62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde
DESIGUALDADE, POBREZA E AIDS NO BRASIL E NA ÁFRICA DO SUL. DETERMINANTES E MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Carla Cassiane Constantino de Holanda 1
Taciana Maria da Silva 1
Ana Cristina de Souza Vieira 2
1. Depto. de Serviço Social, Universidade Federal de Pernambuco / UFPE
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Serviço Social / UFPE
INTRODUÇÃO:
Partindo do pressuposto de que entre Brasil e África do Sul existem semelhanças quanto à incidência da AIDS, o presente estudo visa analisar as ações governamentais de prevenção e tratamento, e dos impactos na população de tais países, buscando contribuir para a reflexão sobre a formulação de políticas públicas na garantia do direito à saúde, especificamente em relação à epidemia da Aids. Cabe salientar que em ambos os países, os quais estão entre os mais desiguais do mundo, os primeiros casos do vírus HIV foram registrados nos anos 1980 e tem havido um crescimento dos casos de aids entre as mulheres. Contudo, atualmente, o número de pessoas vivendo com HIV/Aids na África do Sul é aproximadamente 9,4 vezes maior que no Brasil fruto, dentre outros elementos, das diferentes respostas governamentais.
METODOLOGIA:
Para entender as especificidades e similaridades entre os dois países, foram realizados levantamento bibliográfico sobre as questões em estudo: desigualdades, pobreza, Aids; e levantamento de dados baseados no Boletim Epidemiológico 2008 e 2009, além de do site oficial do SUS (www.datasus.gov.br). Participamos de seminários sobre a temática, que contavam com palestrantes de ambos os países, apresentando dados sobre as diferentes realidades. Em alguns momentos foram feitas comparações entre dados da África do Sul e do estado de Pernambuco, pertencente a Região Nordeste do Brasil. Isso porque o estado apresenta IDH próximo ao do país sulafricano, 0,705 e 0,695, respectivamente.
RESULTADOS:
Com a introdução da terapia anti-retroviral (TARV) na rede pública do Brasil em 1996, se observou uma diminuição de quase 3.000 óbitos no ano posterior. Com a elaboração do Projeto Nascer, objetivando evitar ao máximo a transmissão da aids e da sífilis da mãe para o filho durante a gestação, pode-se perceber que em Pernambuco, houve a diminuição na taxa de transmissão vertical/ano a partir de 2003, ano posterior à implementação do projeto. Quanto à feminização da epidemia, a proporção entre homens e mulheres infectados diminuiu no Brasil. Se nos anos 1980 a razão era de 27 homens para cada mulher, atualmente, está em 1,4/1. Na África do Sul ocorre feminização semelhante que em parte pode ser explicada pelos padrões culturais, pois o machismo e a crença dos homens de que são fortes o suficiente para não adquirir a Aids, impulsiona o alastramento entre mulheres. Na África do Sul, a política de negação da Aids em seus primeiros anos, proporcionou o alastramento da infecção, pois somente em 2003 a TARV foi assumida pelo governo. Mas, dificuldades no acesso aos medicamento no serviço público têm resultado na desistência do tratamento, diminuindo assim o tempo de vida dos infectados. Em 2004, foram registrados 1500 óbitos/dia. Atualmente, 5,7 milhoes de sulafricanos vivem com HIV/Aids.
CONCLUSÃO:
Cada país tem sua própria articulação para enfrentar a epidemia da AIDS. Na África do Sul, os primeiros grupos atingidos pela AIDS também foram os homossexuais, na sua maioria composta por brancos, mas diferentemente do Brasil ─ onde movimentos GLBTs surgiram como responsáveis pelas primeiras articulações da sociedade civil com órgãos de saúde para produzir uma resposta governamental à AIDS ─ a militância homossexual sulafricana isolou os grupos contaminados retardando as primeiras iniciativas para combater a doença. Atualmente, o que se evidencia em ambos os países é o processo de feminização da Aids. O que pode ser explicado pela cultura machista presente em ambas as sociedades, atrelada à influência da religião católica, que tem interferido no uso de preservativo. Mas apesar de serem diferentes quanto ao grau dos índices de infecção por HIV/AIDS e desenvolverem várias políticas de saúde para enfrentar a epidemia, esses dois países tem uma proximidade na análise dos impactos da AIDS frente a situações de vulnerabilidade como a desigualdade de renda, gênero e raça e a pobreza. Essa epidemia deve ser enfrentada através de políticas públicas, para que haja a garantia de direitos, fazendo com que as vulnerabilidades apontadas sejam reduzidas.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Aids, Feminização, Movimentos sociais.