62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
OCORRÊNCIA DA ESPÉCIE INVASORA Oreochromis niloticus EM UM RIO TROPICAL ALTAMENTE POLUÍDO
Mariana Lopes Accioly Lins 1
Vanessa Maria Silva Rodrigues 1
Manoela Nogueira Betto 1
Thâmara Cristina Araújo Silva 1
Simone Ferreira Teixeira 1, 2
1. Laboratório de Ecologia de Peixes Tropicais, ICB - UPE
2. Profa. Dra./Orientadora - Laboratório de Ecologia de Peixes Tropicais, ICB - UPE
INTRODUÇÃO:
A introdução de espécies não nativas representa uma das grandes ameaças à biodiversidade do planeta, sendo considerada por muitos autores como o principal problema na conservação de peixes de água doce (Cambray, 2003). Espécies invasoras podem causar degradação de habitats, hibridização e predação de espécies nativas, causando um declínio dessa população (Gozlan, 2008). A espécie invasora Oreochromis niloticus (Cichlidae) apresenta ampla distribuição em decorrência de sua introdução para fins de aqüicultura, é nativa do rio Nilo, dos lagos do Rift Valey, do oeste Africano e de Israel (Diegues, 2006). Quanto às exigências ambientais, as tilápias são tolerantes à alta salinidade e temperatura, a altos níveis de amônia, e à baixa concentração de oxigênio (Popma e Lovshin, 1996. Em alguns casos, introduções irregulares de peixes nem mesmo são consideradas ameaças devido à carência de estudos e à falta de divulgação de conhecimentos básicos sobre seus impactos e de fiscalização (Vitule et al, 2009). Desse modo, o objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência de Oreochromis niloticus e os possíveis efeitos desta espécie invasora na comunidade íctica do baixo rio Capibaribe, Recife, Pernambuco.
METODOLOGIA:
O rio Capibaribe tem sua nascente na serra do Jacarará, no município de Poção, no estado de Pernambuco, Brasil. O estudo foi desenvolvido no trecho do baixo rio Capibaribe situado no Recife, onde duas estações de amostragem foram determinadas: a Torre (08°02'75'' S e 34°54'18'' O) e a Ilha do Retiro (08°03'76'' S e 34°54'07'' O). Em cada uma destas estações, foram realizadas coletas bimestrais dos peixes, entre outubro de 2006 e dezembro de 2009, com rede de arrasto (20m de comprimento, 1,5m de altura, e malha entrenós adjacentes de 5 mm), sendo realizados dois arrastos em cada estação. Os meses de setembro a fevereiro foram considerados como período seco e, março a agosto, como chuvoso. Os peixes capturados foram acondicionados, fixados em formol a 10% e transportados ao laboratório, onde foram feitas a identificação e obtenção das medidas morfométricas comprimento (0,1mm) e peso (0,01g). Para averiguar se houve diferença no número de indivíduos entre os períodos seco e chuvoso, foi efetuado o teste de Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5% (Zar, 1996). A determinação da estrutura da população em comprimento foi analisada baseando-se na distribuição das freqüências relativas das classes de comprimento padrão.
RESULTADOS:
Foram capturados 832 exemplares de Oreochromis niloticus (tilápia-do-nilo), dos quais 814 (97,95%) foram capturados no período seco, sendo esta diferença significativa (KW=5,7551; p=0,0169), provavelmente devido o aumento das atividades alimentar e reprodutiva nos períodos mais quentes (Lowe-McConnell, 1999). A espécie apresentou uma amplitude por classe de comprimento padrão de 80 mm a 1300 mm (219,73 mm 83,83 mm) com distribuição unimodal à esquerda, sendo que 97,95% dos indivíduos pertencem a primeira e segunda classe. Desta forma, observa-se que a grande maioria da população de O. niloticus é composta por indivíduos jovens, uma vez que os adultos podem alcançar até 60,0 cm (FAO, 1992), indicando provavelmente, o investimento da espécie na renovação populacional, acarretando a competição por espaço e recursos alimentares (Pérez, 2004; Marinho et al, 2006). A espécie O. niloticus é tipicamente detritívora, territorialista e apresenta cuidado parental, competindo com as espécies nativas, prevalecendo sob as mesmas (Pérez, 2004; Vitule, 2008), sendo por isso considerada, assim como os demais ciclídeos, uma espécie com alto potencial invasor (Agostinho et al, 2007).
CONCLUSÃO:
O seguinte estudo mostra que a espécie invasora Oreochromis niloticus apresenta uma boa eficiência reprodutiva, por repor constantemente o estoque de alevinos no ambiente. Essa espécie representa, portanto, um importante agente potencializador de impacto sobre as populações nativas, provavelmente competindo por território e alimento, representando um risco para a ictiofauna do baixo rio Capibaribe. Também é imprescindível expor a urgência de estudos sobre espécies invasoras, uma vez que as conseqüências da introdução de uma espécie podem ser graves e irreversíveis. Portanto, faz-se necessário, dentre outras medidas, evitar eventuais escapes destes peixes dos sítios de cultivo das regiões adjacentes ao rio, de forma a não agravar os possíveis efeitos causados pela introdução de Oreochromis niloticus no baixo rio Capibaribe.
Palavras-chave: Rio Capibaribe, Espécie exótica, Pernambuco.