62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
USOS DA HORMONOTERAPIA ENTRE TRANSGÊNEROS: UMA ANÁLISE DE FÓRUNS VIRTUAIS DE DISCUSSÃO
Renata Vilela Rodrigues 1
Morgana Moreira Moura 1
Dolores Cristina Gomes Galindo 2
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
2. Profa.Dra./Orientadora - Depto. de Psicologia - UFMT
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como objetivo estudar as estéticas corporais transgênero por meio das quais pessoas procuram alterar características associadas ao sexo masculino e adquirir formas consideradas femininas através da auto-administração de hormônios. Focaliza-se a análise das mensagens trocadas em fóruns de discussão virtuais que tem como tema central o emprego transgênero de hormônios. Para tal, recorre-se a aportes teóricos dos estudos em teoria ator-rede, com o desenvolvimento da noção de "farmacotecnoculturas" que correspondem a conjuntos de sentidos, actantes e materialidades que se ordenam como culturas em torno de fármacos entendidos em sua dimensão simbólica, mercadológica e terapêutica.
METODOLOGIA:
O corpus de análise é composto de 3 (três) fóruns de discussões sobre hormônios alojados na rede social Orkut. Para localização das comunidades, utilizou-se como termo de busca as palavras hormônios, trans, transgênero e travestis. Foram analisadas as comunidades intituladas "Fórum do Hormônio e Mundo TS", "Hormônios para transgênero e "Hormônios Femininos para Trans". Uma vez localizadas as comunidades, efetuou-se análise de incidentes críticos que permitem visualizar: 1) apropriações de tecnologias e prescrições médicas que se diferenciam dos regimes convencionais de administração dos fármacos e 2) negociações de sentido entre usuários e profissionais especializados quanto ao emprego de hormônios por meio de depoimentos acerca de consultas a profissionais.
RESULTADOS:
Os resultados indicam que as comunidades mobilizam um grande número de usuários, sendo este composto por pessoas posicionadas como travestis classificadas em dois subgrupos: 1) usuárias experientes que provém recomendações e 2) usuárias neófitas que buscam informações sobre tratamentos a serem iniciados ou já em andamento. Nas comunidades analisadas não há presença de especialistas. No que concerne às apropriações das prescrições, observa-se que os regimes terapêuticos se diferenciam dos convencionalmente vinculados aos protocolos dirigidos a esta população, com incremento das doses e das combinações entre fármacos. No que diz respeito aos depoimentos sobre negociações entre usuários e profissionais de saúde, observam-se dois posicionamentos distintos: de um lado, usuários que aderem e recomendam regimes terapêuticos indicados por profissionais e, de outro, usuárias que negam os regimes com base na argumentação de que os especialistas desconheceriam a experiência acumulada no saber leigo e cotidiano das travestis.
CONCLUSÃO:
A análise das mensagens trocadas durante os fóruns de discussão indica a existência do que de uma farmacotecnocultura transgênero que algumas vezes se ajusta às prescrições médicas e outras vezes se opõe frontalmente a estas. Tal farmacotecnocultura delineia um corpo cuja feminilidade reside no arredondamento das formas, redistribuição de gordura corporal, diminuição de pêlos e, principalmente, no cultivo aos seios e quadris, índices de feminilidades considerados como pontos de passagem obrigatório para a constituição de uma travesti.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Hormônios, Fórum de discussão, Farmacotecnoculturas.