62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
ASSISTÊNCIA SOCIAL E RELIGIÃO CATÓLICA: CAMINHOS QUE SE CRUZAM?
Moíza Siberia Silva de Medeiros 1
Maria Helena de Paula Frota 2
1. Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade - MAPPS - UECE
2. Profa. Dra./ Orientadora - MAPPS - UECE
INTRODUÇÃO:

A assistência social no Brasil foi marcada historicamente pelas facetas da ajuda social, da benemerência, da filantropia e da caridade, quer no âmbito privado, quer no âmbito estatal, tendo sido a Igreja Católica a pioneira em sua sistematização e racionalização, contribuindo, inclusive, para a institucionalização da profissão de Serviço Social, a qual assumiria, ainda que não - exclusivamente, a direção das ações da assistência social, até então sem status de Política Pública. As transformações gestadas no seio da assistência social foram acompanhadas de outras tantas no âmbito institucional católico, no que concerne a setores mais progressivos da mesma. Isso teria garantido a prática social católica mesmo num período considerado laico e secular, onde a assistência social se instaura como Política Pública e Social. A discussão de uma suposta relação, na atualidade, da assistência social com a religião católica e vice-versa, se centra na necessidade de desvendar quais suas características e quais mecanismos engendra na operacionalização dessa política por instituições católicas. Objetiva-se: discutir acerca dessa relação a partir da realidade de uma Pastoral Social e interpretar o significado de assistência social para as assistentes sociais católicas da referida instituição.

METODOLOGIA:

Para o alcance dos objetivos traçados, empreendeu-se estudo bibliográfico e de campo. O primeiro foi embasado pelas discussões sobre as seguintes categorias: Assistência Social (Sposati, 1991 e 1995 e Mestriner, 2008), Religião (Geertz, 1989 e Weber, 2003), Religião Católica (Boff, 2004; Azevedo, 2004 e Sobrino, 2008) e Religião Católica, Serviço Social e Assistência Social (Zambon, 2004 e Simões Neto, 2005). O estudo de campo foi empreendido na Pastoral do Menor de Fortaleza, tendo sido utilizado como método a história oral e suas técnicas: história de vida e entrevista estruturada, para a captação dos discursos das três assistentes sociais católicas interlocutoras da pesquisa. Acredita-se que o método foi adequado porque permitiu que as mesmas expressassem, a partir de suas vivências na instituição, as interpretações sobre a religião que professam, na interface com sua atuação profissional. Foi empreendida, ainda, observação participante como técnica completar, onde as impressões da pesquisadora foram registradas em diário de campo. O método utilizado para a análise dos dados foi o hermenêutico, pois a proposta da pesquisa era interpretar as falas e gestos das profissionais, complementado pela técnica análise de conteúdo, embasada pelas categorias da pesquisa bibliográfica.

RESULTADOS:

Na Pastoral do Menor, onde atendem adolescentes em cumprimento de Liberdade Assistida, Serviço da Proteção Social Especial de Média Complexidade da Política Nacional de Assistência Social, as assistentes sociais acreditam que promovem os direitos de seus usuários porque além de acionarem os mecanismos e dispositivos legais que a assistência social oferece, através dos benefícios, serviços, programas e projetos, levam para os atendimentos aos usuários, seu afeto, seu cuidado, seu amor e sua fé. Não interpretam a assistência social apenas como campo de luta pela efetivação dos direitos sociais, pela emancipação dos usuários e pela cidadania, mas como momento de síntese entre o ser assistente social e o ser católica. A ideia de ajuda que permeia as falas e atitudes das assistentes sociais, na operacionalização da assistência social, ganha roupagem diferenciada daquela referente à sua gênese. Está associada ao estabelecimento de vínculos afetivos que contribuem para a efetivação dos encaminhamentos impetrados. Nas observações de campo não foi percebida nenhuma tentativa de doutrinar os usuários. Nos momentos nos quais as assistentes sociais acionaram valores religiosos no atendimento destes, deram a eles significado atrelado à ressignificação de sua trajetória de vida.

CONCLUSÃO:

Inferiu-se que as assistentes sociais entrevistadas acreditam que não é contraditório permitir que valores religiosos estejam a embasar sua atuação profissional, na operacionalização de uma política pública, posto que, para elas, os valores católicos de compaixão e ajuda, identificam-se com as bandeiras levantadas pela sua profissão e pela própria Política de Assistência Social, como a justiça social e a solidariedade. As mesmas apontam, em suas falas, que sua atuação profissional se tornou mais comprometida com o público alcançado pela assistência social, devido à mediação das convicções religiosas que trazem consigo. Desta feita, percebeu-se que religião católica e assistência social podem ter seus caminhos cruzados, quando profissionais dessa política a operacionalizam a partir da mediação de valores religiosos, pautados numa visão de religião identificada com a transformação social e individual, e não como reprodutora da ideologia religiosa utilitarista, pragmática e alienante. Isso porque estão sendo gestadas interpretações outras da religião, ocasionadas pela secularização, além de interpretações acerca do ethos do povo brasileiro que traz o sincretismo religioso como elemento constituinte de sua cultura e, portanto, embasa suas escolhas e práticas e o ethos profissional.

Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Assistência Social, Religião Católica, Serviço Social.