62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 5. Química de Macromoléculas
Ação da heparina em modelo de peritonite aguda após dois diferentes tempos de estímulo inflamatório.
Fernanda Wanderley de Oliveira 3
Suely Ferreira Chavante 4
Dayse Santos Arimateia 1
Lucilla Rodrigues de Souza 1
Fernanda Marques de Azevedo 1
Adriana da Silva Brito 2
1. Depto. de Bioquímica, Centro de Biociências - UFRN
2. Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí - UFRN
3. Profa. Dra. - Depto. de Bioquímica, Centro de Biociências - UFRN
4. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Bioquímica, Centro de Biociências - UFRN
INTRODUÇÃO:

Nos últimos anos, a heparina vem sendo alvo de vários estudos relacionados à inflamação graças a sua capacidade de se ligar a diversas proteínas envolvidas com a resposta imune. Recentemente, em nosso laboratório, demonstramos em modelo de peritonite induzida por tioglicolato a capacidade da heparina em reduzir o influxo celular à cavidade peritoneal, 3 horas após o estímulo inflamatório. Tendo em vista que a infiltração neutrofílica é um dos componentes críticos durante a peritonite e que a migração dos neutrófilos é máxima por volta de 8 horas após o estímulo inflamatório, sabendo que os mecanismos responsáveis pela infiltração neutrofílica com um curto período de inflamação são diferentes daqueles associados a um período maior de injúria, foi de nosso interesse, então, avaliar a capacidade da heparina em interferir sobre o influxo celular em um período maior de inflamação. No presente trabalho, utilizando o mesmo modelo de peritonite, avaliamos a capacidade da heparina em interferir na infiltração leucocitária, após 8 horas da indução da inflamação, bem como procuramos avaliar também as populações celulares envolvidas no processo.

METODOLOGIA:

A peritonite aguda induzida por tioglicolato foi realizada em ratos fêmeas da linhagem wistar de aproximadamente 2 meses. Os animais foram distribuídos em grupos de 5 e receberam injeção subcutânea de 500 µl, contendo heparina nas doses de 5, 15 ou 50 µg/Kg de animal. Os controles receberam 500 µl de solução salina estéril. Após 30 minutos, foram administrados, intraperitonalmente, 2 ml de solução de Tioglicolato de Sódio 3%, responsável por uma inflamação aguda na cavidade peritoneal com infiltração de neutrófilos. O grupo controle negativo recebeu 2ml de solução salina estéril. Os animais foram sacrificados 8 horas após o estímulo inflamatório, e suas cavidades peritoneais lavadas com solução salina, que foi coletada e denominada líquido peritoneal (LP). O LP foi utilizado para contagem total de leucócitos em câmara de Neubauer. Para a contagem diferencial de células, utilizamos esfregaços realizados com LP e com sangue total coletado da veia cava. Para descartar a possibilidade de que a heparina pudesse exercer efeito citotóxico sobre as células, a viabilidade celular nos grupos tratados foi avaliada pela técnica de exclusão com Azul de Tripan. Estatística: ANOVA com teste de teste de Tukey-Kramer. O experimento foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UFRN.

RESULTADOS:

Após 8 horas de inflamação, a contagem total mostrou intensa infiltração leucocitária, especialmente no grupo tratado com a dose de 50 µg/Kg. Nas doses de 5 e 15 µg/Kg ocorreram pequenas diminuições que não se aproximam dos percentuais de inibição do experimento realizado com 3 horas. Uma possível explicação para essa diferença poderia estar na capacidade da heparina de se ligar à moléculas de adesão, comprometendo interações leucócito-endotélio; com o progresso da inflamação, os mecanismos deficientes são contornados graças à redundância funcional de outras moléculas adesivas e produção de citocinas. Na contagem diferencial, nas doses de 15 e 50 µg/Kg, a proporção de neutrófilos no sangue teve aumento significativo; já no LP, a proporção passou de 3,6% (controle negativo) para 79,2% (tratados com tioglicolato). Estudos demonstraram que a ação pró-inflamatória da heparina está relacionada com o aumento da liberação de citocinas por monócitos. A proporção de linfócitos no sangue e no LP nos grupos tratados diminuiu significativamente. No sangue, os monócitos nos grupos tratados nas doses de 5 e 15 µg/Kg apresentaram maior proporção em relação ao controle positivo. No LP, o percentual de eosinófilos apresentou diminuição média de 93,8% com relação ao controle negativo.

CONCLUSÃO:

Em contraste com o efeito anti-inflamatório obtido para experimentos realizados com 3 horas, nas doses testadas, a heparina foi incapaz de inibir a infiltração de leucócitos para a cavidade peritoneal, após 8 horas da indução da inflamação. A heparina demonstrou efeito pró-inflamatório no sangue total, evidenciado pelos aumentos da proporção de neutrófilos e monócitos em todos os grupos tratados com heparina. Nas doses testadas, embora a heparina tenha ocasionado leve aumento na proporção de neutrófilos no líquido peritoneal, esse aumento não foi significativo. Para as demais populações celulares, não houve diferenças entre os grupos tratados com heparina. A heparina atuou como imunomodulador pleiotrópico, apresentando efeito pró-inflamatório após 8 horas de inflamação em comparação ao efeito anti-inflamatório observado após 3 horas da indução da inflamação.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
Palavras-chave: Inflamação, Heparina, Peritonite.