraram o projeto Cultura na Escola, quais sejam: Cine Brasil - exibição de filmes nacionais; Feira cultural - espaço criado para a comunidade mostrar suas produções e invenções; Rádio escola - montagem da rádio pela comunidade escolar, com programação própria voltada para atender às questões de comunicação e informação da escola; Biblioteca viva - restauração da biblioteca objetivando melhorar seu acervo literário e fomentar uma programação cultural voltada para a construção de leitores e escritores; Ateliê corpo-movimento - oficinas corporais oferecidas à comunidade em geral com a finalidade de promover um espaço de sociabilidade e de práticas saudáveis. Importante salientar que o projeto, em seu desenvolvimento, demonstrou ser possível promover a cultura no interior da escola e que os alunos, na sua maioria, são os grandes promotores desse fenômeno, uma vez que estes são os sujeitos da sua história.

Durante a implantação do projeto Cultura na Escola o grande desafio em cada etapa era garantir as discussões e avaliações sobre a cultura na escola, como também a postura dos professores para que os mesmos começassem a se questionar enquanto educador e atentassem para os dados preocupantes sobre a evasão escolar e também sobre as questões extra-escolares, como as condições sócio-econômicas e culturais dos alunos. As ações discutidas geraram vários eventos, como estudos sobre a mulher, idosos, esporte, sexualidade, gravidez precoce, exploração sexual, peças de teatro, musical, apresentação coreográfica, jornal mural, programa de rádio escolar, exposição de arte, mostra de cultura, entre outros. Diante das discussões que foram travadas chegamos ao seguinte resultado: houve uma queda considerável na evasão observada no ano estudado em relação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, outro fenômeno que impactava a educação de jovens e adultos na escola analisada, que era o grande número de alunos fora das salas durante as aulas, também foi reduzido depois da intervenção da coordenação e dos professores na sua maneira de se posicionar e com as ações culturais desenvolvidas através do projeto.

A concepção de uma escola democratizada e transformadora é possível. Basta ousar! Garantir que os alunos tenham acesso a bens culturais de qualidade e fomentar a ciência no interior da escola foi o principal objetivo deste projeto. Sob esse olhar mais humanizado das relações que se constituem no interior da escola, buscou-se o delineamento de uma compreensão estrutural que traga para o centro as discussões crítico-políticas e que estas possam se organizar como eixo para o enfrentamento das práticas conservadoras e reacionárias que se enraizaram nas instituições escolares. A construção de uma escola emancipada requer continuidade das ações, descentralização, democratização dos processos de decisão e um instrumento efetivo de avaliação, resistência e luta para que educadores e comunidade escolar possam ampliar as possibilidades de mudanças, tanto no interior da escola como na conjuntura político-social do país.