A busca pela superação do pensamento linear e fragmentação do saber pode ser constatada nas produções do conhecimento pelas Universidades e encontros internacionais para discutir a interdisciplinaridade. Essa preocupação, encontrada nos trabalhos da UNESCO desde 1976, assim como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) estende-se às propostas pedagógicas nas Redes Públicas de Ensino. Como por exemplo, na Proposta Pedagógica da Secretaria de Educação do Recife desde 1996, contexto no qual estamos investigando, as possibilidades e limites encontrados pelos professores em colocar em prática o conceito de interdisciplinaridade focalizando a didática no ensino de ciências naturais nos primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental entre 2007 e 2008. Para compreender e interpretar essas duas questões a pesquisa tem como objetivos identificar e analisar que pressupostos da abordagem sistêmica estão mais presentes na prática pedagógica dos professores em uma escola da referida Rede. Para a compreensão da complexidade das relações entre os diversos sistemas, tomamos como referências os trabalhos de Ludwig von Bertalanffy, Edgar Morin, Maria José Esteves de Vasconcelos, Pedro Demo, entre outros.

Neste estudo de caso foi elaborado um protocolo objetivando identificar a unidade de análise. A partir de um estudo piloto o desenho da pesquisa se configurou em três partes: entrada, processo e saída. A primeira teve como entrada três visitas ao Departamento responsável pelos primeiro e segundo ciclos para coletar dados. No processo identificamos escolas que trabalham com interdisciplinaridade. Dezoito apresentavam projetos interdisciplinares no ensino de ciências naturais. Dessas, três se destacaram pelo número de projetos informados. Como saída foi solicitado à diretora do Departamento a permissão para visitar as escolas. A entrada na segunda parte se verificou pelas visitas para confirmar o que estava no documento. Uma das escolas foi selecionada: a saída. Na terceira parte por solicitação da direção da escola, no bairro da Várzea, iniciou-se a pesquisa com os seis professores a partir da apresentação do projeto. Acordamos que acompanharia as turmas durante 2007 e 2008, no turno da manhã, focalizando o ensino de ciências naturais. Selecionamos os trabalhos de uma professora que se destacava e se disponibilizava em colaborar com a pesquisa, o que nos levou a definir a unidade de análise fundamentada nos trabalhos de Maria Cecília Souza de Minayo e Robert K Yin, entre outros.

É relevante salientar que inicialmente não nos foi concedido o documento onde se registrava a relação das escolas. O que nos levou a desenvolver um esquema tipo quadro para copiar os dados. Durante as visitas às três escolas, em duas delas conseguimos os projetos registrados no Departamento e os respectivos Projetos Político Pedagógicos. A escola selecionada apresentava uma situação precária para os objetivos da professora quanto ao ensino de ciências. Todavia isso não impediu que a professora elaborasse com os alunos um projeto horta em um pequeno espaço com apoio dos pais. Naquela ação foi possível perceber os pressupostos da abordagem sistêmica, como complementaridade e interdependência, unindo escola, família e outras instituições. Foi observado também um projeto didático sobre a Dengue com passeata ruas da localidade juntamente com as outras turmas. Como resultado interdisciplinar os alunos construíram textos que serviam para futuros estudos. Durante o processo os cinco professores não foram esquecidos, uma vez que a abordagem sistêmica não permite isolar um subsistema, reconhecendo que uma mudança em uma parte afeta todo o sistema. Tomamos a decisão de voltar ao Departamento para verificar o número de projetos de 2008 e verificamos que a relação estava bem menor.

A análise dos dados evidencia que a didática de projetos desenvolvida pelas docentes e particularmente pela professora que se colocou como colaboradora da pesquisa é uma das possibilidades para promover os conceitos que mais se evidenciaram da abordagem sistêmica: autonomia, disciplina responsabilidade e ética. E que apesar dos limites como espaço físico e meios de locomoção para atividades a professora conseguia pesquisar e refletir seu fazer pedagógico. Observamos também que durante o ano de 2008 o Departamento não havia recebido informação dos projetos da escola em estudo. Percebemos ainda que apesar de ter em sua Proposta Pedagógica a intenção de que as escolas trabalhem de forma interdisciplinar, notamos que não havia capacitação no ensino de ciências. Acreditamos que se a Rede Municipal de Ensino do Recife desenvolvesse junto às escolas a Abordagem Sistêmica possibilitaria uma melhor qualidade de ensino de ciências naturais e evidentemente na educação.