62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
INTERRELAÇÕES ENTRE MÍDIA E CULTURA POPULAR: AS PASTORINHAS DE PARINTINS A PARTIR DA LÓGICA DAS MICRO E MACRO REDES COMUNICACIONAIS
Soriany Simas Neves 1, 2
Denize Piccolotto Carvalho Lévy 3
Dirceu Ribeiro Nogueira da Gama 4
1. Mestranda do Programa de Mestrado em Ciências da Comunicação - UFAM
2. Profa. Esp. do Curso de Comunicação Social - Jornalismo -UFAM/ICSEZ
3. Profa. Dra/Orientadora-Depto de Artes da Universidade Federal do Amazonas - UFAM
4. Prof. Dr./Co-Orientador - Inst. de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (UFAM)
INTRODUÇÃO:
As manifestações da cultura popular tradicionais, na contemporaneidade, têm passado por constantes metamorfoses em meio ao fenômeno da globalização e do amplo crescimento da indústria do entretenimento, fato esse que, de certo modo, tende a interferir no modo como elas se auto-concebem em termos sociais e comunicacionais. Nesse sentido, o estudo investigou a manifestação cultural das Pastorinhas de Parintins enquanto sistema folkcomunicacional com foco na interação entre micro e macro redes comunicacionais. A partir de teóricos clássicos como Guy Debord, Adorno e Horkermeir (1985), que descortinaram o fenômeno da cultura na era industrial, o estudo problematizou-a nas suas interfaces com os fenômenos comunicacionais com base numa perspectiva alternativa, concernente à Edgar Morin (1981) e Gilles Lipovetsky (1989), com vistas a entender o fenômeno da Folkcomunicação engendrado por Luís Beltrão (1980), estabelecendo uma interface entre essa teoria com os olhares de Marshall Mcluhan sobre a técnica e com os processos miméticos da linguagem concebidos pela filosofia de Walter Benjamin.
METODOLOGIA:

A investigação teve como objeto o Festival das Pastorinhas de Parintins, enquanto manifestação folclórica. Nesse sentido, utilizou-se dos princípios norteadores do método etnográfico de Malinowiski (1978) que subsidiou as incursões em campo durante 4 (quatro) meses e nos permitiu entender o contexto folkcomunicacional das Pastorinhas de Parintins.

Assim, o método da etnografia demonstrou ser apropriado, visto que proporcionou o acesso direto às normas, valores e critérios que norteiam o agir desses atores sociais enquanto elementos gestores dessa manifestação cultural popular tradicional.

A pesquisa compreendeu 3 etapas, a saber: descrição etnográfica dos ambientes dos grupos de Pastorinhas e dos eventos que envolveram os preparativos para a 10º edição Festival realizado em dezembro de 2009; descrição e análise de 3 (três) grupos de Pastorinhas que passam por transformações em seus componentes estruturais e análise de conteúdo das entrevistas com os participantes dos 3 (três) grupos de pastorinhas analisados.

Tais métodos serviram para investigar sobre como os grupos fazem representações da tecnologia, mídia e cultura popular, buscando compreender como as micro-redes dos grupos de Pastorinhas de Parintins concebem a relação entre tradição e inovação, ao interagirem com as macro-redes, na criação e formatação de suas performances.

 

 

RESULTADOS:

Os grupos de Pastorinhas que participam do festival têm objetivado provocar o efeito, por meio da sedução e personalização de suas performances, por outro lado, segundo os dados etnográficos notou-se que todos os objetos de culto das Pastorinhas estudadas, os seus agentes sociais, que a compõem tais como as mestras e mestres, a própria formatação do espetáculo estão numa atmosfera regida pelo fantástico, em que seus simbolismos dão sentido a manutenção da tradição.

No discurso dos atores sociais foram encontradas as seguintes categorias a saber: Mudança-evolução, Relativização do culto, Reafirmação do mito, Valorização da exposição e Festival como extensão da memória, da tradição.

Nas falas, o trânsito para as macro redes se faz necessário à medida que os grupos entendem que a técnica descortina o mundo, ela é em si o prolongamento do pensamento, da ação humana com maior efeito na contemporaneidade, o festival é enfim a materialização concreta do universal simbólico das micro redes de Pastorinhas sob novas relaborações que permitem aos atores sociais novas projeções e significações criativas dessa cultura popular na sociedade globalizada.

 

CONCLUSÃO:

O cenário teórico nos subsidiou reexaminar as transformações dos processos comunicacionais por quais passam as manifestações de cultura popular na sociedade globalizada que tem o campo midiático e o espetáculo como processos hegemônicos de difusão dos imaginários coletivos tomados na sua maioria como apropriações do capital, da técnica, esvaziados de cultura, da configuração irreconciliável com outras esferas, principalmente as de natureza da cultura popular ou folclóricas.

O conceito de indústria cultural a partir da ótica de Morin (1981) e Lipovetsky (1989), (2005) pareceu-nos chave por explicar como se engendra a cultura mass midiática na sua natureza como uma cultura voltada para o presente, alimentada pelo imaginário social do homem primitivo, que por sua vez é o mote para manter suas produções permanentemente revestidas de atualidade.

A pesquisa constatou que o Festival prolonga essa cultura popular no tempo e no espaço, rememora a tradição, traz reconhecimento para o grupo enquanto cultura popular. Por isso têm a necessidade de um encadeamento com a técnica para dar transcendência as suas simbologias.
Instituição de Fomento: Fundação de Amapro à Pesquisa do Estado do Amazonas
Palavras-chave: Folkcomunicação, Pastorinhas de Parintins, Indústria Cultural.