62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
IMAGINÁRIO E COTIDIANO NA ILHA DE DEUS: MEMÓRIA, RELAÇÕES DE PODER E ASPIRAÇÕES PARA O FUTURO
Eliana Maria de Queiroz Ramos 1
Bruna Galindo Moury Fernandes 1
Maria das Graças Andrade Ataíde de Almeida 1
1. Universidade Federal Rural de Pernambuco
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa faz parte de uma pesquisa maior que está sendo desenvolvida no PPG-POSMEX-UFRPE, na disciplina Cotidiano e Imaginário Rural sob a coordenação da Profa. Dra. Maria das Graças Ataíde de Almeida. Neste trabalho é nosso objetivo analisar o imaginário e o cotidiano na comunidade de pescadores Ilha de Deus mediante relatos da história oral de seus próprios moradores. Localizada no centro de um manguezal entre os bairros do Pina e Imbiribeira, no Recife, Pernambuco e classificada pela Lei de Uso e Ocupação do Solo como Zona Especial de Interesse Social - ZEIS, a Ilha tem passado por melhorias de infra-estrutura numa ação conjunta da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado de Pernambuco. O que se pretende é identificar qual a visão da comunidade sobre o projeto de reforma, como tais mudanças são percebidas e se há conflito de interesses. Esta pesquisa se torna relevante por buscar a produção da história a partir do interior da comunidade. Por ser uma ilha, a comunidade de pescadores é um ambiente propício para se estudar o imaginário (Girardet,1989) - como força reguladora da vida coletiva - e o cotidiano (Certeau, 2008)
METODOLOGIA:
O aporte teórico da pesquisa está fundamentado nas categorias de imaginário mediante a leitura de Baczko (1985) e Girardet (1989); cotidiano com Certeau (2008), Giard e Mayol (2008) memória com Bosi (1985) e história oral com Thompson (1992). Também utilizamos Canclini (1999) e estudos desenvolvidos no local por Tauk Santos, Callou et all (2009). Como aporte metodológico, utilizamos a história oral, mediante pesquisa bibliográfica e documental, pesquisa de campo, com observações etnográficas e entrevistas semi-estruturadas. O corpus foi obtido a partir de relatos dos moradores da Ilha de Deus. Na análise, confrontamos as teorias com a realidade empírica pesquisada nos grupos comunitários.
RESULTADOS:
No que se refere à narrativa dos pescadores, percebemos na categoria memória, o saudosismo e a lembrança de quando a Ilha era sustentável, tinha segurança e abrigava famílias que se respeitavam. Mas também uma forte carga política nos discursos, seja por parte da ação de organizações não-governamentais, seja por interesses político-eleitorais. Percebe-se no discurso que os moradores têm consciência de seu papel como cidadãos, sobretudo no que se refere ao poder do voto.
CONCLUSÃO:
A partir dos discursos que apontam o cotidiano na Ilha de Deus, identificamos o medo de exclusão social, pois os conflitos ali existentes revelam a apreensão ante um mundo idealizado e o real. Apesar de as ações do Governo contemplarem uma série de desejos da comunidade, resultam numa divisão entre o que cabe a um e a outros, em prejuízo aos seus diferentes modos de ver e de conviver. Marcada que foi pelo êxodo rural, a outrora identidade campesina da ilha, hoje está dividida. Assim como a identidade da comunidade pesqueira, que hoje enfrenta sérias dificuldades ambientais com a ameaça, inclusive, da retirada dos viveiros de camarão. De certa forma, esta "quebra" no sentimento de pertença, entre o ficar e o sair da Ilha, reflete o momento híbrido do processo histórico atual vivido na Iha.Também percebemos que, apesar do desejo e aspiração de melhoria da condição de vida, tais representações ou imagens não são somente discursos, mas práticas sociais. Por isso, nas associações que representam os moradores, identificamos o contrato social de reconhecimento em benefício próprio que nos relata Certeau, Giard e Mayol (2008).
Palavras-chave: Imaginário, Cotidiano, memória.