62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
MORTANDADE DE MORÉIAS VERDES (Gymnothorax funebris) NO LITORAL DO RN: FATORES ECOTOXICOLÓGICOS?
Virginia Eleonora Ferreira Batista 1
Guilherme Fulgêncio de Medeiros 1
Paulo Adelino de Medeiros 1
Sinara Cybelle Turíbio e Silva Nicodemo 1
Thiago Farias Nóbrega 1
Wanda C. A. de Melo Paes Barretto 1
1. Departamento de Oceanografia e Limnologia / UFRN
INTRODUÇÃO:
Em março deste ano no litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte, principalmente na praia Maracajaú, município de Maxaranguape, registrou-se uma alta mortandade de peixes, em sua grande maioria moréias verdes (Gymnothorax funebris). Surgiram várias hipóteses para explicar o fenômeno, como o aumento da temperatura da água do mar, envenenamento por algas marinhas tóxicas e contaminação por derramamento de óleo na costa devido à atividade petrolífera. Para avaliar o possível potencial tóxico da água daquele ambiente foram realizados testes ecotoxicológicos, que consistem na exposição de organismos-teste à determinada amostra. A toxicidade da amostra é avaliada de acordo com os efeitos causados aos organismos (GHERARDI & BERTOLETTI, 1990). Diante do exposto, o presente estudo objetivou a análise ecotoxicológica de amostras de água da praia de Maracajaú, através de teste de toxicidade crônica com o organismo Mysidopsis juniae (CRUSTACEA, MYSIDACEA).
METODOLOGIA:
As amostras foram coletadas com garrafa de van Dorn e acondicionadas em garrafas PET (2L) na praia de Maracajaú em duas estações oceanográficas, sendo uma onshore (P1) e a outra offshore (P2). As garrafas foram dispostas em isopor com gelo e levadas ao Laboratório de Ecotoxicologia (ECOTOX-Lab/DOL/UFRN), sendo mantidas sob refrigeração à 4°C até a realização dos testes. A metodologia empregada nos testes foi adaptada do "Short-term Methods for Estimating the Chronic Toxicity of Effluents and Receiving Waters to Marine and Estuarine Organisms - Mysid, Mysidopsis bahia, Survival, Growth, and Fecundity Test Method", Environmental Protection Agency - EPA, 2002. Filhotes de M. juniae com 6-7 dias de vida foram expostos às diferentes amostras, durante 7 dias. Os efeitos analisados foram sobrevivência e fecundidade (porcentagem de fêmeas com ovos no oviduto e/ou bolsa incubadora) (EPA, 2002). Os organismos utilizados nos testes crônicos foram do cultivo do ECOTOX/Lab/DOL/UFRN, que segue a metodologia para cultivo baseada na ABNT NBR 15308/2005. A classificação da toxicidade das amostras analisadas foi realizada pelo uso do método estatístico T de Student, para dados paramétricos, e Mann-Whitney, para os não-paramétricos (ABNT NBR 15308/2005), através do software Statistica 7.1.
RESULTADOS:
A análise da parametricidade (Teste de Shapiro-Wilk para a normalidade e de Levene, para a homocedasticidade), mostrou que em P1, a proporção de sobreviventes e de fêmeas ovadas e em P2, a proporção de fêmeas ovadas, são paramétricos, enquanto que a proporção de sobreviventes em P2 não o são, mesmo após transformação (raiz quadrada do arcoseno). Sem diluições, o teste foi classificado como qualitativo. Após análises estatísticas, as amostras foram consideradas NÃO TÓXICAS em todos os parâmetros analisados (sobrevivência: P1, p=1,000 e P2, p=1,000; fecundidade: P1, p=0,082; P2, p=0,512) rejeitando que a mortalidade tenha sido causada por substância tóxica presente na água. A EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN) informou que a temperatura da água do mar, do Pará até o Sul do Brasil, estava mais alta em até 2°C. Pesquisadores da UFRN observaram no mesmo período em setores da costa do Estado, temperaturas de 33ºC, contribuindo para redução dos níveis do O2 dissolvido. Para Böhlke (1978), as moréias são organismos sensíveis a baixos níveis de oxigênio na água (causado por altas temperaturas) e flutuações bruscas de temperatura. O fato das moréias habitarem cavidades rochosas e ter hábitos noturnos pode evidenciar o motivo pelo qual essa espécie foi a mais atingida.
CONCLUSÃO:
As amostras analisadas não apresentaram toxicidade ao M. juniae em nenhum dos parâmetros analisados (sobrevivência e fecundidade); A mortandade de moréias ocorrida no litoral oriental do RN pode ter sido causada por variáveis ambientais, como o aumento da temperatura.
Instituição de Fomento: IDEMA- Instituto de Desenvolvimento do Meio Ambiente
Palavras-chave: Ecotoxicologia, Mysidopsis juniae, Mortandade de peixes .