62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
TURISMO E SOCIEDADE: UM OLHAR SOBRE O MUNICÍPIO DE IPOJUCA - PE.
Rafael Ramos da Silva 1
Rodolfho de Aquino Lira 1
1. Departamento de Ciências Geográficas-DCG/Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
INTRODUÇÃO:
A pesquisa realizada diz respeito às transformações socioespaciais produzidas e reproduzidas em função da indústria do turismo, no litoral do município de Ipojuca que se apropriou de parte das suas praias com a instalação de resorts e grandes redes de hotéis. Como atrativos naturais de Ipojuca conta com belíssimas praias e piscinas naturais, além de elementos ligados à condição de infraestrutura direta ou indiretamente que diz respeito à questão do turismo, tais como: bares, restaurantes, porto (Suape), resorts e o fácil acesso ao aeroporto. Parte desses investimentos para a construção de resorts e hotéis são de capital internacional e exige uma mão-de-obra bastante qualificada por parte dos seus funcionários para ocupar as vagas geradas, fato esse que exclui a população local devido ao seu baixo nível de qualificação profissional. Assim torna-se evidente a realidade de exclusão e da falta de oportunidade de trabalho que sofre a população residente próxima a essas áreas de apropriação turística. Um dos agentes geradores dessa deformidade é o Estado que implanta no local infra-estrutura para atrair tais empreendimentos, mas não, prepara a população local para se inserir nesse contexto.
METODOLOGIA:
Em uma primeira fase da pesquisa foi realizado um levantamento e leitura bibliográfica acerca dos assuntos relacionados ao turismo, ao espaço geográfico e ao território, a partir de livros, revistas, monografias e dissertações. Num segundo momento do trabalho de gabinete, foram coletados dados estatísticos obtidos através do site do Governo do Estado de Pernambuco e do IBGE. Além das atividades de gabinete, de análise e interpretação do material coletado, foram realizadas visitas a campo para observação in loco, buscando fazer uma analogia do material que foi levantado com a realidade vivenciada na região. Para isso, foram realizadas entrevistas e registros em fotografias. Na etapa seguinte da pesquisa, antes mesmo da elaboração do documento final, os resultados foram discutidos com alunos da graduação do Curso de Licenciatura em Geografia. Tais debates objetivaram obter outros pontos de vistas que não fossem apenas os dos moradores das áreas que integram a rota turística.
RESULTADOS:
A área em estudo apresenta uma ótima infraestrutura, uma vez que, os grandes investidores procuram dinamizar e acomodar os turistas da melhor maneira possível, assim contando com técnicas e mecanismos de atividades pré-definidas. Para Ana Fani (1999), a indústria do turismo transforma tudo o que toca em artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer, ilusório, onde o espaço se transforma em cenário para o "espetáculo" para uma multidão amorfa mediante a criação de uma série de atividades que conduzem à passividade, produzindo apenas a ilusão da evasão, e, desse modo, o real é metamorfoseado, transfigurado, para seduzir e fascinar. Dessa forma, a principal ou talvez a mais importante lógica da proposta turística empregada nesta área que é o acúmulo de capital sem levar em consideração a responsabilidade com as populações residentes. Inicialmente, pensou-se que o investimento priorizado na infra-estrutura do local traria benefícios ao desenvolvimento socioespacial, este que teoricamente deveria estar relacionado com as necessidades reais dos moradores. Tal fato não ocorre na prática, pois a maior parte do desenvolvimento gerado é essencialmente econômico. A renda obtida através dessa movimentação de capital acaba ficando concentrada nas mãos dos grandes investidores.
CONCLUSÃO:
O turismo é capaz de modelar os territórios onde ele se instala, entretanto isso não significa que a população que reside em tais áreas turísticas venha a ser beneficiada socialmente com as possíveis modificações. Fato esse que foi comprovado na área em estudo, uma vez que, a maior parte da população local não se encontra inserida nas práticas implementadas nessas praias. Dessa forma é, perceptível que a organização espacial dos fluxos turísticos não consegue atingir os objetivos esperados no que diz respeito ao campo social que deveria englobar não só os turistas, mas também os que residem. Revela-se, dessa forma, que existe apenas o alcance do objetivo econômico que visa aumentar o fluxo de capital. A lógica ora instalada assume padrões mercantis internacionais, com preços e práticas proibitivas para os moradores, que ao longo do tempo acabam por ceder à especulação imobiliária e ao elevado custo de vida comum às regiões turistificadas. Uma realidade socioespacial pautada nesse modelo de expropriação capitalista da cultura, terra e mão-de-obra locais tende a cingir, no mais das vezes, uma tessitura espacial desigual e alienante.
Instituição de Fomento: Universidade Federal de Pernambuco
Palavras-chave: Sociedade, Turismo litorâneo, Apropriação espacial.