62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
REGISTROS DE Ictinia plumbea (AVES FALCONIFORMES: ACCIPITRIDAE) NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA AZUL, BARRA DO GARÇAS, MT
Keila Nunes Purificação 1
Fabiana Mendonça Vieira 1
Lorena da Silva Castilho 1
Márcia Regina Banzoni Souza 1
Márcia Cristina Pascotto 2
1. Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/CUA - UFMT
2. Profa. Dra./Orientadora - ICBS/Campus Universitário do Araguaia - UFMT
INTRODUÇÃO:

O Gavião-sauveiro ou Sovi, Ictinia plumbea (Gmelim 1788), é um Falconiforme da família Accipitridae. Possui aproximadamente 35 cm de comprimento, de corpo cinza escuro clareando no alto da cabeça. Apresenta asas longas e negras, com um contraste nas extremidades das rêmiges primárias intensamente avermelhadas. Os olhos são vermelhos e as pernas alaranjadas. A cauda é negra, com duas ou três barras brancas na face inferior. Alimenta-se quase que exclusivamente de insetos, os quais são consumidos em pleno vôo. Ictinia plumbea distribui-se do México até a Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil, sendo aqui muito comum, com uma população residente na Amazônia, que se desloca em movimentos migratórios sazonais para o sul nos meses de primavera e verão para se reproduzir. É muito agressivo e territorialista, ocupando áreas abertas e de matas. Este estudo teve como objetivo registrar as ocorrências de I. plumbea no Parque Estadual da Serra Azul - PESA e a importância desta unidade de conservação como rota migratória para essa espécie.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra Azul (15°52'S e 51°16'W), localizado em Barra do Garças, região leste do estado de Mato Grosso e está inserido nos domínios do bioma Cerrado. Com aproximadamente 11 mil ha o PESA abriga uma grande diversidade de hábitats, entre eles áreas de cerrado sentido restrito, cerrado rupestre, mata de galeria e mata semidecidual, todas amostradas neste estudo. O clima da região, segundo Köppen (1948), é do tipo AW (clima quente e úmido) com duas estações bem definidas, verão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro). As amostragens foram realizadas de agosto/2007 a dezembro/2009, utilizando a metodologia do Transecto Linear em que uma trilha em cada área foi percorrida a uma velocidade moderada nas três primeiras horas da manhã. As observações foram feitas diretas com auxílio de binóculos e por meio das vocalizações, totalizando um esforço amostral de 241 horas.

RESULTADOS:

Os registros de I. plumbea ocorreram entre os meses de agosto e dezembro, com três contatos em 2007, setembro (n=1) e outubro (n=2) e setembro (n=2) e novembro (n=1) de 2008. Já em 2009 os registros se estenderam de agosto a dezembro totalizando 13 contatos, com um maior número de registros em novembro (n=5). Nesse período foram observados indivíduos sobrevoando todo o parque. Em outubro um indivíduo foi observado, em voo, com algumas rêmiges centrais em desenvolvimento, mas não apresentava a plumagem estriada característica de um juvenil. Cinco indivíduos sobrevoaram uma área de campo limpo em novembro, juntos com Caracara plancus e Sarcoramphus papa. Ainda em novembro foi observado um indivíduo pousado próximo à mata de galeria, segurando com as garras uma presa não identificada, enquanto tirava partes com o bico e consumia o alimento. De hábito alimentar principalmente insetívoro, comumente essa espécie foi vista capturando insetos em pleno voo. A maior abundância foi registrada em dezembro, quando 16 indivíduos sobrevoaram em círculo uma área de cerrado sentido restrito na metade da manhã. Comportamentos agonísticos foram constatados entre I. plumbea, C. plancus e Buteo albicaudatus, em que o primeiro atacava com agressividade os outros gaviões em voo.

CONCLUSÃO:

O PESA, com suas diferentes fitofisionomias de Cerrado e com ampla disponibilidade de alimento, atua como local de alimentação para I. plumbea durante os períodos de migração. Pode ainda estar servindo de área de nidificação, pois de acordo com dados da literatura, o período de reprodução dessa espécie inicia-se em setembro e termina em dezembro com os filhotes saindo do ninho, período este em que I. plumbea foi registrado no local de estudo. A ocorrência de espécies migratórias no PESA torna-o uma importante área de conservação para a avifauna, enfocando assim a necessidade da manutenção dessa Unidade de Conservação, tanto para as comunidades de aves locais como para as espécies de aves que deslocam grandes distâncias à procura de ambientes propícios para a alimentação e reprodução.

 

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso - FAPEMAT
Palavras-chave: Aves, Conservação, Migração.