62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 3. Comunicação Visual
O POTENCIAL VISUAL DOS SINAIS NA COMUNICAÇÃO: A POESIA VISUAL E A ESCRITA LOGOGRÁFICA MARAJOARA  
Francisco das Chagas Camêlo 1, 2
Lourdes Malerba Gabrielli 2, 3
1. Universidade de São Paulo / USP
2. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP
3. Universidade Presbiteriana Mackenzie
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa tem por proposta estudar a comunicação verbo-visual em diferentes instâncias. A primeira delas, a poesia visual, apresenta diferentes usos dos signos verbal e visual na busca da construção do significado. Uma proposta de estudo e classificação dos formatos possíveis de interação verbo-visual foi levada a efeito na dissertação de mestrado da autora (L. Gabrielli), e posteriormente aplicada à poesia visual. A etapa do estudo em questão propõe-se a utilizar os mesmos critérios classificatórios na análise da escrita logográfica marajoara, tribo brasileira do Amazonas, a partir de material pesquisado pelo autor (F. Camêlo). A relevância do tema encontra-se no fato de que tal abordagem pretende aproximar ambas formas de comunicação, remetendo ainda aos pictogramas, recurso comunicacional contemporâneo.

METODOLOGIA:

A proposta classificatória utilizada foi realizada inicialmente com foco nas artes visuais, em seguida aplicada à poesia visual, à publicidade e acredita-se que possa ser aplicada a boa parte dos formatos comunicacionais intercódigos (no caso, verbal e visual). A estratégia em questão foi aplicar os critérios à escrita marajoara, aproximando duas formas de expressão de diferentes formatos e culturas.

RESULTADOS:

As três categorias anteriormente aplicadas à poesia visual mostram-se adequadas e levam a um esclarecedor estudo da escrita indígena. Em primeiro lugar, a predominante verbal na classificação original remete aos elementos logográficos simbólicos marajoara de cunho abstrato e arbitrário, como na escrita verbal. Em segundo lugar, os poemas que na classificação original apresentavam equivalência de importância  entre verbal e visual, neste caso apresentam-se em relação indicial, ou seja, são logogramas que deixam índices mas não chegam à representação direta. E por último, os anteriormente descritos poemas predominantemente visuais, aqui mostram-se como elementos icônicos na escrita logográfica indígena.

CONCLUSÃO:

A possível aproximação entre os universos comunicacionais leva a refletir sobre algumas questões importantes. A primeira é a similaridade no procedimento de uso dos códigos existentes entre momentos e culturas bastante distintas. Também somos levados a pensar que o teor da comunicação indígena, que pode ser de registro e/ou uso diário, apresenta forte apelo poético, o que reforça a idéia  de que o formato de registro adotado pelas sociedades orais ou semi-orais tende ao poético. Em terceiro lugar, o fato de que os marajoaras legaram uma profícua criação de sinais, da mesma forma que o fizeram os egípcios e os gregos com suas escritas hieroglíficas, respectivamente, nos séculos IX e VIII a.C. Também o fizeram os designers do século XX ao criar os pictogramas fartamente utilizados na sinalização urbana e arquitetônica.

Palavras-chave: Poesia verbo-visual, Escrita indígena marajoara, Comunicação visual.