62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
OS FUTUROS PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA E O ENSINO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS: PERSPECTIVAS DIDÁTICAS.
Bernadete Benetti 2, 1
1. Universidade Estadual Paulista / UNESP
2. CECEMCA UNESP
INTRODUÇÃO:
O processo educativo tem sido considerado importante para discussões envolvendo as relações entre a sociedade e o meio ambiente. A partir da década de 1960, em eventos promovidos pela ONU, discutiu-se a importância de atividades educativas relacionadas com a Temática Ambiental. Desde esse período, essa discussão ganhou espaço no sistema educacional. Apesar dos avanços curriculares e de políticas públicas constatam-se dificuldades em articular os conteúdos escolares tradicionalmente trabalhados com as questões ambientais. Diante desse contexto procurei estudar a perspectiva que apresenta uma nova geração de educadores quanto a trabalhos educativos envolvendo tais questões. Elegi como sujeitos de pesquisa professores em formação inicial de um curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, que freqüentavam a disciplina Prática de Ensino. A escolha ocorreu pelo fato de ser essa a disciplina em que, por meio dos estágios supervisionados, os alunos desenvolvem atividades nas escolas, elaboram planos de ensino e ministram aulas. Os dados obtidos permitiram construir diferentes grupos de análise. Um deles, que apresento neste trabalho, trata das perspectivas didáticas para o desenvolvimento de trabalhos com as questões ambientais.
METODOLOGIA:
A coleta de dados envolveu diferentes procedimentos, que visavam compreender se o futuro professor considera as questões ambientais em seus planos de ensino, bem como os processos de elaboração das atividades envolvendo essa temática. Tendo em vista essas preocupações e considerando a natureza qualitativa da pesquisa, foram utilizados: aplicação de questionário, coleta de documentos (planos de ensino e relatórios de estágio) e entrevistas semi-estruturadas. Com tal conjunto de técnicas, visei à aproximação e ao conhecimento do contexto de formação dos futuros professores, suas opiniões, pontos de vista, escolhas feitas na preparação das aulas, a elucidação de caminhos trilhados durante a prática educativa envolvendo as questões ambientais e, assim, o desvelamento de significados sob a óptica dos participantes. As entrevistas constituíram a principal fonte de dados da coleta e tiveram como objetivo aprofundar informações obtidas com os outros instrumentos de pesquisa. Durante um ano letivo foi acompanhada uma turma do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, compreendendo vinte e três alunos do referido curso, do período integral, organizados em grupos de estágio (em geral duplas).
RESULTADOS:
No grupo de análise aqui apresentado, reuni menções que os futuros professores fizeram quanto a caminhos didáticos utilizados para trabalhar a Temática Ambiental. Tais escolhas evidenciaram como esse conteúdo foi desenvolvido em sala de aula. Foi possível perceber a preocupação em organizar as aulas de forma a fugir dos modelos que consideravam tradicionais, com o objetivo de envolver o aluno nas atividades propostas. Foi notável a preocupação em não utilizar apenas aulas expositivas, entretanto foi este o procedimento mais indicado por todos os grupos de estágio. Os outros procedimentos utilizados foram: a) Debates e discussões [considerados interessantes por proporcionar momentos de reflexão e a participação dos alunos]; b) Construções de Modelos [foi realizada a construção de uma maquete com o tema impactos no Oceano]; c) Estudo Dirigido [com o uso de textos sobre biodiversidade e efeito estufa para discutir a ação antrópica]; d) Jogos e Simulações [relacionados com cadeias alimentares e enfocando a interrelação entre os seres vivos, bem como as alterações que podem ocorrer em função de um problema ambiental] e e) Trabalho de Campo [utilizando o espaço da própria escola ou lugares mais distantes, colocando os alunos em contato direto com o ambiente].
CONCLUSÃO:
Alguns futuros professores propuseram atividades interessantes, procurando a diversidade metodológica e a participação dos alunos. Contudo, nem sempre essa diversidade didática e a busca da participação dos alunos estiveram associadas a um distanciamento crítico ante os problemas ambientais estudados. Embora tivessem como preocupação o envolvimento dos alunos nas atividades desenvolvidas, percebeu-se que apenas a variação de procedimentos de ensino não foi suficiente para garantir espaços para diálogo e reflexão. Entendo que, no que se refere ao ensino, inclusive das questões ambientais, não basta fugir das aulas tradicionais se os procedimentos não contribuírem para a construção do conhecimento. Veja-se, por exemplo, que os meios de comunicação social vêm disseminando informações alarmistas de catástrofes ambientais que colocam em risco a sobrevivência dos seres vivos, como o aquecimento global. Tal acesso a informações não é suficiente para a compreensão da complexidade das questões ambientais, por causa da superficialidade com que são tratadas. Diante disso o ensino da Temática Ambiental exige mais do que mudança metodológica, sendo necessário um professor com conhecimento do conteúdo e capacidade de agir criativamente, capaz de proporcionar debates e reflexões.
Instituição de Fomento: CAPES / FUNDUNESP
Palavras-chave: Formação de Professores, Temática Ambiental, Perspectivas Didáticas.