62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O LÉXICO INFANTIL NAS PRODUÇÕES ESCRITAS: FREQUÊNCIA E VARIAÇÃO DOS VERBOS DICENDI
Juliana Clara Pinton 3
Luciana Tavares de Barros 4
Ana Letícia Duin Tavares 1
Luciane Manera Magalhães 2
Maria Diomara da Silva 3
Terezinha Toledo Melquíades de Melo 3
1. Caed/Universidade Federal de Juiz de Fora
2. Programa de Pós-Graduação em Educação/Faculdade de Educação/UFJF
3. Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora/FACED
4. Escola Municipal Olinda de Paula Magalhães
INTRODUÇÃO:

Conforme constata Magalhães (2009), os estudos sobre o desenvolvimento do léxico escrito são escassos no Brasil. Em decorrência, as reflexões necessárias para a ampliação do léxico infantil, por meio dos trabalhos escolares, não têm chegado aos professores, os quais, na maioria das vezes, desenvolvem atividades com palavras fora do contexto, baseadas no uso restrito do dicionário. Essa investigação partiu de um estudo piloto (MAGALHÃES, op. cit.) que teve como objetivo fazer um levantamento estatístico dos verbos dicendi, empregados pelas crianças em uma produção escrita e, paralelamente, uma análise qualitativa dos usos destes verbos. Utilizando os mesmos sujeitos e o mesmo corpus de pesquisa, ampliamos de uma para três produções selecionadas, para analisarmos a mobilização pelos alunos destes verbos, objetivando verificar se as crianças variavam os seus usos ao longo de um semestre letivo e qual seria a relação entre a variação e a qualidade textual. Assim, o objetivo do presente estudo é investigar o desenvolvimento do léxico escrito, no que se refere à frequência e à variação dos verbos de elocução, a partir das produções escritas de alunos, de uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental, de uma escola pública.

METODOLOGIA:

A interseção entre as abordagens de pesquisa quantitativa e qualitativa permitem dois olhares para os dados constituídos nesta investigação. Por um lado, os fundamentos da Linguística de corpus (SARDINHA, 2000) auxiliam na quantificação e generalização dos dados (frequência dos verbos dicendi). Por outro lado, a modalidade interpretativista (MOITA LOPES, 2004) propicia uma análise mais pontual dos dados, oferecendo recursos para se compreender as variações dos usos dos verbos pelos alunos, em suas produções escritas. Focaliza-se, assim, tanto a frequência, quanto a utilização dos verbos de elocução nos textos infantis, realizados em ambiente escolar. O corpus inicial da pesquisa foi constituído por todas as produções escritas (coletivas e individuais), pelos alunos, durante o primeiro semestre letivo de 2009. De um total de 15 produções, elegemos o gênero história e selecionamos as produções escritas, individualmente, pelos alunos, uma vez que fora observada a predominância de diálogos. As referidas histórias foram compiladas em diferentes momentos, porém tiveram uma consigna semelhante: dar continuidade a uma história de um livro lido previamente por toda a turma.

RESULTADOS:

Para a análise quantitativa, focalizamos os verbos dicendi, marcadores da fala das personagens, como categoria gramatical a ser investigada, uma vez que o diálogo está presente na maioria das produções. Como categorias de análise definimos a ocorrência e a frequência dos verbos no total de três produções escritas e a variação dos verbos gerais ('dizer' e 'falar') e específicos ('responder', 'perguntar', gritar', 'retrucar' etc). Em um primeiro momento, realizamos um levantamento da ocorrência de cada verbo separadamente, em cada produção, para que fosse possível observar, também, sua frequência. Em seguida, tabulamos a ocorrência e frequência dos verbos utilizados pelos alunos nas três produções, a fim de verificarmos a variação dos seus usos. Por meio da análise realizada, pode-se notar que 65,6% das crianças utilizam os verbos dicendi gerais. Observou-se, ainda, que 54% das crianças variaram os verbos de uma produção para outra. Na análise qualitativa, realizamos um estudo de casos por meio da comparação da produção de dois alunos e buscamos verificar a relação entre a variação ou não dos verbos e a qualidade do texto apresentado, no que concerne à presença das funções narrativas (LABOV & WALETSKY, 1983).

CONCLUSÃO:

Acreditamos que a ampliação do repertório lexical infantil se dá a partir da interação com o outro, por meio do desenvolvimento de habilidades cognitivas e linguísticas. Estudos na área do desenvolvimento do léxico vêm favorecer o entendimento de que a escolha de determinadas palavras é essencial para a produção de um bom texto, este não mais entendido como resultado de treinos exaustivos, apenas com rigor ortográfico e gramatical, e sim decorrente da interação entre leitor-autor, constituído por relações de coerência e coesão e mediado por situações comunicativas reais. Os resultados obtidos apontam para a necessidade de um trabalho sistemático e permanente de reflexão lexical com os alunos, por meio do qual o professor partiria das próprias produções dos alunos e ampliaria para a observação e levantamento dos usos dos verbos dicendi, por exemplo, pelos autores lidos em sala de aula. Nas palavras de Costa Val (2001) aconteceria por meio da 'criação de oportunidades de exercício efetivo da leitura e da escrita e na orientação de reflexões sistemáticas sobre os recursos composicionais e expressivos mais usuais nos gêneros discursivos escritos', propiciando, assim o desenvolvimento e a ampliação do léxico dos alunos.

Instituição de Fomento: FAPEMIG (SHA-APQ-00320-08)
Palavras-chave: Léxico escrito, Produção de texto, Verbo dicendi.