62ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 3. Engenharia Civil
APLICAÇÃO DA ALTIMETRIA ESPACIAL COMO APOIO À NAVEGAÇÃO FLUVIAL
Fernanda França Ferreira 1
Fernanda Telles Gullo 2
Ana Emília de Souza Silva 3
Otto Corrêa Rotunno Filho 4
Stéphane Calmant 5
1. Graduação do Curso de Engenharia Ambiental/ Escola Politécnica/ UFRJ -PET CIVIL
2. Graduação do Curso de Engenharia Civil / Escola Politécnica / UFRJ - PET CIVIL
3. Mestranda em Engenharia Civil pela COPPE / UFRJ
4. Professor da Escola Politécnica / UFRJ e da COPPE / UFRJ
5. Pesquisador do IRD / LEGOS (Université Paul Sabatier - Toulouse III)
INTRODUÇÃO:
Segundo a Agência Nacional do Transportes Aquaviários (ANTAQ), o Brasil tem atualmente mais de 43 mil quilômetros de rios potencialmente navegáveis. Essa infraestrutura natural pode contribuir para o crescimento da economia em algumas regiões do país. Nos últimos anos, a região norte tem relatado casos de encalhe de navios cargueiros; um dos motivos é a elevada diferença nos níveis de água dos rios entre os períodos de estiagem e de cheia. A navegação nos principais rios do Brasil pode ser feita com o uso de cartas fluviais produzidas pela Marinha do Brasil. Devido à variação de nível dos rios entre a vazante e a cheia, essas cartas possuem um nível de referência fixo para a batimetria. Portanto, a profundidade registrada nessas cartas deve ser corrigida por meio de um ábaco fornecido conjuntamente com esse tipo de publicação, onde o dado de entrada para esse ábaco é a cota da régua, medida in situ, que é a referência do ábaco. A altimetria espacial, por sua vez, fornece remotamente dados de nível de água de massas de água continentais (rios, lagos, represas, entre outros). Essa informação é, hoje, gratuita, regular e disponível na internet. Ábacos com referência elipsoidal possibilitam a utilização dessa informação como dado de entrada para a correção das cartas fluviais.
METODOLOGIA:
A área escolhida para aplicação da metodologia foi a região da ilha das Marrecas, próxima à cidade de Santarém no estado do Pará. A escolha dessa região deu-se em função da ocorrência de encalhes, na vazante de 2008 e de 2009 do rio Amazonas, verificados nas proximidades dessa ilha. Para construção do ábaco com altimetria espacial, foi utilizada a carta fluvial 4103b, a série histórica, a partir de junho de 2008, das cotas da régua de Santarém e a construção de duas estações virtuais com os dados do satélite altimétrico Jason-2. Para construção de uma estação virtual, inicialmente, escolhe-se o local, definido a partir da área de interseção do rio com o traço do satélite. Em seguida, selecionam-se os dados de nível de água de cada passagem do satélite e, por último, constrói-se a série histórica de níveis de água. O ábaco de altimetria espacial pode, então, ser desenvolvido a partir de uma relação entre os níveis de água de duas estações virtuais. Posteriormente, o procedimento demanda o transporte da referência de nível do ábaco original da carta fluvial para o novo ábaco com o auxílio das cotas da régua de Santarém.
RESULTADOS:
A utilização dos ábacos das cartas fluviais está condicionada ao conhecimento da cota da régua de referência do ábaco, mas essa informação é extremamente difícil de ser obtida (duas vezes por dia na estação rádio-náutica ou com atraso de meses na página de aviso aos navegantes da Marinha do Brasil disponibilizada via internet). Assim, os ábacos das cartas fluviais dependem da instalação física de réguas nas margens dos rios. Essas réguas estão submetidas, dentre outros fatores, ao deslizamento de margens e à destruição por embarcações. Além dessas dificuldades, é necessário que o local de instalação esteja em cidades com a possibilidade de transmissão diária dessa informação. Esses obstáculos conduzem a um reduzido número de réguas com potencial de se tornarem referências para os ábacos fluviais.  A construção de ábacos com referência elipsoidal, utilizando dados de satélites altimétricos, possibilita a densificação desse tipo de informação ao longo das cartas fluviais e, com isso, permite a redução do erro cometido com a interpolação entre as estações de referência dos ábacos. A aquisição dos dados de nível de água, por meio da altimetria espacial, favorece a rapidez na divulgação desses dados para a comunidade de interesse.
CONCLUSÃO:
O objetivo deste trabalho é aplicação dos dados de nível de água fornecidos pela altimetria espacial em ábacos de correção de cartas fluviais. Portanto, é necessária a construção de um ábaco com referência elipsoidal. Cumprida essa etapa, o ábaco poderá ser utilizado para correção das cartas fluviais com dados de nível de água fornecidos pelo satélite altimétrico. Essa aplicabilidade é especialmente importante na região norte do país devido à ausência de estradas com boas condições de tráfego para o transporte de pessoas, além do escoamento de produtos de origem animal (exemplo: agropecuária) e mineral (exemplo: petróleo e gás). Adicionalmente, o processo de desencalhe, dependendo do tamanho e do peso da embarcação, pode levar muitos dias, como é o caso do exemplo de encalhe do navio de transporte da Marinha Ary Parreiras em 2008 que durou 35 dias, o que prejudica a chegada do navio ao seu destino e limita a integridade dos produtos transportados, além dos prejuízos relacionados com esses e outros fatores.
Instituição de Fomento: SESu/MEC, CAPES, CNPq, FAPERJ
Palavras-chave: Altimetria espacial, Navegação, Transporte aquaviário.