Este estudo, de cunho bibliográfico, estabelece relações entre o problema da falta de atenção no processo formativo e o narcisismo contemporâneo sustentado pelos modelos idealizados oferecidos pelos produtos da Indústria Cultural e experimentado no interior das relações educativas entre professores e alunos. A abordagem dessa temática visa contribuir para que a desatenção crescente no universo escolar possa ser compreendida como um fenômeno constituido no interior da cultura de consumo, e não simplesmente como um distúrbio entre outros, observado pela perspectiva a-histórica da natureza e da subjetividade, a qual afasta o olhar dos efeitos subjetivos do prolongamento da alienação produzido pelos produtos da Indústria Cultural. O trabalho realizado orientou-se pelo referencial teórico da Teoria Crítica da Sociedade.

Primeiramente, o estudo retoma o pensamento freudiano em torno do narcisismo, analisando o sentido deste conceito nos textos adornianos. Posteriormente, aborda como o narcisismo compreendido por Adorno é sustentado pelos produtos da Indústria Cultural, neste momento, também discute a presença desses produtos no universo escolar, bem como sua influência para o cultivo de modelos idealizados, que se interpõem entre professores e alunos. Em seguida, destaca e descreve situações observadas no interior da sala de aula, que trazem indicações de posturas narcisistas, tal como compreendidas por Adorno. Por fim, dialoga com alguns estudos que analisam a desatenção na leitura de textos e desenvolve relações entre o narcisismo e a desatenção compreendida a partir de uma perspectiva histórica e social.

Na discussão sobre essas relações, destaca-se que os produtos da Indústria cultural, ao promoverem modelos idealizados, afastam professores e alunos do exercício da auto-reflexão critica e impõem repetidamente o exercício de um prazer sadomasoquista, que sempre precisa de um outro para humilhar e devastar. Os processos educativos que se prolongam em torno de um prazer sadomasoquista, reproduzido pelos produtos da Indústria cultural, levam a pensar que é necessário abordar a desatenção para além da perspectiva diagnóstica de Transtorno do Déficit de Atenção e hiperatividade - TDAH, pois no interior de uma sociedade do consumo, marcada pelo imperativo do gozo, da alienação no trabalho e da auto-alienação, as percepções humanas, submetidas a choques ininterruptos, não encontram condições para a rememoração e a experiência,  voltando-se cada vez mais para o próprio sujeito e para as idealizações de si, seja ele professor ou aluno.

Nas condições inaptas até à rememoração do choque, se enfraquece a possibilidade de atribuição de sentido ao que é percebido. À medida que os sentidos são desgastados com os choques imagéticos, as imagens reais da realidade veiculadas pelos produtos da Indústria Cultural exercitam a percepção humana para o choque da realidade, e o sujeito desapropriado da possibilidade de rememoração, do solo que liga significativamente os elementos que percebe, tende a reagir fechando-se sobre si mesmo, alimentando posturas narcisistas, voltando-se para as realizações subjetivas prometidas pelos produtos da Indústria Cultural que não cessa de oferecer o que ele já é e, sobretudo, de impedir o exercício de perceber e de significar os choques que vivencia.