62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
FILOSOFIA, POLITICA E CINEMA: A "ESFERA PÚBLICA" NOS FILMES BRASILEIROS DE LONGA METRAGEM - UMA LEITURA FILOSÓFICA A PARTIR DE JÜRGEN HABERMAS
Francisco Alves Gomes 1
Paulo Sérgio Rodrigues da Silva 2
Francisco Marcos Mendes Nogueira 1
1. Universidade Federal de Roraima - UFRR
2. Universidade Virtual de Roraima - UNIVIRR
INTRODUÇÃO:
O projeto elaborou uma leitura filosófica dos principais filmes brasileiros dos últimos anos, em longa metragem, considerando o conceito de "Esfera Pública" instaurado por Jürgen Habermas na obra Mudança estrutural da esfera pública. O cinema sempre ficou a margem do processo de reflexão filosófica, poucos pensadores postularam enunciados reflexivos sobre os filmes e as possibilidades filosóficas. De forma mais incisiva Gilles Deleuze (1925-1995) estabeleceu algumas ponderações sobre as variáveis que o cinema ocupa no pensar filosófico. O cinema "produto da realidade" é também "objeto" do pensamento, assim como toda a realidade que nos cerca. O Projeto leu filosoficamente alguns filmes do cinema brasileiro considerando a categoria conceitual de "esfera pública" como referencial. Os filmes brasileiros como expressões culturais procuram retratar o cotidiano e suas contradições nas mais diversas esferas.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada consistiu num primeiro momento, na análise da obra filosófica Mudança estrutural da esfera pública, de Jürgen Habermas como ponto de partida para as demais etapas do projeto. Depois ocorreu a fase do levantamento de filmes que evidenciassem a presença-ausência da "Esfera Pública" nas locadoras de filmes na cidade de Boa Vista - Roraima. Neste momento a pesquisa incidiu na catalogação de filmes nacionais com abordagem política, pois estes foram coadunados com as reflexões surgidas durante o processo de discussão dispostos ao grupo de pesquisa, desencadeado a partir de reflexões em sala de aula. Em continuidade com as etapas anteriores foi realizado a apreciação crítica dos filmes sob a ótica do conceito de "esfera pública", procurando identificar como os filmes discutem os conteúdos relacionados a "razão pública" partindo da realidade brasileira.
RESULTADOS:
Ao identificar mais de 30 filmes que representam aspectos ligados a política brasileira em vários momentos, a reflexão proposta pelo projeto gerou a necessidade de se pensar de forma continuada as várias relações possíveis entre filosofia e outras artes, neste caso o filme. Os filmes referentes ao regime autoritário de 1964 mostram o sufocamento da "opinião pública" frente às atrocidades cometidas pelos poderes ditatoriais, destacam-se "O que é isso companheiro?"; "Pra Frente Brasil" entre outros. Já outros filmes mostram a ausência de Estado, enquanto "esfera pública", em vários contextos nacionais: "Os donos da terra"; "Terra estrangeira". Já alguns filmes trazem temáticas sobre a cultura política, instituições política e a relação política e poder. Partindo da análise dos filmes é interessante perceber que a ideia de "esfera pública" surge nos trabalhos do filosofo alemão Jürgen Habermas, especificamente na obra "Mudança estrutural da esfera pública". Por esfera pública Habermas entende como uma categoria social proveniente da sociedade burguesa frente as alterações do capitalismo em expansão. Observa-se que a instituição esfera pública tem uma tradição histórica fundada em dois pilares: a cultura grega, como espaço para as questões da polis e também foi presente na cultura romana. O filósofo alemão também observa que a esfera pública pode dispor de um espaço de "representatividade pública", em que as pessoas exerceriam seus atributos com a "retótica". Assim é possível fazer uma leitura dos filmes nacionais sobre política, pois trazem abordagem bastante crítica, que possibilitam reflexões com um olhar filosófico.
CONCLUSÃO:
Os filmes brasileiros de cunho político trazem discussões temáticas valiosíssimas para a reflexão filosófica. É possível pensar uma filosofia política a partir dos filmes nacionais, considerando que os filmes, em si, não trazem conceitualização rigorosa e sistemática da filosofia, mas ao contrário, é a filosofia que sistematiza e conceitua a imagem e o movimento dos filmes como compreensão filosófica. Os filmes como representações da realidade tendem a refletir o momento, seja o passado, o presente ou mesmo o futuro.
Palavras-chave: Política, Cinema, Estado.