62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
EDUCAR PARA A SOLIDARIEDADE: UMA PERSPECTIVA PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR  
Elizabeth Jatobá Bezerra 1
Maria Salonilde Ferreira 2
1. Depto. de Educação Física, UFRN
2. Profa. Dra.Orientadora/ Depto. de Educação, UFRN
INTRODUÇÃO:
 

Este trabalho da continuidade à temática solidariedade que vem sendo investigada no âmbito da Educação Física como possibilidade de avançar em uma perspectiva de educação que considere o ser como totalidade, na qual a dimensão solidária seja privilegiada como componente da sua humanização. Objetivou investigar como o solidarizar-se se constrói corporalmente e manifesta-se na vivência do saber ser, conviver, conhecer, e fazer na perspectiva de uma Educação Física solidária. Como premissa afirmamos a proposta por Mariotti (2000), entendendo que a construção do saber solidarizar-se poderá se dá na dinâmica da corporeidade do olhar, do esperar, do dialogar, do amar e do abraçar, constituindo-se a base para o aprender a conhecer, fazer, conviver e ser (DELORS, 2000) solidário. Como potencial humano, a cultura pode e deve propiciar a emergência dessas capacidades, nas quais as relações amorosas (MATURANA, 2008) vão se solidificando na convivialidade humana, podendo a escola ser campo vivo para a elaboração desses saberes. E a Educação Física como disciplina que cuida e cultiva mais especificamente da corporeidade humana, a dinâmica corporal sendo mais evidenciada, pode contribuir com a formação de valores e atitudes éticas e morais que podem guiar a educação solidária.

 

METODOLOGIA:
 

Como metodologia optamos pela abordagem colaborativa na educação (DESGAGNÉ, 1998; MAGALHÃES, 2003). Essa compreende um duplo aspecto: um processo de questionamento e teorização da prática profissional, envolvendo pesquisador e professores. É uma metodologia dialética e dialógica a partir da co-construção de um projeto que tem como balisas a mediação e a reflexão (GHEDIN, 2002) O grupo colaborativo foi composto por duas professoras de Educação Física, no qual nos incluímos, e duas turmas de terceira série do ensino fundamental de uma Escola Municipal. Com o objetivo de captar diferentes ângulos e formas do objeto estudado nos apropriamos de múltiplos dispositivos mediadores, buscando a linguagem, a imagem e a escrita como estratégia de conhecimento da realidade. Entre esses, utilizamos o questionário, a entrevista temática, a narrativa de formação, a observação participante, o seminário de estudo reflexivo, a aula-laboratório, a filmagem e a sessão reflexiva. Esses são coerentes com as exigências dos referenciais teóricos e da abordagem colaborativa. Essa abordagem abrangeu, portanto, o duplo aspecto a que se propunha: perspectiva metodológica de investigação que se associa à formação continuada, trazendo influências diretas às nossas práticas pedagógicas.

RESULTADOS:
 

Os saberes que permeiam as ações pedagógicas nesse estudo apresentam uma perspectiva colaborativa solidária e tem suas raízes em uma metodologia problematizadora como possibilidade de resolução dos conflitos que vão surgindo nas relações interpessoais do cotidiano escolar. A professora age como elemento mediador desses conflitos, empregando o diálogo como fonte desencadeadora do processo reflexivo (FREIRE, 1976) e através de questionamentos mobilizadores, avança na compreensão, podendo surgir consensos partilhados sem a confrontação tão evidente nas práticas da Educação Física. A Educação Física escolar tem, portanto, a responsabilidade com a educação da dimensão espírito-corporal do ser pela condição de ter como corpo epistêmico a cultura do movimento, e por essa condição, deve ser potencializadora do aprimoramento das dimensões físicas, mentais, sociais e espirituais como ato de comprometimento com a construção histórica de um mundo mais harmonioso. E como expressão de amor (MATURANA, 2001) essa educação materializa-se nas interações humanas de um conhecer, ser, conviver e fazer colaborativo partilhado. É assim uma educação de corpo, alma e espírito, dimensionada para a vida, inacabada pela incompletude dos homens, mas comprometida com a humanização dos homens (FREIRE, 1987).

 

CONCLUSÃO:

A interação dos saberes que sustentam a perspectiva de uma educação solidária, o conhecer, o fazer, o ser e o conviver se fundamentam e se materializam na ação docente do cotidiano escolar, se alimentam do entrecruzamento entre as experiências vividas na formação profissional e pessoal, e se reestruturam na dinâmica da vida. São, portanto, sementes plantadas no coração e na razão dos alunos que precisam ser cultivadas para a emergência da solidariedade humana. A revelação de saberes corporais dos alunos na Educação Física escolar, transcende o simples ato de ver a prática pedagógica como parte de uma experiência empírica. Ela envolveu todo um processo criativo, reflexivo e crítico de um fazer pedagógico que associa a dimensão prática à investigativa, tendo como campo de análise o cotidiano escolar. Para isso a reflexão foi a estratégia metodológica que permitiu vislumbrar a possibilidade de concretização de uma educação transformadora na perspectivas da solidariedade como humanização do ser. O espaço criado para vivenciar esse processo, além de ampliar a nossa capacidade reflexiva, propiciou elementos para a apreensão da consciência dos nossos próprios atos em uma viagem introspectiva, permitindo avanços na compreensão da prática pedagógica presente e futura.

Palavras-chave: Educação, Solidariedade, Educação Física Escolar.