62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 5. Enfermagem Pediátrica
CONSTRUÇÃO COLETIVA DA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA VISÃO DOS ENFERMEIROS
Aniete Cintia de Medeiros Guimarães 1
Wanessa Morais de Araújo 1
Isabelle Pinheiro de Macedo 1
Ana Dulce Batista dos Santos 1
Akemi Iwata Monteiro 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN
INTRODUÇÃO:
Conforme preconiza o Ministério da Saúde, o acompanhamento de crescimento e desenvolvimento da criança (CDC) é o eixo norteador das ações básicas em favor de sua saúde, favorecendo a redução da morbi-mortalidade infantil. Este acompanhamento deve ser realizado de forma integral, adotando o modelo de vigilância à saúde, no qual a criança é vista em seu contexto biopsicossocial. No entanto, ainda hoje, a assistência à criança tem sido feita de acordo com o modelo biologicista, com consultas individuais, tornando o atendimento fragmentado e com foco na doença. Portanto, faz-se necessária a reestruturação do modelo de atenção à saúde da criança, e uma alternativa possível seria a busca de um método que supra as necessidades da demanda a ser assistida nas Unidades de Saúde da Família (USF), desenvolvendo a criticidade e conscientização dos usuários destas unidades, com o intuito de que possam ser sujeitos, e não objetos, das atividades de atenção à saúde. Nesta perspectiva, sendo o enfermeiro o elemento-chave na atenção básica, o presente estudo tem como objetivo analisar a percepção destes profissionais diante da proposta de realização do acompanhamento coletivo do CDC como alternativa de mudança da prática assistencial à criança na atenção básica.
METODOLOGIA:
Estudo desenvolvido na Unidade de Saúde da Família de Cidade Nova (USFCN), situada na zona Oeste da cidade de Natal/RN. O método empregado foi a pesquisa-ação, favorecendo a discussão da prática assistencial, induzindo os profissionais a uma análise crítica e reflexiva, articulando, por sua vez, a ação com a pesquisa. A população foi constituída por quatro enfermeiras pertencentes às equipes de saúde da família da referida unidade. Após aprovação do comitê de ética em pesquisa (parecer nº201/2009) e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos sujeitos da pesquisa se deu a formação do grupo focal. No primeiro momento, foram desenvolvidas reuniões para discussão sobre a realidade atual da prática de acompanhamento do CDC na USFCN; em seguida, formaram-se os grupos focais para planejamento, execução e avaliação do acompanhamento coletivo do CDC. Neste, acompanhou-se cerca de 12 crianças de 0 a 2 meses de idade trazidas ao serviço por seus pais/responsáveis, sendo desenvolvido grupalmente o processo de acompanhamento da criança, ou seja, levantamento do histórico, exame físico, avaliação do crescimento e desenvolvimento, condutas, anotações na caderneta da criança e no prontuário, encaminhamentos. Os encontros foram gravados e os dados analisados posteriormente.
RESULTADOS:
Observou-se que o acompanhamento do CDC na USFCN acontece atualmente conforme a literatura, individualizado, pautado em queixas, onde o usuário é mero receptor de informações em saúde, limitando-se a responder aos questionamentos realizados pelos profissionais sobre as condições de saúde da criança. Visto a necessidade de mudança na prática assistencial, decidiu-se conjuntamente pelo desenvolvimento do acompanhamento coletivo da criança, visando tornar o seu cuidador co-participante na consulta. As dificuldades apresentadas referiram-se ao espaço físico, definição do cronograma e orçamento e organização do passo-a-passo do acompanhamento coletivo. O grupo se desenvolveu na sala de situação da USFCN envolvendo pais/cuidadores das crianças menores de 2 meses de idade, enfermeiros e pesquisadores. Foi apontada a necessidade de efetuar as medidas antropométricas antes de começar o grupo, realizar coletivamente o levantamento das condições de saúde-doença das crianças, a presença dos enfermeiros durante o grupo e sua pontualidade. Segundo as enfermeiras, as vantagens foram a diminuição do tempo de espera pelo atendimento, maior interação entre os clientes e emponderamento destes em relação aos marcos do crescimento e desenvolvimento das crianças e de seu processo saúde-doença.
CONCLUSÃO:
A partir da análise dos resultados obtidos, concluímos que esta estratégia é uma forma eficaz e criativa de incentivar a promoção à saúde e que há empenho por parte dos enfermeiros em adotar a técnica proposta. Além disso, a partir do momento que os usuários tornam-se sujeitos ativos do processo, a adesão e continuidade da assistência é favorecida. No contexto da enfermagem, que atualmente tem seu trabalho bastante voltado para práticas burocráticas, o grupo de atendimento permite que o enfermeiro atue de forma direta ao usuário e tenha suas ações voltadas à prevenção, promoção e reabilitação da saúde com uma visão holística centrada na assistência integral à saúde. No entanto, para que haja a adesão dos profissionais e comunidade com reestruturação do modelo de atenção básica, é necessária uma mudança de paradigma do processo de assistência tradicional e fragmentada para um contexto interdisciplinar e integral e isto requer novos estudos, novas experiências e um trabalho de educação continuada e permanente dos profissionais de saúde, da sociedade e das instituições de ensino, que devem voltar a formação profissional para este âmbito.
Instituição de Fomento: CNPQ
Palavras-chave: saúde da criança, enfermagem, estratégia saúde da família.