62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
INCLUSÃO  DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: ASPECTOS DA TEORIA DO COTIDIANO EM AGNES HELLER 
Katiuscia Aparecida Moreira de Oliveira Mendes 1
José Francisco Chicon 2
1. Universidade Federal do Espírito Santo-CEFD-UFES
2. Universidade Federal do Espírito Santo-CEFD-UFES-orientador
INTRODUÇÃO:

Apesar de, nos dias atuais, muito se falar em Educação Inclusiva, ainda é possível ver nas escolas uma Educação Física repressora, competitiva, seletiva e excludente, o que vai de encontro às novas concepções de educação e de desenvolvimento humano. A questão da prática educacional inclusiva não é tão simples quanto pode parecer, pois a sua efetivação não depende somente de leis a respeito que, aliás, existem muitas. Abrange horizontes muito mais amplos, exigindo ações conjuntas de familiares, docentes, discentes etc., mudanças de paradigmas, reflexões e profundas transformações e reestruturações em todos os âmbitos da sociedade.

Neste trabalho nosso objetivo foi investigar o cotidiano escolar, observando principalmente as aulas de Educação Física. Problematizando assim, como as crianças com NEEs percebem sua própria inclusão nesta disciplina. 

No contato com as diversas pesquisas e diante da complexidade educacional brasileira percebemos, a necessidade de aprofundar os estudos sobre a perspectiva da educação inclusiva no que diz respeito ao cotidiano escolar e ao ensino da Educação Física. Continuar esse debate nos parece significante, considerando que o campo da educação especial revela as concepções da educação de forma mais ampla.

METODOLOGIA:

Devido à natureza das questões norteadoras, optamos pelo desenvolvimento de uma pesquisa na perspectiva histórico-cultural, de uma abordagem qualitativa. Quanto à metodologia utilizada no trabalho de campo, a opção foi realizar um estudo de caso de inspiração etnográfica, no intuito de compreender a fundo os movimentos no cotidiano dessa escola para promover a inclusão.

Para tal, foram realizadas observações, num total de 112 horas em uma turma de 5ª série de uma escola de ensino fundamental municipal em Vitória-ES. Foi privilegiado o espaço da aula de Educação Física, porém, outros espaços como recreio, corredores, entrada e saída de estudantes, também foram observados.

Após a observação foram realizadas quatro entrevistas semi-estruturadas com dois pais e os dois alunos sujeitos da pesquisa. Sendo os sujeitos: um garoto de 14 anos com síndrome de Down e outro garoto de 11 anos com baixa visão. Utilizamos como instrumentos metodológicos: o registro de observação em caderno de campo, a vídeo-gravação de entrevistas e o registro fotográfico para caracterização dos diferentes espaços- tempos do cotidiano dos alunos.

RESULTADOS:

As aulas de Educação física eram realizadas três vezes por semana, com duração de 50 minutos. O conteúdo desenvolvido no período observado era mesclado entre as modalidades esportivas (atletismo, futebol, voleibol, handebol), que eram apresentados aos alunos de forma assistemática, ora promovendo uma vivência prática do voleibol, ora do futebol, retornando ao voleibol, sem que houvesse uma preocupação com a sistematização e progressão na transmissão do conhecimento. A rotina era a pura e simples vivência prática do jogo. Era comum observar alguns alunos não participando das aulas, inclusive os com deficiências. Observando o contexto das aulas de Educação Física, percebemos um modelo de aula que pauta-se em disponibilizar atividades que tem por objetivo ocupar o tempo/espaço dos alunos apenas.

Entendendo que o trabalho educativo consiste em oportunizar aos alunos novas experiências em relação ao conhecimento de si e do mundo, não basta propor ações. As aulas observadas não estabeleciam a mediação entre o cotidiano do aluno e as esferas não-cotidianas da vida social. Mantém os alunos na esfera da cotidianidade, isto é, ao exercício de práticas que se repetem sem que haja uma reflexão mais aprofundada sobre os dados da realidade (HELLER, 1992).

CONCLUSÃO:

Pelo exposto, é possível perceber que os métodos de ensino utilizados na Educação Física (método ginástico e do esporte desempenho), todos voltados, predominantemente, para o "fazer", com uma concepção de homem/corpo acrítica, seguindo princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, não favoreciam a inclusão daquelas pessoas que apresentavam necessidades educacionais especiais.

Com os resultados da pesquisa, percebemos que, para provocar mudanças na prática pedagógica dos professores com vistas à inclusão, é necessário que se adotem modelos de formação continuada que tenham base no modelo da pesquisa-ação, isto é, que os profissionais atuem em conjunto com os membros da comunidade escolar (diretor, pedagogos, professores, pais e alunos) analisando, orientando, interferindo, avaliando e acompanhando o projeto educativo desenvolvido por eles no cotidiano da escola, com o objetivo de qualificá-los para a promoção de uma educação que contemple a todos.

A Educação Física, como disciplina curricular, não pode ficar indiferente ou neutra em face a esse movimento de educação inclusiva. Fazendo parte integrante do currículo oferecido pela escola, essa disciplina pode se constituir como um adjuvante ou um obstáculo adicional a que a escola seja (ou se torne) mais inclusiva. 

Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de nível superior-CAPES
Palavras-chave: Inclusão educacional, Cotidiano escolar, Educação Física.